[085] A Ludoteca e o Laboratório de Matemática da José Afonso em 1994-95

Memórias

A separação entre a Ludoteca e o Laboratório de Matemática da José Afonso foi lenta. Durante anos foram uma só entidade situada no mesmo espaço, a Sala de Dinamização Cultural, no Pavilhão D. E em 1994-95 ainda era assim. Mas no final deste ano, quando o Conselho Directivo começou a preparar 1995-96 e me solicitou a apresentação de projectos de trabalho distintos para a «ludoteca» e para o «laboratório», deu-se um passo importante na direcção de cada um destes espaços seguir o seu caminho.
Encabeçando a respectiva folhinha A4 em que redigi cada um desses projectos encontrava-se o logotipo que antecipava essa separação:


A Ludoteca tivera em 1993-94 um ano difícil: a «Sala» foi parcialmente ocupada como Sala de Estudo (apesar do grande número de horas atribuído a professores para a animarem ela foi muito pouco frequentada) e dispôs durante muito pouco tempo do apoio de uma funcionária.
Em 1994-95 a localização da Sala de Estudos foi mudada para a área da Biblioteca e a Dona Emília, que estava na Papelaria, veio trabalhar em exclusivo para a Ludoteca. Tive  uma primeira conversa conversa com ela no dia 22 de Setembro, explicando-lhe como este espaço funcionava e quais as regras de alguns dos seus jogos e quebra-cabeças.

Houve ainda um outro tipo de apoio para a Ludoteca durante este ano. Como havia professores com horas lectivas não atribuídas, dois deles, da disciplina de Educação Tecnológica, por gosto próprio (e com o aval do Conselho Directivo), vieram dar uma ajuda a este espaço. Um deles foi o José Calado. Conversei com ele no dia 28 de Setembro; duas das horas não lectivas que lhe lhe tinham sido atribuídas foram localizadas na 4ª feira à tarde, pensando no apoio à realização dos campeonatos, e outras duas horas foram destinadas à produção de novos materiais, de acordo com o projecto que ele formulasse.

Na primeira tarde de Quarta-feira em que trabalhei na Ludoteca estive por lá durante 4 horas. Durante as três primeiras houve alunos a jogar e comecei a inscrevê-los para os Campeonatos de Escola. Um deles, o José Manuel Silvestre, que participara nas actividades do Verão anterior, solicitou alguns dos jogos que conhecera naquela altura (a Batalha Naval, o Dara, o Scrabble) e ainda experimentou outros.

A partir do dia 12 de Outubro passou a estar afixada, à entrada da Sala de Dinamização Cultural, sob a original identificação desta, uma tira de cartolina com  a palavra «LUDOTECA».
E, pouco a pouco os expositores de cortiça da sala foram organizados e identificados conforme aquilo q ue se destinavam: «JOGOS», «PUZZLES», «NOTÍCIAS e CAMPEONATOS» e «DESTAQUE DA SEMANA». E sobre uma das mesas, à semelhança do que a minha colega Ana Chorincas fizera na Sala de Estudo, foram colocados, à disposição de quem os quisesse consultar, dossiês com informações sobre jogos e quebra-cabeças.

As actividades específicas começaram depois.
A comemoração do Dia Mundial do Xadrez decorreu no dia 21 de Novembro (deveria ser no dia 19, mas, por razão que não registei, foi adiada, talvez por se tratar de um fim-de-semana,). Das 10h30 às 12h30 a Sala esteve bastante animada. Estiveram disponíveis o Maxi e o Minixadrez e eu andei envolvido numa simultânea contra uns 10 a 15 alunos, alguns dos quais por 2 ou 3 vezes; apenas perdi, como era de esperar, contra o José Carlos Lopes.

Os Campeontos de Escola iniciaram-se no dia 30 de Novembro. 56 dos 95 alunos que se haviam inscrito participaram nesta primeira sessão. A Sala esteve cheia, com 20 tabuleiros distribuídos pelas mesas: 6 para Xadrez, 4 para Damas, 4 para Abalone, 4 para Quatro em Linha e 1 para Othelo.
E assim prosseguiram, ao longo do resto do 1º e do 2º período. Os resultados finais foram os seguintes:



No dia  26 de Abril ainda foram realizadas «finalíssimas» (não me recordo da razão pela qual o foram - talvez a intenção tivesse sido a preparação para o Interescolas), sem distinção de escalões. Em Xadrez (8 participantes, todos contra todos, a uma volta), os três primeiros classificados foram o Olavo Sousa, o Anselmo Lourenço e o Peter Sousa. Em Damas (6 participantes, todos contra todos, a duas voltas), o pódio foi constituído por José Silvestre, Pedro Gonçalves e Peter Sousa. E em Quatro em Linha (6 participantes, todos contra todos, a duas voltas), destacaram-se o Emanuel Pedrosa, o João Cabral e o Peter Sousa.

O outro professor de Educação Tecnológica que veio dar apoio à Ludoteca foi o Manuel Neto, penso que com duas horas não lectivas atribuídas. Conversámos no dia 5 de Dezembro.
Se o Calado deu um grande impulso à produção de novos materiais (Soma Cubo, Torre de Hanói, Solitário, Pentaminós; e ainda três magníficos tabuleiros, dois para o Ouri e um para as Damas Chinesas), o Neto deu- em relação à manutenção (envernizamentos) e à recuperação (bases para os tabuleiros de Quatro em Linha) dos materiais existentes e que começavam a precisar de cuidados.

Para a festa de Natal da escola, o Conselho Directivo solicitou o empréstimo de tabuleiros de Quatro em Linha e de Damas e ainda de 2 Soma-Cubo. Penso que se destinaram a entreter os filhos e as filhas dos funcionários e dos professores que participaram no evento.

Para a fabricação de pelo menos um dos tabuleiros de Ouri, o Calado teve a ajuda do aluno Pedro Manuel Gonçalves, do 8º H. O destino inicial deste tabuleiro foi a Sala de Professores, onde ele esteve durrante uma semana, só então seguindo para a Ludoteca.
Aliás, pela Sala de Professores passaram, ao longo do ano, pelo menos o Ouri, o Soma-Cubo, o Solitário, o Isola, o Leopardos e Vacas, a Torre de Hanói e o Abalone.

No ano seguinte, 1995-96, estiveram lá em permanência um tabuleiro de Abalone, um de Damas, um de Quatro em Linha e outro de Xadrez. Alguns professores revelam-se jogadores incondicionais.
Tenho pena de não me recordar do ambiente que esta exuberância de meios lúdicos provocou ...

Talvez devido aos novos exemplares fabricados, os puzzles estiveram em alta na Ludoteca, tendo sido entregues soluções para vários deles, até para o Solitário (tinham sido fabricadas folhas próprias de registo para cada um deles).

Depois de o responsável pela Ludoteca ter perdido o seu primeiro jogo de Abalone contra um dos seus alunos, o Ricardo Barros, este o seu colega de turma Peter Sousa explicaram-me um pouco em que bases assentavam a sua estratégia para jogar este jogo; apenas registei que procuravam construir com as suas bolas uma figura, a que chamavam «rosa», cujos alinhamentos para resistir aos ataques das bolas contrárias só apresentava vulnerabilidades (menos de 3 bolas alinhadas) em dois dos seus extremos:

A «rosa»


Registei as suas explicações, mas nunca tive tempo para discutir com eles outras possíveis soluções, em função da articulação das dinâmicas de «ataque» e «defesa» (deveria se também essa a minha função como coordenador da Ludoteca).
Este património reflexivo era, aliás, extensível a quase todos os outros jogos. Por exemplo, no Quatro em Linha os alunos que eram bons jogadores ganhavam facilmente aos professores inexperientes, pois tinham apurado esquemas mentais de jogo que esses professores não tinham.

A Celeste Ganço, professora na Escola preparatória da Amora, solicitou à Ludoteca da José Afonso (talvez no início do 2º período) o empréstimo de tabuleiros para os seus Campeonatos de Escola: 4 Quatro em Linha, 4 Abalone e 6 Damas.

Algures durante o ano as turmas de Comunicação, no âmbito das suas actividades curriculares, iniciaram a publicitação da Ludoteca (através de um jornal de parede e do jornal «Nova Maré»), prosseguindo-o durante este ano e ainda em 1995-96.

Mas nem tudo correu bem ao longo do ano: a seguir ao Carnaval, a Sala de Dinamização Cultural esteve fechada durante algumas semanas, por falta de funcionários no Pavilhão D, só reabrindo no dia 15 de Maio, após ser colocada uma nova funcionária neste pavilhão (permitindo o regresso da Dª Emília à Ludoteca). A Dª Emília, entrevistada pelo Nova Maré, refere este encerramento como único problema da Ludoteca ao longo deste ano (mas também acrescentou que desejaria ver por lá ainda mais alunos ...)

O Laboratório de Matemática foi crescendo discretamente à sombra da Ludoteca. Aliás, uma parte das actividades desta poderia ser encarada como tendo características laboratoriais (tanto nos jogos como nos quebra-cabeças), como já ficou sugerido acima a propósito do jogo do Abalone.

Este ano a componente laboratorial da Sala de Dinamização Cultural continuou a ser a de «fornecer materiais» a quem deles necessitasse. Foi o caso da Ana Almeida e do João Rodrigues, professores de Matemática na José Afonso, que de vez em quando solicitaram materiais do Laboratório: geoplanos, calculadoras, pavimentações. Foram ainda os casos de outros professores ou professoras que solicitaram materiais para fins privados (mas louvavelmente didácticos): o Soma-Cubo para, durante as férias do Natal, «desenvolver» cognitivamente um filho; alguns sólidos geométricos para, num fim de semana, esclarecer com a filha o que é uma «face», uma «aresta» e um «vértice».

Mas também foram realizadas algumas actividades «laboratoriais» na própria Sala: os alunos de uma Escola Primária, colegas da filha de uma docente da José Afonso, vieram com a sua professora participar numa pequena demonstração de Magias com Matemática, feitas pelo responsável pela Sala (os materiais usados por este foram os produzidos para a apresentação referida no testemunho anterior); e as 100tésimas aulas da Ana Almeida com as suas turmas foram passadas na Sala de Dinamização Cultural.

No final deste ano lectivo, ficou-se a saber que, em 1995-96, a Ana Almeida e a Clorinda Agostinho iriam ter, cada uma, 2 horas não lectivas semanais para trabalharem no Laboratório. Ficaram no ar algumas ideias: o apoio à concretização dos currículos e à Área Escola, os concurso de problemas e a criação de um Clube de Matemática.


Comentários

No blogue «Cosmovivências» (https://cosmovivencias.blogspot.com/ ) já foram publicadas algumas mensagens que ajudam a perceber a ligação entre os jogos e os quebra-cabeças com a experimentação matemática, e portanto com o conceito de Laboratório (pesquisar as etiquetas «jogo» e «quebra-cabeças»).

Em 1994-95 a Sala de Dinamização Cultural da José Afonso talvez tenha atingido o seu grau mais elevado de inclusão na vida da escola (pela diversidade dos apoios que teve; pela variedade dos interessados no que ela proporcionava).
Seria importante estudar estes processos de interligação (que envolvem pessoas, espaços e projectos), para entender o que eles conseguem, e porquê, e o que eles começam a perder, e porquê. Terão de ser os próprios professores a fazer um tal estudo. Por isso me preocupo com estas descrições, por vezes um tanto pormenorizadas (e podê-lo-iam ser ainda mais), por isso continuarei a descrever o que se passou com a «Ludoteca» e o «Laboratório» da José Afonso.


Fontes: Pedro Esteves / Arquivador de documentos analógicos ESJA Seis (Doc.s 65, 66, 76, 98 e 101) / Arquivador digital Tese de Mestrado (ficheiro 4EXPR64) / Pasta do jornal analógico «Nova Maré» (Nº 35)

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