[086] Uma aparente continuidade no dia-a-dia da José Afonso (1994-95)

Memórias

O ano lectivo de 1994-95 pareceu ser, na José Afonso, um ano de «continuidade».

Como consequência da reforma curricular, a primeira grande mobilização das atenções foi a concretização da  Área Escola. Os Conselhos de Turma reuniram nos primeiros dias de Outubro para recolher ideias e para tomar decisões. Uns tantos professores não se quiseram envolver, mas também não levantaram dificuldades; outros dispuseram-se a ajudar; e alguns procuraram levar o mais longe possível as ideias que foram surgindo.
Este não era apenas o panorama do apoio que a Área Escola estava a ter entre os professores, era também assim que as reformas estavam a ser por eles encaradas, atitude que se voltaria a repetir quase uma década depois, quando foi generalizada a reforma seguinte.

No testemunho «084» já referi algumas realizações que resultaram da mobilização dos alunos pela Área Escola. Houve uma outra, de que possuo algumas notas, que foi da iniciativa dos professores de Educação Física, a Marcha de Orientação.

Ela concretizou no dia 21 de Março, em terrenos não construídos situados a Poente do Fogueteiro. Coube-me acompanhar uma equipa do 9º D (terão sido constituídas várias equipas da mesma turma?). Duas das fotografias de que disponho (uma tirada por mim, outra pela Cecília Cumar) reconstituem quem fez parte dessa equipa:


Da esquerda para a direita:
Adilson Évora, Filipa Bento, Bruno Gonçalves, Cecília Cumar, Carlos Lopes e, de costas, Filipe Fernandes

Da esquerda para a direita:
atrás, Tiago Jorge, João Silva, Adilson Évora e Filipe Fernandes:
à frente, Carlos Lopes, Bruno Gonçalves, Vítor Évora, Pedro Esteves e Filipa Bento


Ainda no 1º período lectivo, em 24 de Outubro, antes que as condições meteorológicas se tornassem mais desfavoráveis, o Manuel Lima, professor na Escola Secundária de Corroios (hoje João de Barros), com o apoio organizativo do Ecomuseu Municipal do Seixal, orientou uma marcha pelas falésias da costa atlântica da Península de Setúbal, que designou por Da Praia da Foz ao Cabo Espichel.

Não se tratava de uma iniciativa da José Afonso, e incluía professores de várias escolas das proximidades; mas tinha algo de educacionalmente primaveril, ao não se subordinar ao formiguismo curricular e ao não se encerrar numa única comunidade escolar (participaram professore de várias escolas da região). Por isso, também esta iniciativa parecia evidenciar uma «continuidade» em relação ao espírito renovador que nascera em muitas escolas no ano de 1974.
O grupo de professores da José Afonso que quis respirar o ar fresco desta iniciativa está documentado nestas duas fotografias:

A meio da caminhada, um pequeno descanso
Da esquerda para a direita, Pedro Esteves, Luísa Gracioso, Fernanda Andrade,
Maria do Céu Vigário, João Fernandes e Alice Santos

Já perto do Cabo Espichel, o começo da observação das pegadas de Dinossauros

Os animadores dos projectos da escola parece não terem tido disponibilidade para encarar conjuntamente os seus desafios organizacionais logo no início do ano, pois apenas possuo notas ou documentos referentes a duas reuniões, uma no dia 11 de Janeiro e outra, na Ludoteca, no dia 28 de Abril. Deduzo desses apoios à minha memória que estariam em marcha, ou em gestação, os seguintes projectos:
* Área da Comunicação e Difusão (que incluía a criação de um Centro de Documentação e o prosseguimento do Jornal de Parede, do Jornal «Nova Maré», da Rádio «SOS» e da Televisão «TV3D»), a dinamizar ou já dinamizados pela Alice Santos, pela Célia Pereira, pela Luísa Gracioso e pelo Sérgio Contreiras.
* Clube de Ciências, dinamizado pela Elvira Calapés [este clube estava à procura de uma sala e, por isso, com dificuldade em iniciar trabalhos; e colocava a possibilidade de estabelecer interacções com outros projectos das áreas cirntíficas].
* Clube de Secretariado, dinamizado pelo José Calqueiro, pela Júlia Alagoa e pela Rosalina Severino [destinado ao apoio do tratamento gráfico dos trabalhos dos alunos].
* Desporto Escolar, coordenado pelo João Fernandes [projecto autónomo, com legislação e dinâmicas próprias].
* Grupo de Teatro, ainda a criar (a partir dos alunos que frequentavam um Curso de Expressão Dramática em Almada) e a dinamizar pela Ana Carla Ferreira.
* Intercultura, dinamizado pela Rosário Vilaça [e que previa o intercâmbio com escolas de outras regiões].
* Ludoteca, dinamizada pelo Pedro Esteves, este ano com a colaboração do José Calado e do Manuel Neto (e já referida no testemunho «085») [em contacto com cerca de 40 escolas do país com projectos semelhantes].
* Meteor, dinamizado pela Paula Viegas e pelo Vítor Campos [que colocaram a possibilidade de estabelecer interacções com o Clube de Ciências].
* Ocupação em Férias, dinamizado pela Augusta Cabral (assistente social), pela Fernanda Andrade (psicóloga) e pela Cristina Martins (professora de Educação Física) [o programa destas «férias», elaborado durante o 3º período, começava com um Pique-nique (no dia 10 de Julho), a que se seguiam um Acampamento na Quinta d`Aiana (durante três dias e, de 17 de Julho a 31 de Agosto) e vinte e quatro manhãs (ficando sempre de fora as Sextas-feiras e os fins-de-semana) preenchidas com Artesanato, Canoagem, Cinema, Desporto, Horticultura, Ludoteca e (por 10 vezes!) idas à Praia].
* Sala de Têxteis, dinamizada pela Maria do Céu Vigário [que se queixou de os alunos «difíceis», a que este espaço se destinava, não se mostrarem interessados nele].

A Semana da Escola, concretizada no final do ano lectivo, não deixou marcas nos meus registos, excepto a sessão sobre Magias com Matemática (já referida no testemunho «084»), que usufruiu do trabalho feito com as minhas turmas na Área Escola.


Comentários

As mudanças mais frequentes acontecem quase sem darmos conta do que esteve na sua origem: há pequenas alterações à nossa volta, que se vão juntando e alterando a organização das coisas e da nossa consciência. Por isso, anos depois, espantados, exclamamos: «Ah! Isto antes não era assim ...»

Tenho vindo a acompanhar as alterações que foram sendo provocadas pela reforma curricular da década de 90, conhecida por ser «do Roberto Carneiro». As que destaquei em testemunhos anteriores tinham a ver com a «formação contínua». Neste testemunho chamo a atenção para as consequências da Área Escola. Esta passou a exigir uma atenção muito forte (penso que a foi perdendo nos anos seguintes, ao se rotinizar), o que tanto pode ter sido positivo (mobilização, mais ou menos livre, de grupos de professores), como negativo (tendência para a indiferença, na medida em que exigia esforços de coordenação que nem sempre eram bem-vindos).
Mas o contexto profissional em que ocorreram estas alterações veio reforçar as suas potenciais consequências negativas, dado não ter havido um debate entre os professores acerca do que é a sua profissão nem sobre o tipo de relações que deveriam estabelecer com os seus parceiros educativos.
Este é um tema a desenvolver gradualmente.

Uma parte dos «projectos de escola» ainda estava a tentar encontrar condições para uma longa existência (dinamizadores, infraestruturas, apoios); e cada um deles expressava a iniciativa de um «grupo», ou até de «um só dinamizador»; definitivamente, já não existia (ou nunca existiu) o «ambiente de escola» de que ouvi falar quando cheguei à «Secundária do Seixal».
Este mistério também me levará a regressar a este tema.


Fontes: Pedro Esteves / Arquivador de documentos analógicos ESJA Seis (Doc.s 65, 81, 87 e 108) / Álbuns de fotografias analógicas ESJA Sete (foto de origem não identificada; e F112: 14) e Oito (F115: 4 e 12)

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