[028] Primeiras dúvidas sobre os ventos de mudança que sopravam no sistema educativo

Memórias

No testemunho «019» designei as intenções reformistas do Ministério da Educação como «ventos de mudança».

Durante o ano lectivo de 1988-89 foi publicado o Decreto-Lei nº 43/89, de 3 de Fevereiro, através do qual foi estabelecido o Regime Jurídico da Autonomia das Escolas Oficiais do Ensino Básico e Secundário, segundo o qual cada escola deveria elaborar um Projecto Educativo.

A construção dos novos currículos ainda estava em curso.

Mas os professores não estavam satisfeitos com as suas condições do seu trabalho. Daí este cartoon, que desenhei e afixei na Sala de Professores em 1988 (o original tinha algumas cores, feitas com marcadores):


Comentários

O conjunto das reformas que estava em curso começou pela «organização» das escolas e só muito mais tarde chegou aos «currículos». Este padrão ir-se-ia repetir uma década mais tarde, com a «revisão» e a «reorganização» curriculares, que foi antecedida por uma profunda reorientação da organização das escolas.

É também de notar que, há exactamente 35 anos, a «dignificação dos professores» já era por estes reclamada.

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 62 e 89)

[027] As fotografias das turmas do 9º ano no final de 1988-89

Memórias

Para «colorir» as fotografias das turmas divulgadas no testemunho «022», eis as da malta do 9º M no final do ano lectivo (16 de Junho de 1989), nas escadas da antiga entrada da escola (ao fundo vêem-se as janelas da Sala de Professores):

Eis a malta do 9º P, no mesmo dia, em pleno campo de futebol do Pavilhão D (lá ao fundo vê-se o Portugal dos Pequeninos):


E eis a malta do 9º Q, ainda no mesmo dia, de costas para a antiga entrada da escola (ao fundo vêem-se as instalações da empresa A. Silva & Silva), primeiro só a turma …


… depois com o seu professor de Matemática (estamos de frente para a entrada da escola):


Comentários

Os finais de ano lectivo são sempre uma libertação para os alunos (cansaço das aulas; necessidade de férias) e uma saudade para os professores (irão perder de vista muitos daqueles alunos).

Comprei a máquina fotográfica analógica que tirou estas fotografias, uma Canonet, em 1977. Foi com ela que fui documentando algumas das actividades que organizei ou em que participei como professor.

Fontes: Pedro Esteves / Álbum de fotografias analógicas ESJA Um 
(F12, F13, F15 e F18)

[026] Mais actividades extracurriculares, no Seixal, em 1988-89

Memórias

Lembro-me bem da Gincana de Carnaval que se disputou no início de 1989. Foi preparada por um pequeno grupo de professores (além de mim, recordo-me da Alice Santos) e concretizada no dia 2 de Fevereiro. O desenho explicativo (deve ter sido afixado e, claro, entregue às equipas concorrentes) saiu-me assim:

As equipas eram compostas por 5 membros, como se nota no desenho, e tinham de mostrar as suas destrezas rodeadas por um público em delírio. E o local onde tinham de mostrar as suas habilidades situava-se entre o Pavilhão da Mecânica (à esquerda na fotografia seguinte) e o Pavilhão B (à direita), mais ou menos onde tinha estado o pavilhão de madeira desactivado um ou dois anos antes (rectângulo visível no chão):


Segundo as notas que conservei, além desta iniciativa pontual houve quatro centros de actividades extracurriculares com expressão ao longo deste ano: as da Sala de Dinamização Cultural [ver testemunho «025»], as do Centro Escolar de Informática (CEI), as do Clube de Ciências Sociais e as da Videoteca. Entre os coordenadores do CEI, no ano anterior e neste ano, estiveram o Alfredo Massapina, o Alfredo Monteiro, o Arlindo Carvalho, a Madalena Ferreira e o Olímpio Pereira.

Comentários

Soube-se, através do Conselho Pedagógico, que o jornal Nova Maré obtivera o 3º prémio no Concurso Nacional de Jornais Escolares.

Devido às lutas sindicais dos professores, os Jogos Sem Carteiras e a Escola Aberta deste ano foram cancelados, bem como a Semana de Interrupção de Aulas prevista para o 3º período.

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 62, 91 e 104) / Álbum de fotografias analógicas ESJA Um (F17)

[025] O início das actividades na Sala de Dinamização Cultural da Escola Secundária do Seixal

Memórias

A entrada do já desaparecido Pavilhão D da Escola Secundária do Seixal dava para um corredor ladeado por salas de aula. Este chegava a um segundo corredor, que lhe era perpendicular e que também dava acesso a salas de aula. Quer seguíssemos para a esquerda quer para a direita deste novo corredor, as primeiras portas davam para salas enormes. A da direita tinha escrito à entrada: Sala de Dinamização Cultural.
Foi esta a sala que solicitei ao Conselho Directivo, no início de 1988-89, quando decidi realizar uma pequena exposição, intitulada A Outra Face da Matemática, destinada à recepção dos novos alunos.

Quase nada recordo dessa exposição. Mas sei que a partir dela a Sala de Dinamização Cultural ficou à minha responsabilidade. Ao longo do ano, ela foi frequentada por alunos interessados em jogos, puzzles e problemas, para o que lá coloquei o material adequado.
No dia 19 de Novembro, um Sábado (havia aulas aos Sábados) foi aí comemorado, pela 1ª vez nesta escola, o Dia Mundial do Xadrez, que incluiu uma simultânea e uma exposição. Desenhei assim o respectivo cartaz:

Foi também nela que se realizou um Torneio de Xadrez e a fase local das Olimpíadas Nacionais de Matemática (nenhum aluno desta escola passou à 2ª fase). Penso que foram as primeiras vezes que estas iniciativas ocorreram nesta escola.

No final do ano, precisamente em 10 de Junho de 1989, uma equipa da escola (não estou certo de ter sido só uma equipa) participou no Iº Torneio de Xadrez Jovem (dos concelhos de Almada e do Seixal), disputado no Monte da Caparica Atlético Clube (entre os seus dinamizadores estavam o Henrique Cardoso e o Fernando Pena, além de mim, todos animadores do Xadrez distrital).
Na primeira das seguintes fotografias vêem-se três membros da equipa da escola (o moço louro e as duas moças) a jogar uma das partidas (o tabuleiro vazio sugere que: ou terá faltado um dos membros de uma das equipas; ou essa partida já teria acabado no momentos em que a fotografia foi tirada):


E na segunda das fotografias vê-se, de pé, um dos organizadores do torneio (pai de uma das actuais professoras na Escola Secundária José Afonso):


Comentários

É-me hoje difícil imaginar como me foi possível, no mesmo ano lectivo, coordenar o grupo de Matemática, participar no Conselho Pedagógico e, ainda, iniciar as actividades na Sala de Dinamização Cultural. Foi há 35 anos …

Não me recordo se foi a minha iniciativa que levou o Conselho Directivo a atribuir-me a responsabilidade pela Sala de Dinamização Cultural, ou se fui eu a propô-lo.

O nome dado a esta sala vinha do tempo em que ela fazia parte da Escola Preparatória do Vale da Romeira. Em 1988-89, em diversos documentos da escola, enquadrei, as actividades que se realizavam nesta sala no Clube Galileu de Ciência e no Grupo de Xadrez, sem com isso pôr em causa o significado da placa identificadora herdada (e que permaneceu na porta até ao último dia do Pavilhão D).
Só alguns anos depois, quando o meu grupo de professores criou um Laboratório de Matemática, a sala de Dinamização Cultural passou a ser designada por Ludoteca.

No Dia Mundial do Xadrez eu assegurei a simultânea e a exposição deveria ser a mesma que eu já apresentara na Siderurgia.

O Dia Mundial do Xadrez foi alterado, alguns anos mais tarde, sob o patrocínio das Nações Unidas, para 20 de Julho.

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 62, 63, 64 e 104) / 
Álbum de fotografias analógicas ESJA Um (F3 e F6) / Arquivador digital Tese de Mestrado (4EXPR64)

[024] O Grupo de Matemática da Escola Secundária do Seixal em 1988-89

Memórias

Pode ter sido em 1988-89 que eu fiz este desenho:


Nele, o professor, impassível, de costas para a turma, diz, enquanto vai trabalhando no quadro: «O professor deve estar sempre atento a tudo quanto se passa no mundo. Até porque o que vos é ensinado é para ser útil no momento em que entrarem em contacto com a realidade. Todos os modelos teóricos que desenvolvemos nas aulas são simulações de situações que encontrarão no futuro. Estas são, pois, ocasiões únicas, irrepetíveis, que vocês não podem desaproveitar, a não ser que […]»

Não sei se afixei este desenho na escola, tal como fiz com outros desenhos, antes e depois deste. Ou se o guardei apenas para mim. Mas é muito possível que ele tenha a ver com a minha principal preocupação em 1988-90, o ensino da Matemática, dado ter sido eleito responsável pela coordenação do respectivo grupo de docentes.
Ao iniciar a minha preparação para estes dois anos escrevi o seguinte:
Assim como a aceitação da candidatura para o C. D. de 1986-88 se subordinou ao objectivo «ver como se consegue dinamizar pedagogicamente a Escola a partir da sua gestão global», também o trabalho como delegado do grupo de Matemática e o paralelo trabalho de representante deste no Conselho Pedagógico se subordinam ao objectivo «ver como são as potencialidades renovadoras dos professores da Escola, nos níveis pedagógico e cultural».

A resposta a esta nova questão (objectivo) é tanto mais importante quanto a relativa à anterior questão ficou em suspenso; de facto a experiência de trabalho no C. D. não foi concludente, parecendo que o êxito dependerá de uma melhor equipa, da capacidade de iniciativa da Escola e da empatia entre a equipa de gestão e a Escola.»”
A esta luz, estes quatro anos, 1986-90, foram anos de aprendizagem por meio da experimentação.

Eis os membros do grupo de Matemática, em 1988.89, que consegui identificar através das minhas notas: Alípio Garcez; Ana Chorincas (tinha sido a anterior delegada do grupo); Ana Pontes; Carlos Lourenço; Clorinda Agostinho; Isabel Pereira; Ismael; J. Vilão; Ludgero; M. Valdevino; Olímpio Pereira; e Pedro Esteves.

O grupo de Matemática tinha uma Sala de Trabalho, pelo menos desde o ano anterior, onde reunia e guardava algumas das suas ferramentas. Situava-se no piso inferior do pavilhão C, onde dois ou três anos depois os Funcionários da escola passaram a ter a sua própria sala. Em mais do que uma reunião levantámos a questão de, a termos esse espaço, os outros grupos também deveriam ter o seu, pois isso apenas acontecia com alguns.
Foi nessa sala que reunimos por 15 vezes neste ano, sendo a primeira em 12 de Setembro e a última em 6 de Julho.
Com base num «plano de trabalho» inicial, que incluía algumas chamadas de atenção para a conveniência da sua «perspectivação plurianual», fomos abordando ao longo do ano os «horários» (como tinham surgido muitas reclamações, propusemos algumas regras a serem tidas em conta no ano seguinte), o «planeamento lectivo» (onde por diversas vezes tentámos encaixar preocupações com a «inovação pedagógica»), as «condições lectivas» (como as salas de aula e os materiais de que necessitávamos para leccionar), a «avaliação dos alunos» e, talvez muito em particular, a «formação contínua» (deveria ser «obrigatória» ou voluntária»; como poderíamos obter «computadores»; que interessados havia num encontro sobre «História da Matemática» e numa série de conversas intituladas «A reforma curricular em acção»; etc.).
Uma iniciativa de que me lembro bem não ter tido continuidade foi a de lançarmos, entre nós, mensalmente, de um problema de Matemática; recordo-me de um desses problemas, talvez o primeiro, ter abordado o funcionamento do «Círculo Trigonométrico».

Tínhamos, na nossa Sala de Trabalho, um expositor para nosso uso. O modo como os seus espaços foram organizados, com títulos manuscritos em papel ou cartolina, dá uma ideia dos temas para os quais tínhamos expectativas de ele vir a ser útil:



De modo a preparar os temas «pedagógicos» que pretendíamos «debater e decidir» na reunião de 8 de Março foram antecipadamente divulgadas as seguintes questões: “que relação pode ter a Matemática com as outras disciplinas baseadas na experiência? será melhor os alunos «sentirem» certos conceitos matemáticos primeiro noutras disciplinas e só depois na nossa, ou o contrário? será possível na Matemática utilizarmos situações concretas doutras disciplinas que depois abstratizamos? porque é que os nossos alunos sabem certas coisas em Matemática e quando lhas pedem em situações doutras disciplinas ficam incapazes de responder? que conversas e trabalhos podemos / devemos ter com os colegas das outras disciplinas que se servem da Matemática? é de lançar uma campanha do tipo «ao menos saiba fazer contas»? e quanto ao 3º período, vamos tentar resolver o essencial até ao fim de Maio, deixando Junho para a recuperação dos alunos mais fracos? se isso for possível, que farão nessa altura os que já garantiram a «passagem de ano» a Matemática? entretanto, que tipo de análise fazer aos mapas com as percentagens de negativas por turmas dos unificados?
Em 8 de Março apenas conseguimos abordar as questões mais imediatas: a Ordem de Trabalhos era demasiado grande …

Comentários

O desenho retrata uma sala do Pavilhão D: lembro-me bem das mesas dos alunos e da sua disposição na sala; do estrado e da mesa do professor; do quadro e do suporte para o giz e o apagador; da lâmpada que iluminava o trabalho do professor; dos estores, alguns bem desarranjados; e do Sol que, a dada hora, aparecia a Poente (eu tinha aulas à tarde).
Acho que, inconscientemente, me representei como o aluno que acaba de lançar pelos ares um avião de papel: estaria a convencer-me a mim próprio de que os professores nunca devem deixar de procurar perceber o que se passa na cabeça dos seus alunos?

Nunca foi resolvido o problema da atribuição de um espaço de trabalho próprio a cada grupo disciplinar, embora alguns sempre tenham usufruído de um. E no entanto, para se constituírem comunidades (em função do trabalho cooperativo), esses espaços são decisivos.

O encontro sobre «História da Matemática» decorreu de 8 a 11 de Novembro, organizado pela Sociedade Portuguesa de Matemática. E as conversas sobre «A reforma curricular em acção» decorreram já em 1989, organizadas por um grupo de sócios da recentemente criada Associação de Professores de Matemática.

Antes do fim de Julho, o Plano de Trabalho para 1989-90 já estava pronto para ser debatido em Setembro. Nele já não refiro a Escola Secundária do Seixal, mas sim a Escola Secundária do Seixal, nº 1.

Tal como nos anos anteriores, em relação ao Conselho Directivo, este primeiro ano como delegado do grupo de Matemática não foi «concludente» …

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 94 e 104)

[023] O Conselho Pedagógico da Escola Secundária do Seixal em 1988-89

Memórias

A minha passagem pelo Conselho Directivo tinha-me deixado com vontade de intervir na vida global da escola, pelo que me candidatei a Delegado do Grupo de Matemática para 1988-90 e, por esta via, a membro do Conselho Pedagógico (CP). O Grupo aceitou-me como Delegado.
Iria ser a única vez em que fiz parte de um Conselho Pedagógico, tal como, nos dois anos anteriores, 1986-88, tinha sido a única vez em que fiz parte de um Conselho Directivo (ou de um dos seus equivalentes posteriores).

No primeiro destes dois anos o Conselho Pedagógico reuniu por 19 vezes, a primeira em 8 de Setembro e a última em 11 de Julho. Quem presidiu a essas reuniões foi o Alfredo Monteiro, pois, segundo a lei, tal função incumbia ao presidente do Conselho Directivo.
Na primeira reunião, a Ana Chorincas, um outro membro do Grupo de Matemática, foi eleita para coordenar os Directores de Turma. E foram constituídas três secções do CP, a da «Formação», a «Cultural» e a «Pedagógica».

Entre as incumbências da Secção de Formação incluía-se o acompanhamento da formação inicial, na qual estavam envolvidos, nesse ano, dois professores do 5º grupo, um do 8º B e um do 12º D. Tratava-se da chamada Formação em Exercício, que durava dois anos. A minha formação inicial também decorrera nesta modalidade, meia década atrás (1983-85), sempre numa escola, onde acumulava o «ensinar» com o «aprender»; mas, agora, mudadas as regras, o primeiro ano decorria numa ESE, para que os formandos «aprendessem» Ciências da Educação, e só o segundo ano decorria numa escola, para que o formando «ensinasse», com o apoio de um professor local (que, para esse efeito, tinha reservadas duas horas no seu horário semanal).

Estes formandos faziam parte de uma enorme mudança que estava a ocorrer no corpo docente da escola: no grupo 4º A tínhamos dez novos professores (em 12); no 10º A tínhamos nove (também em 12), “todos decepcionados por não entrarem em estágio”, escrevi eu nas minhas notas às reuniões do CP; no 10º B toda a gente estava pela primeira vez na escola; e no 11º A só tinham permanecido na escola dois dos professores do ano anterior.
Além de se tratar de uma mudança profunda, também foi, parcialmente, tardia: em meados de Novembro alguns dos horários que correspondiam aos novos professores ainda não tinham sido atribuídos.

No que respeita às outras condições para o normal funcionamento das aulas e da escola o Conselho Directivo informou o CP de que:
Tinha reorganizado vários espaços de apoio (caso dos audiovisuais) e mandado executar pequenas obras, um pouco por toda a escola (caso do Bar da Sala de Professores);
O número de turmas que a escola tinha era excessivo (as salas estavam 97 % ocupadas, contra os 85 % de ocupação noutras escolas);
Continuava a haver falta de funcionários (no início do 2º período o Pavilhão D chegou a encerrar por um dia devido a esta dificuldade; pouco tempo depois foram colocados na escola vários funcionários, ao abrigo de diversos «programas», todos eles por tempo limitado).

Logo nas primeiras reuniões do CP foram ainda escolhidos os 3 dias de interrupção lectiva para debates na escola (justificados pela participação na reforma que estava a ser preparada), um em cada período lectivo, mais uma semana de interrupção de aulas no 3º período.

A capa do Plano de Actividades, concluído em meados do 1º período, foi esta:


Nas minhas notas às 19 reuniões do Conselho Pedagógico deste ano menciono diversos nomes, além dos já referidos acima (e do meu próprio). Por ordem alfabética: Alice Santos, António Gomes, Francisco Sacramento, Luís Rosado, Madalena Ferreira, Vítor Campos e Vítor Louro. Todos seriam membros deste CP.

Houve dois temas que foram mais intensamente discutidos ao longo do ano. Inicialmente, a distribuição do orçamento. Depois, as opções curriculares.

Havendo pouco dinheiro para distribuir (estávamos numa situação de “miséria orçamental”, escrevi eu), e existindo cursos com natureza profissionalizante (os quais exigem maiores apoios), surgiram dois tipos de tensões: por um lado, entre os grupos «técnicos» e os «não técnicos»; por outro, entre os próprios grupos «técnicos». Tentando resolver essas tensões, exigiu-se mais informação, discutiram-se critérios, propôs-se uma estratégia; mas, no fim do ano, subsistiam em muitas as dúvidas sobre se as coisas teriam sido bem feitas.

O outro tema, o das opções curriculares, tinha algumas ligações, a montante, com o do Orçamento. O melhor exemplo desta ligação foi o da Quimicotecnia, um curso que alguns professores da escola pretendiam iniciar, que o Conselho Directivo garantiu estar em primeiro lugar nas suas prioridades, mas que, no final do ano lectivo, se soube não ter sido contemplado pelo Ministério da Educação para o ano seguinte (não haveria dinheiro, assim foi explicado ao Conselho Pedagógico).
Além da azarada Quimicotecnia, foram sugeridos no CP diversas escolhas curriculares, umas para o 9º ano, outras para os «Complementares» (Secundário) do ano lectivo seguinte: Artes e Design; Artes dos Tecidos; Informática; Planeamento e Urbanismo; e Saúde.

Numa das últimas reuniões do ano lectivo o Conselho Pedagógico foi informado de que, contrariamente às expectativas que haviam surgido, as salas conhecidas por «Portugal dos Pequeninos» (parte do Pavilhão D) não iriam ser encerradas em 1989-90. Estava em perspectiva mais uma inundação de turmas.
O CP também foi informado de que não iria ser iniciado o curso de Informática nos Complementares, mas que prosseguiria a experiência começada em 1988-89 no 7º ano.

Comentários

No meu percurso como professor houve duas ocasiões em que desejei um «cargo»: em 1988-89, quando me candidatei a Delegado de Matemática; e cerca de dez anos mais tarde, quando quis fazer parte da primeira Assembleia de Escola (o que consegui, tendo-me nela mantido durante oito anos).

Até ao fim dos anos 90, os órgãos de administração e gestão das escolas do ensino não superior eram o Conselho Directivo, o Conselho Pedagógico e o Conselho Administrativo.

Por impedimento do Alfredo Monteiro, uma das últimas reuniões do Conselho Pedagógico em 1988-89 foi presidida pela Teresa Ré, um dos membros do Conselho Directivo.

Não é do meu agrado a alteração introduzida na Formação em Exercício, transformando «dois anos a ensinar e a aprender na escola» em «um ano a aprender mais um ano a ensinar», pois se baseia na filosofia «primeiro a teoria, depois a prática», desvalorizando a «interacção entre prática e teoria».

O curso de Quimicotecnia continuou a ser defendido em anos posteriores, sem nunca ter conseguido impor-se. Mas houve cursos que, aquando da remodelação das instalações escolares, no início deste século, obtiveram boas condições de trabalho e que de pouco lhes foram úteis, dado ter desaparecido a respectiva procura. Que teria acontecido à Quimicotecnia se tivesse conseguido vingar?!

No início de 1988-89 o curso de Técnico-Profissional de Manutenção Mecânica não tinha tido inscrições no 10º ano. Assim, durante este ano, apenas esteve a funcionar o curso iniciado em 1987-88, a que eu agora estava leccionar o 11º ano.

O Conselho Pedagógico mostrou-se pouco interessado em apreciar um conjunto de preocupações colocadas por mim a propósito do Plano Anual de Actividades, cujos contributos achei estarem pouco articulados. Defendi que no ano seguinte ele fosse elaborado através de uma estratégia participada, coerente e flexível, de modo a evidenciar a “dinâmica” e as “ideias próprias” da escola, e não as provenientes do Ministério da Educação, da Câmara Municipal e das instituições de formação inicial (a ESE, de Setúbal, e a FCT, do Monte da Caparica). Eram preocupações diametralmente opostas às que levaram um dos membros que viria a ser eleito para o Conselho Directivo de 1988-90 a propor, na reunião que descri no testemunho «020», que o papel do CD deveria ser o de «preparar a escola para a mudança».

Depois de terminadas as aulas, na altura em que o Conselho Pedagógico apreciou os «recursos» sobre as notas finais, anotei assim o que então se disse sobre os casos de insucesso que lhe tinham sido apresentados: “desinteresse profundo dos alunos ou dificuldades não acompanhadas; afastamento dos pais em relação à Escola; arrogância dos professores” (ninguém referiu a arrogância do próprio sistema educativo).

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 61 e 62); o desenho era meu

[022] Três turmas do 9º ano e uma do 11º ano, em 1988-89

Memórias

Terminada a minha passagem pelo Conselho Directivo, foram-me atribuídas quatro turmas para o ano lectivo de 1988-89: três do 9º ano (o 9º M, o 9º P e o 9º Q) e uma turma do 11º ano (o 11º H).
Eis os alunos das três turmas do 9º ano:










































































































Estas três turmas tinham, no total, 81 alunos (dos quais 2 eram repetentes). No final do ano, 58 concluíram o 3º Ciclo (entre eles, os 2 repetentes), pelo que a percentagem de sucesso foi baixa: cerca de 75 %.
Tive notícias de dois destes alunos uns anos depois da sua passagem pela escola: o António Ramalho, do 9º M, porque foi campeão europeu de Hóquei em Patins, em 1996, e o Hugo Castanheira, do 9º Q, porque actualmente trabalha como artista no Seixal.
Como, em 1988-89, o António Ramalho já jogava Hóquei, perguntei-lhe como encarava ele o seu futuro, entre o desporto e uma profissão. E a resposta foi clara: queria concluir os estudos, pois um dia a sua vida como desportista terminaria e ele queria dispor de uma habilitação profissional.

O 11º H tinha apenas 8 alunos, 6 vindos do Curso Técnico Profissional de Manutenção Mecânica, iniciado no ano anterior, mais 2 inseridos nesta turma para poderem completar disciplinas em atraso. Dos 8, só 1 não transitou para o 12º ano, por ter anulado a matrícula no final do 1º período: foi trabalhar num supermercado, tendo dito aos seus ex-colegas que “nem imaginavam como é bom poder ir deitar-se sem o peso de ter de estudar”.

Comentários

Nos três painéis fotográficos faltam alguns «números» e algumas «fotografias»; penso que isso se deveu aos alunos que mudaram de turma, ou de escola, especialmente durante os primeiros dias de aulas.

Lembro-me da esmagadora maioria dos meus ex-alunos, sobretudo ao ver as suas fotografias, embora não me lembre de muitos episódios concretos ocorridos com eles.

Em 1988-89, além das quatro turmas que leccionei, fui Delegado do Grupo de Matemática, pelo que o meu horário era o seguinte:


A quase totalidade das salas onde iriam decorrer as minhas aulas situava-se nos pavilhões B e D, portanto na fronteira nascente das instalações escolares. Era um bom sítio para se poder conhecer a totalidade da escola.


Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 110, 111, 112, 113 e 114)