[035] A Escola Secundária Nº 1 do Seixal em 1989-90: as minhas turmas do 7º ano no final do 2º período

Memórias

Devo ter combinado tirar fotografias às minhas turmas do 7º ano na tarde de 27 de Março, uma 3ª feira, a poucos dias do final do 2º período.
Cada turma escolheu o lugar da Escola que mais lhe agradou para ser fotografada, e o mesmo fizeram alguns grupos que pretenderam fotografias adicionais.
Não me recordo por que associeí a cada uma das turmas um «nome forte» no verso da respectiva fotografia, mas decerto teve a ver com uma característica evidente da sua dinâmica colectiva:

O MAGNÍFICO 7º F:


O EXPLOSIVO 7º I:


Onde estavam a Carla, a Ana, a Sandra, a Élia, a Olga, a Sandra e a Cátia:

E ainda o Armando, o Luís, o Ezequiel, o Raúl e o Rui:

O ULTRADINÂMICO 7º H

Onde estavam o João, o Vítor, o Paulo, o Zé Carlos, o Ricardo e o Pedro:


Comentários

Ver velhas fotografias é agradável para quem esteve nelas implicado, ou como fotógrafo, ou como fotografado, ou até como mirone. Mas, para todos os outros, ver velhas fotografias pode limitar-se a uma curiosidade, a um enigma, ou, até, a um engano.
Tomando como exemplo as fotografias que relembrei acima: para mim que as tirei, voltar a ver estes breves momentos destas turmas e dos seus grupos, tanto traz lembranças, como traz interrogações.
Em primeiro lugar, as lembranças. Há nas poses instantâneas destas alunas e destes alunos uma mistura de «individualidade» e de «colectivo», que me recorda cada um(a) era e o estilo da sua turma ou do seu grupinho. Mas também há, como contexto, «o dia» em que todos estávamos, com o Sol, com a proximidade das férias da Páscoa e, claro, com «um sítio» da escola (um dos espaços abertos e dos recantos que esta malta já explorara nesta sua «outra casa»).
Depois, as interrogações. Como estaria a ser «este ano lectivo» para cada uma destas moças e para cada um destes moços? Como se acumularia isso com a memória das sucessivas «escolas por onde já tinham passado», sentir-se-iam a «crescer» ou a «minguar» como pessoas? Como iria ser o seu futuro, nesta «escola» e na sua «vida»?
E ainda posso acrescentar uma outra interrogação, mais perturbante, por se referir a «ausências»: que teria entretanto acontecido aos que já não podiam estar nestas fotografias, por terem abandonado a escola durante os meses anteriores?
Tenho de olhar assim para estas fotografias, se não me quero limitar a repetir (e mal) o que já passou. Mas, até que ponto é possível voltar a olhar para estas e outras imagens do passado de modo a que elas me tragam (e a quem mais as olhar) algo mais do que o momento e a circunstância em que foram tiradas?

Fontes: Pedro Esteves / Álbum de fotografias analógicas ESJA Dois (F31, F32, F34, F35, F36 e F36A)

[034] A Escola Secundária Nº 1 do Seixal em 1989-90: Março

Memórias

O Conselho Pedagógico atribuiu a coordenação da 1ª Semana da Escola a um Secretariado, composto pela Fátima Teixeira, pelo Henrique Oliveira, pelo José Fernando, pelo Luís Rosado, Santos, pela Paula Viegas e pela Stela (mais um membro da Comissão de Finalistas). Diversos grupos disciplinares nela integrado a sua própria «semana» nesta semana comum: Biologia, Educação Física, Filosofia, Física-Química, Francês, Geografia, História, Inglês, Mecanotecnia e Secretariado. Além de todos participarem nas outras facetas da sua concretização.
Foi previsto que a Educação Física organizasse torneios de Jogos Colectivos inter-turmas (2 dias) e de Jogos Tradicionais (1 dia), além de competições de Voleibol e de Futebol para professores (1 dia);
… que houvesse: uma Feira do Livro e do Disco, no Ginásio pequeno (com contribuições de Francês, Inglês, Matemática, Português e Religião e Moral); mostras de filmes (Religião e Moral e Videoteca); representação de uma peça de teatro («A Barca do Inferno»); inauguração da «Rádio SOS» e da «TV3D»; desfiles (de moda; de animais de estimação); visitas de estudo (Biologia, ao Jardim Zoológico, e Religião e Moral); exposições com trabalhos dos alunos (Inglês e Religião e Moral); acções de sensibilização, pelo Gabinete de Formação Vocacional; um quiosque para venda de doçaria britânica (Inglês); jogos e quebra-cabeças (Sala de Dinamização Cultural);
… e que fossem realizadas algumas sessões em salas de aula ou em oficina (um vulcão em actividade; um Renault 21 Turbo em demonstração; etc.).
O calendário era ambicioso: os dias 7, 8, 9 e 10 de Março (de 4ª feira a Sábado), começando com a inauguração e terminando com a distribuição de prémios (aos participantes nos Torneios Interturmas e nos Jogos Tradicionais, no Concurso Literário, nas eliminatórias das Olimpíadas de Matemática e no 2º Torneio de Xadrez).
A regra para a participação das turmas diurnas era simples: em cada dia, cada turma escolhia uma manhã ou uma tarde.

Eis duas fotografias que tirei no dia 8 de Março:



A promoção dos livros que o grupo de Matemática colocou à venda na Feira do Livro (pensando tanto em alunos como em professores) mereceu-me este cartaz:


No dia 14 de Março o Conselho Pedagógico, fazendo o balanço da «Semana», interrogou-se sobre como favorecer um “«salto qualitativo» das actividades da Escola”, através de “condições para a ultrapassagem pelos alunos do estádio elementar de participação (ver; curtir; descansar; prazer, já)”, o que também não estava “nada claro na preocupação dos docentes”. Quanto aos alunos da noite, acrescentou-se, “não manifestaram qualquer interesse” por estes quatro dias fora do habitual.

A Secção Pedagógica soube, na sua reunião de 21 de Março, que a Inspectora se queixara ao Conselho Directivo pelo tempo que levava a procurar o que pretendia nas actas dos Conselhos de Turma (CTs); e que o CD decidira que as actas deveriam ter todas a mesma estrutura, a fim de facilitar a sua consulta. Ora a Secção Pedagógica já o propusera, com o intuito de todos os CTs abordarem os temas essenciais, proposta que o CD não aceitara. Escrevi nas minhas notas que “a evolução dá-se em função dos interesses da Inspecção, o que significa: as tendências normalizantes estão determinando em força o que se passa nas Escolas.
Soube-se também nesta reunião que apenas o Projecto AlterrMATivas entregara ao CD o seu plano de trabalho (todos os projectos tinham sido solicitados a fazê-lo).

A Sala de Dinamização Cultural esteve activa nos três principais dias da Semana da Escola.
No dia 7 de Março realizou-se aí o 2º Pentatlo de Quebra-cabeças, com estrutura semelhante à do 1º; participaram 2 alunos do 9º ano, saindo vencedor o Sandro Matos.
No dia 8 foram experimentados o «Scrable» e o «Mathable», por quatro professores de Matemática (Manuela Fernandes, Mário Rosa, Pedro Esteves e Ricardo Mesquita) e pelo Sandro Matos.

E no dia 9 houve a Oficina de Jogos: o Ricardo Mesquita e o Pedro Esteves fabricaram «Geoplanos» e o Sandro Matos fabricou um «Tangram» e um «6 Cores (o entusiasmo deste aluno era tanto que, depois de terminadas as aulas do 2º período ainda fabricou um «Circuito Fechado», um «Soma-Cubo», um «Boxe», um «Isola» e um «Teeko»).

A partir de 12 de Março a Dona Carolina foi substituída pela Dona Francisca Mariana, dado o fim do contrato da primeira

Sem grande jeito antropológico, fiz algumas observações (não participantes) ao quotidiano desta Sala. Entre outras coisas, escrevi: “Há alunos que frequentam a Sala durante 1-2 horas, jogando, estudando; estes são normalmente calmos; os momentos piores vivem-se nos intervalos das aulas; começa por haver uma irrupção massiva de alunos, barulhentos e cheios de dinâmica; a Sala enche-se, há ruído, gritos e, nalgumas mesas, conflitos; parece que esta Sala é preferível à tradicional Sala de Convívio, vizinha, associada ao Bar”.

Comentários

Nos anos lectivos anteriores tinha sido identificado o problema provocado pelas muitas «semanas de disciplina» realizadas no 3º período, com o intuito de mostrarem as potencialidades do que leccionavam, mas também para que os professores em formação inicial tivessem mais uma oportunidade de «apresentar trabalho» aos seus avaliadores. A Semana da Escola parece ter sido uma solução para evitar o caos provocado na escola por essas desencontradas «semanas», integrando-as em «uma só semana». Assim, mais do que uma medida pensada com intuito «pedagógico», a opção pela Semana da Escola nasceu como uma medida «organizativa». No Conselho Pedagógica», como se viu, houve um sobressalto para se ir mais longe, mas sem muito sucesso.

A fotografia em que aparecem dois alunos sobre «andas» foi publicada na página 1 do nº 26 do jornal «Nova Maré» (datado de Maio de 1990).

A dúvida que formulei em relação ao que se passara no ano lectivo anterior (testemunho «030»: estaria o espírito desta Escola, no final da década de 1980, em transição do «colectivo» para o «individual»?), estava a ter, este ano, tanto uma resposta negativa (se considerarmos a realização da 1ª Semana da Escola), como afirmativa (se olharmos para o isolamento e para a não comunicação entre os diversos projectos pedagógicos).
No entanto, era necessário acrescentar a esta ambiguidade uma outra: o notável contraste entre a alegria expressa nas «festas de escola» e as pouco animadoras notícias acerca «trabalho lectivo».

Na Oficina de Jogos foi proposto um «contrato» aos alunos que quisessem fabricar jogos e quebra-cabeças: a Sala de Dinamização Cultural fornecia o material (cubos de madeira, placas de vinil, letras de decalque, películas transparentes, X-atos, cola, etc.) e os alunos fabricavam dois exemplares daquilo em que estavam interessados, um para quem fabricasse, outro para a Escola. Foi com esta condição que o Sandro Matos fabricou, com o meu apoio, alguns dos jogos e quebra-cabeças que depois seriam usados por dezenas de outros alunos na Sala de Dinamização Cultural.

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 62, 81, 100 e 104) / Álbum de fotografias analógicas ESJA Dois (F26, F29 e F30) / Envelope com exemplares do jornal «Nova Maré» (nº 26, pp. 1-2) / Arquivador digital Tese de Mestrado (4EXPR64)

[033] A Escola Secundária Nº 1 do Seixal em 1989-90: Janeiro e Fevereiro

Memórias

O 2º período lectivo decorreu de 3 Janeiro a 6 de Abril, com actividades de Carnaval em 23 de Fevereiro, reuniões intercalares em 5 e 6 de Março e Semana da Escola de 7 a 10 de Março.

O Grupo de Matemática reuniu logo no dia 3 de Janeiro.
O Grupo apreciou uma proposta sobre ferramentas e estratégias didácticas; inovação pedagógica, investigação e formação contínua; condições, horários e calendários de trabalho; iniciativas extracurriculares e colaborações dentro e fora da escola; e orçamento. Dos seus comentários resultaram contribuições para o «Projecto AlterMATivas», para o Centro Escolar Minerva (CEM) e para a Semana da Escola (incluindo 2ª eliminatória das Olimpíadas de Matemática; Feira do Livro; Dia dos Jogos, 2º Pentatlo de Quebra-cabeças e Oficina de Jogos).
Por decisão do Conselho Pedagógico, assim foi o grupo informado, cada professor participaria na Semana da Escola em 3 meios-dias (manhãs / tardes).


A ideia do Projecto AlterMATivas era a seguinte: em 1989-90 (o ano em que se estava), trabalhar-se-ia com o 7º ano, em 1990-91 com o 8º e o 10º, em 1991-92 com o 9º e o 11º e em 1992-93 com o 12º, se possível com continuidade de turmas. Os objectivos: “inovação de metodologias, produção de materiais, animação do colectivo de professores de Matemática da Escola, divulgação para o exterior, reflexão, eventualmente investigação”. E a estratégia pedagógica: “a «acção» do aluno como condição prévia” para “a passagem à «formulação» e «validação»”.
Era uma forma de não ficar “rotineiramente” à espera dos resultados da experimentação da “Reforma Curricular dos Ensino Básico e Secundário”, que o Ministério da Educação decidira fazer nalgumas escolas; seria, portanto, participar “como agente (e não como «meio») na Reforma Curricular”.

O Conselho Pedagógico decidiu, no dia 7 de Janeiro, que seriam realizadas reuniões intercalares nas turmas que tivessem tido no final do 1º período 50 % ou mais de alunos com pelo menos 3 negativas, nas turmas com pelo menos 3 disciplinas com 50 % ou mais negativas e naquelas cujo Director de Turma considerasse “necessário” realizá-la.
Na reunião do dia 10 de Janeiro, o Alfredo Monteiro informou ter sido eleito vereador na Câmara Municipal do Seixal, garantindo poder acumular esse cargo com a presidência do Conselho Directivo da Escola (segundo as minhas notas, escritas «ao vivo», ele acrescentou “ «continuar a ser professor desta Escola», mantendo o seu lugar no quadro”, pois iria “«transitoriamente»” desempenhar “outra tarefa”). Foram ainda referidos, nesta reunião, dois projectos pedagógicos, um disciplinar (da Matemática, o «AlterMATivas», no 7º ano), outro multidisciplinar (da Filosofia, com o tema «Amor e Sexualidade na Adolescência» e as colaborações de professores de História, Antropologia, Direito e Português); e o João Fernandes informou que havia equipas do Desporto Escolar no Basquetebol, no Voleibol e no Xadrez.


No dia 17 de Janeiro a Secção Pedagógica retomou o tema dos projectos pedagógicos, para esclarecer os que estavam a ser implementados e quais os apoios de que precisavam. Foram referidos: a «Comunicação na Escola» (a cargo do Sérgio Contreiras); o «AlterMATivas» no 7º ano e os jogos na Sala de Dinamização Cultural (a cargo do Pedro Esteves); a «Sexualidade e Amor na Adolescência» (a cargo da Fátima Teixeira e de outros professores); algumas experiências no 7º e 8º ano de Mecanotecnia; a Biblioteca (a cargo da Alice Santos); os projectos em curso no CEM; e os mini-planos de vários Directores de Turma.
Foi também interrogada a possível continuação destes projectos no ano seguinte para, se possível, os alargar e articular num projecto único, após um processo público de “discussão e decisão”, visando a transição para o “regime de turmas com Sala fixa”, o que permitiria nelas “constituir uma biblioteca, criar um jornal, etc.”
Foram ainda apreciadas as conclusões da análise de uma amostra das actas das reuniões intercalares e das reuniões de avaliação do 1º período: “no 7º e 8º anos os professores queixam-se muito frequentemente da «irrequietude, da «indisciplina», do «desinteresse» e da «falta de hábitos de trabalho» dos alunos; o «comportamento» e o «aproveitamento» são, na melhor das hipóteses, «razoáveis»; há, de tempos a tempos, referências a «interesse» e a «grande participação»; as turmas de repetentes são classificadas de «muito grandes» para se poder fazer um bom trabalho e os seus alunos como radicalmente «desinteressados» por disciplinas e conteúdos que já conhecem; os mini-planos a definir por altura das reuniões intercalares reduziram-se quase exclusivamente a propostas de visitas de estudo (C. Natureza ao Aquário Vasco da Gama, Praia das Avencas; e História ao Museu de Arqueologia, Monumentos funerários pré-históricos de Évora, Conímbriga), que provavelmente têm maior relação com o trabalho do grupo disciplinar do que com o trabalho do C. T.; nos restantes anos, e crescentemente à medida da aproximação do 12º ano, o «comportamento» torna-se «normal» ou deixa de ser referido e o «aproveitamento» torna-se «regular» ou implicitamente «fraco» (o que se mede pelo número de disciplinas que produzem declarações justificativas do insucesso); os inêxitos na aprendizagem são justificados por vezes pelo «desinteresse», mas quase sistematicamente pela «falta de hábitos de trabalho» e pelos «deficientes conhecimentos sobre os anos anteriores» ou pelas consequentes «dificuldades na compreensão e na reflexão»; quase não se notam traços de elaboração de mini-planos (apenas ou uma outra visita de estudo) e de estratégias (algumas referências a «aperfeiçoar os métodos de estudo»); das «intercalares» para a «avaliação» as observações feitas sobre o «comportamento» e «aproveitamento» são confirmadas e desaparecem as tentativas de definir uma intervenção do C. T.; ou porque não se consegue, ou porque não vale a pena.
Entre as questões que a Secção Pedagógica decidiu colocar aos Conselhos de Turma estavam estas duas: nos casos em que as turmas são irrequietas mas participativas, não se pode aproveitar para experimentar um tipo de trabalho diferente?será adequado «castigar» uma turma pela sua irrequietude cancelando-lhe uma visita de estudo?

Para o Carnaval, além da Gincana, estavam ainda previstos um Desfile de Máscaras e o Baile de Finalistas. Só me recordo da Gincana (que, de acordo com o calendarização do Conselho Pedagógico, deve ter sido concretizada no dia 23 de Fevereiro). Eis o meu desenho do «plano maquiavélico» que as equipas tinham de cumprir:


E eis a ficha usada para registar o desempenho de cada equipa:


Comentários

No final do ano lectivo registei que, no Projecto AlterMATivas, devido ao “excesso de trabalho”, apenas tinham sido produzidos materiais didácticos para a primeira parte do programa do 7º ano.

A descrição feita acima sobre este «projecto» baseia-se no esquema conceptual que eu andava a elaborar desde há algum tempo (e que referi no testemunho «016»), articulando as dialécticas da «acção», da «formulação» e da «validação».
Penso que as origens desse esquema remontam à minha Profissionalização em Exercício (que ocorreu em 1983-85, na Escola Secundária Poeta António Aleixo, em Portimão), tendo depois recebido contributos de artigos publicadas nas actas dos primeiros encontros organizados por professores de Matemática (quer na SPM, quer na APM). Em 1989-90 as teorias em que se baseavam esses contributos, elaboradas por investigadores exteriores à minha profissão, já não me diziam tanto como em meados da década de 1980, pois o meu próprio esquema conceptual tinha sido estabilizado.
A «dialéctica da acção» remetia para o papel activo que cada aluno, ou grupo de alunos, deveria ter na sua aprendizagem, fosse esta mais próxima da «redescoberta dos conhecimentos» (ao estilo do Piaget?) ou da «identificação com uma cultura» (ao estilo do Vigotsky?); cabia ao professor criar condições para que essa «acção» se verificasse.
A «dialéctica da formulação» remetia para a interpretação dos resultados da «acção», em termos de hipóteses, apoiadas logicamente nos «factos». Assim, a Matemática seria, tal como alguns a descreviam, uma ciência «quasi-experimental»; e o professor teria o papel de coordenador do debate sobre «cada hipótese» e entre as «diversas hipóteses»:
E a «dialéctica da validação» deveria concluir as anteriores dialécticas, estando o professor particularmente atento à constituição de um saber partilhado e à sua compatibilização com o saber da comunidade dos matemáticos.
Nos anos seguintes este esquema conceptual estava-me interiorizado, pelo que a minha actividade se dirigiu sobretudo para a produção de materiais didáticos adequados a esta forma de trabalhar. E isso aconteceria no seio de um «Projecto AlterMATivas» alargado a professores de Matemática de … outras escolas.

Outros professores teriam outros «esquemas conceptuais», cada qual traduzindo uma opção pedagógica, que tanto poderia ser mais consciente como mais implícita na prática de quem o seguia. Mas duvido que, qualquer que fosse esse esquema, ele se resumisse, ou até equivalesse, ao «comportamento» e «aproveitamento» que a Secção do Conselho Pedagógico (a que eu pertencia) adoptou como grelha para analisar as actas dos Conselhos de Turma.
Isso deve ter resultado de essas actas terem unanimemente usado estas duas categorias, uma herança nunca questionada de décadas de uso nas escolas de todo o país, quando o currículo era encarado como a «transmitir», o que exigia um bom «comportamento» por parte de quem o «recebia», de modo a que houvesse bom «aproveitamento».
Lembro-me de, muitos anos depois, num dos últimos Conselhos de Turma em que participei, em Junho de 2010, esta linguagem do «comportamento» / «aproveitamento» ainda ter sido usada. Pensando hoje nesta estranha (e chocante) sobrevivência, ponho a hipótese de ela ser possível devido às insuficiências da dinâmica dos professores, a quem cabia elaborar alternativas; insuficiências que foram agravadas pelas constantes (e nada felizes) mudanças promovidas pelo Ministério da Educação em nome da «reforma da educação» (voltarei mais tarde a esta questão).

Foram notórias as dificuldades da coordenação do Conselho Pedagógico (e de pelo menos uma das suas Secções), devido à vaga informação que os professores que tinham «projectos» lhe(s) davam.

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 62, 92, 93, 104 e 119)

[032] A Escola Secundária Nº 1 do Seixal em 1989-90: Novembro e Dezembro

Memórias


Quem participou na reunião do Conselho Pedagógico no dia 8 de Novembro soube que:
Uns dias antes se tinham reunido na Escola cerca de 150 a 200 Encarregados de Educação para apreciar os problemas das instalações;
No dia 22 de Novembro os Conselhos Directivos da AP12 (Área Pedagógica 12) se iriam reunir para tomar decisões sobre os problemas com os Funcionários das respectivas escolas (previa-se que no fim de Novembro sairiam 13 desta Escola e que no distrito de Setúbal sairiam cerca de 600 [mais tarde o ME autorizou a sua continuação por mais duas semanas]; entre as 28 escolas da AP12, só na Escola Secundária Anselmo de Andrade, na Escola Secundária da Amora e na Escola Secundária do Fogueteiro não se previa vir a ocorrer este problema);
No dia 15 de Dezembro se realizaria o Corta-Mato da Escola (estando previstas outras actividades em paralelo), havendo para tal interrupção total de aulas.

As reuniões intercalares realizaram-se nos dias 10 e 11 de Novembro.

Não me recordo se se concretizou a interrupção das aulas, por 2 dias, para discutir o Estatuto da Carreira Docente proposto pelo Ministério da Educação.

No dia 18 de Novembro, tal como no ano anterior, voltou a ser comemorado o Dia Mundial do Xadrez. Eis um dos cartazes que desenhei para este evento:


O 1º Torneio de Xadrez, disputado no ano anterior, tinha sido subdividido em dois níveis etários, «juvenis» (com 5 participantes, sendo vencedor o Alexandre Felício) e «juniores» (com 4 participantes, sendo vencedor o Mário Barros).
Este ano, nas tardes das Quartas-feiras do 1º período, de novo na Sala de Dinamização Cultural, disputou-se o 2º Torneio de Xadrez, com os mesmos dois níveis etários: era «juvenil» o aluno que tivesse menos de 16 anos no dia 1 de Setembro de 1989; e era «júnior» o que tivesse entre 16 e 20 anos nessa data.
Os resultados dos dois torneios foram registados no nº 1 do boletim «XADREZ notícias», afixado, em Março, na Sala de Dinamização Cultural:



No final do 1º período foi disputado o 1º Concurso de Quebra-cabeças, constituído por 5 provas (ver as diferenças; determinar a posição de números; resolver palavras cruzadas; encontrar a saída de um labirinto; colocar colunas na posição correcta). Participaram 5 alunos (que foram para a Sala de Dinamização Cultural com a intenção de jogar mas que, em alternativa, decidiram participar no concurso): um do 7º, dois do 8º, um do 9º e um do 10º. Os vencedores foram o Rui Pinela (9º ano) e o Luís Raimundo (8º ano), com 34 pontos em 35 possíveis, seguidos pelo Luís Leitão (10º ano), com 33 pontos.

Entretanto o Conselho Directivo aceitou para a Direcção de Instalações da Sala de Dinamização Cultural o José Fernando Santos e o Henrique Oliveira, ambos professores de Matemática.

O 1º período lectivo terminou no dia 15 de Dezembro.

Comentário

Não possuo qualquer informação sobre se foram disputados nesta Escola outros torneios de Xadrez antes destes dois, e se houve prática regular desta modalidade.

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 62, 65, 66, 80, 81 e 104)

[031] A Escola Secundária Nº 1 do Seixal em 1989-90: Setembro e Outubro

Memórias

Em 1989-90, com a eminente abertura de mais uma escola nas proximidades, a «Escola Secundária do Seixal» passou a ser oficialmente chamada «Escola Secundária Nº 1 do Seixal» (na altura coloquei o «Nº 1» no fim do nome; hoje prefiro colocá-lo no meio).

A primeira reunião do Conselho Pedagógico decorreu no dia 11 de Setembro.
Durante ela soube-se que:
O «Portugal dos Pequeninos» se iria manter, dado o Ministério da Educação ter imposto mais 6 turmas à Escola;
Haveria turmas de repetentes, no 7º e no 8º anos, com o máximo de 25 alunos (eu iria ser professor de uma dessas turmas);
Os Conselhos de Turma ir-se-iam reunir antes de as aulas começarem, sendo-lhes solicitada a elaboração de um mini-plano de trabalho para a respectiva turma;
Em Novembro, os Conselhos de Turma teriam reuniões intercalares, e novamente em Março;
A Semana da Escola seria realizada de 7 a 10 de Março, com a total interrupção das aulas;
A formação inicial seria acompanhada, a partir deste ano, pela Universidade Aberta, além das Escolas Superiores de Educação que já estavam envolvidas.
Para terminar esta primeira reunião, foram constituídas as «secções» que trabalhariam ao longo do ano (entre parêntesis, os grupos disciplinares dos respectivos membros):
Secção de Formação: Vítor Louro (2º A); Alice Santos, Lurdes Brites e Manuela Vieira (8º A / B); João Louro (10º A); Lurdes Martins (11º B); Palmira (Educação Física); e Alfredo Monteiro (Conselho Directivo);
Secção pedagógica: Pedro Esteves (1º); Vítor Campos (4º A); Gancho (6º); Óscar (7º); Sérgio Contreiras (8º A / B); José Calado (12º B); Gomes (Coordenador do Técnico-Profissional); Ana Chorincas (Coordenadora dos Directores de Turma);
Secção Cultural: Luís Rosado (2º B); Ana Cristina (5º); Julieta (9º); Fátima Teixeira (10º B); Paula Viegas (11º A); Francisco Sacramento (12º A); José Calqueiro (12º C); Emília (12º D); e Isabel (Religião e Moral).

No dia seguinte a Secção Pedagógica elaborou um guião para os primeiros Conselhos de Turma. Nele se recomendava atenção a: “nível de conhecimento dos alunos (ex.: o que se sabe dos anos anteriores? lançar um inquérito? etc.); nível de relação com o aluno (como garantir a convergência de atitudes dos professores? como estimular a participação dos alunos? etc.); nível de trabalho com o aluno (como rentabilizar as visitas de estudo? como explorar os recursos didácticos da Escola? etc.); nível da avaliação do aluno (que critérios» que linguagem una? que incentivo positivo à personalidade adulta em formação no adolescente? etc.).

Na primeira reunião do Grupo de Matemática foi lembrada a proposta de Plano de Actividades elaborada no final do ano anterior, baseada nas sugestões do grupo; nela figurava a intenção de se proceder a experiências pedagógicas no 7º ano (6 turmas), nas turmas de repetentes do 8º ano e na turma de manutenção mecânica do 10º ano (técnico-profissional); apenas eu decidi concretizá-la nas minhas turmas, incluindo nela o «trabalho de grupo»; o grupo foi ainda informado de que a sala onde reunia e onde tinha os materiais do grupo, situada no piso inferior do pavilhão C, fora atribuída aos funcionários auxiliares.
Os níveis lectivos foram assim distribuídos pelos «professores efectivos» do 1ºgrupo (mais tarde seriam colocados os «provisórios»):


As aulas começaram no dia 21 de Setembro.

Couberam-me três turmas do 7º ano, mais o 12º ano do Técnico-Profissional de Manutenção Mecânica (a turma com que trabalhava desde o 10º ano).
As do 7º ano eram o 7º F, que tinha como opções a Electrotecnia e a Mecanotecnia; o 7º H, com a Mecanotecnia e os Têxteis; e o 7º I, com as Práticas Administrativas e a Electrotecnia.
Eis os alunos destas três turmas:








E eis o meu horário (com aulas em salas situadas por quase toda a escola):


Desde o início deste ano a Sala de Dinamização Cultural teve uma funcionária própria, a Dona Carolina, que ai trabalhou até ao fim de Fevereiro.

As actividades de Xadrez foram integradas no Núcleo do Desporto Escolar (o que não se repetiria).

O Conselho Pedagógico voltou a reunir nos dias 4 e 11 de Outubro.
Esta última reunião mereceu-me 7 páginas A4 de notas manuscritas. Ao relê-las, senti o empenho de quase todos os membros do Conselho Pedagógico na organização «imediata» da escola (caso das regras para a Semana da Escola, que ficaram definidas durante este mês). Mas também senti como a luta pela organização da escola a «médio prazo» era inglória (caso da proposta do João Louro para que a “relação pedagógica” fosse o grande tema do Plano Anual de Actividades). E, sobretudo, senti a ausência de esforços para perspectivar a generalidade do trabalho na Escola a «longo prazo», que igualmente se verificou em relação à própria docência (os sindicatos dos professores estavam, por essa altura, a procurar melhorar a proposta do Ministério da Educação sobre o futuro Estatuto da Carreira Docente) e aos “riscos” a ela associados, “o menor dos quais será os professores servirem-se da Escola, em vez desta estar ao serviço dos alunos e da Comunidade”.
Uma das queixas expressas nestas reuniões: a falta de locais de trabalho para os professores.

Uma das críticas: a opacidade da distribuição do Orçamento (foi repetida em ocasiões posteriores durante este ano lectivo).
E uma das informações: o João Fernandes coordenaria este ano o Desporto Escolar.

Com data de 11 de Outubro, o Diário da República publicou o, onde se definia o Ordenamento Jurídico da Formação Inicial e Contínua dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário.

Comentários

Numa das reuniões do Conselho Pedagógico afirmei ter havido «falta de cuidado» na constituição das equipas de professores para as turmas de repetentes, sobretudo por ter contrastado com o «cuidado» havido na constituição da equipa de professores de uma turma que integrava filhos de diversos professores.

A decisão de propor a elaboração de um plano de trabalho para as turmas, tomada pelo Conselho Pedagógico, lembra-me o que aconteceu, mais de uma década depois, com a lei que obrigou à elaboração dos PCTs (Planos Curriculares de Turma).
Como se verá adiante, as coisas nem correram bem em 1989-90; mas também não iriam correr bem mais tarde. Por um lado, a «mera proposta»; por outro, a «estrita imposição». Foram dois exageros. Penso que seria preferível proceder a experiências voluntárias, através das quais equipas motivadas para isso identificariam o que era e o que não era útil e viável fazer, antes de pensar em qualquer tipo de «generalização».

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 62, 81, 104, 115, 116, 117 e 118)