Memórias
Pode ter sido em 1988-89 que eu fiz este desenho:Nele, o professor, impassível, de costas para a turma, diz, enquanto
vai trabalhando no quadro: «O professor deve estar
sempre atento a tudo quanto se passa no mundo. Até porque o que vos é ensinado
é para ser útil no momento em que entrarem em contacto com a realidade. Todos
os modelos teóricos que desenvolvemos nas aulas são simulações de situações que
encontrarão no futuro. Estas são, pois, ocasiões únicas, irrepetíveis, que
vocês não podem desaproveitar, a não ser que […]»
Não sei se afixei este desenho na escola, tal como fiz com outros desenhos, antes
e depois deste. Ou se o guardei apenas para mim. Mas é muito possível que ele
tenha a ver com a minha principal preocupação em 1988-90, o ensino da
Matemática, dado ter sido eleito responsável pela coordenação do respectivo
grupo de docentes.
Ao iniciar a minha preparação para estes dois anos escrevi o seguinte:
“Assim como a aceitação da candidatura para o C. D. de
1986-88 se subordinou ao objectivo «ver como se consegue dinamizar
pedagogicamente a Escola a partir da sua gestão global», também o trabalho como
delegado do grupo de Matemática e o paralelo trabalho de representante deste no
Conselho Pedagógico se subordinam ao objectivo «ver como são as potencialidades
renovadoras dos professores da Escola, nos níveis pedagógico e cultural».
A esta luz, estes quatro anos, 1986-90, foram anos de aprendizagem por meio da experimentação.
Eis os membros do grupo de Matemática, em 1988.89, que consegui identificar através das minhas notas: Alípio Garcez; Ana Chorincas (tinha sido a anterior delegada do grupo); Ana Pontes; Carlos Lourenço; Clorinda Agostinho; Isabel Pereira; Ismael; J. Vilão; Ludgero; M. Valdevino; Olímpio Pereira; e Pedro Esteves.
O grupo de Matemática tinha uma Sala de Trabalho, pelo menos desde o ano anterior, onde reunia e guardava algumas das suas ferramentas. Situava-se no piso inferior do pavilhão C, onde dois ou três anos depois os Funcionários da escola passaram a ter a sua própria sala. Em mais do que uma reunião levantámos a questão de, a termos esse espaço, os outros grupos também deveriam ter o seu, pois isso apenas acontecia com alguns.
Foi nessa sala que reunimos por 15 vezes neste ano, sendo a primeira em 12 de Setembro e a última em 6 de Julho.
Com base num «plano de trabalho» inicial, que incluía algumas chamadas de atenção para a conveniência da sua «perspectivação plurianual», fomos abordando ao longo do ano os «horários» (como tinham surgido muitas reclamações, propusemos algumas regras a serem tidas em conta no ano seguinte), o «planeamento lectivo» (onde por diversas vezes tentámos encaixar preocupações com a «inovação pedagógica»), as «condições lectivas» (como as salas de aula e os materiais de que necessitávamos para leccionar), a «avaliação dos alunos» e, talvez muito em particular, a «formação contínua» (deveria ser «obrigatória» ou voluntária»; como poderíamos obter «computadores»; que interessados havia num encontro sobre «História da Matemática» e numa série de conversas intituladas «A reforma curricular em acção»; etc.).
Uma iniciativa de que me lembro bem não ter tido continuidade foi a de lançarmos, entre nós, mensalmente, de um problema de Matemática; recordo-me de um desses problemas, talvez o primeiro, ter abordado o funcionamento do «Círculo Trigonométrico».
Tínhamos, na nossa Sala de Trabalho, um expositor para nosso uso. O modo como os seus espaços foram organizados, com títulos manuscritos em papel ou cartolina, dá uma ideia dos temas para os quais tínhamos expectativas de ele vir a ser útil:
Em 8 de Março apenas conseguimos abordar as questões mais imediatas: a Ordem de Trabalhos era demasiado grande …
Comentários
O desenho retrata uma sala do Pavilhão D: lembro-me bem das mesas dos alunos e da sua disposição na sala; do estrado e da mesa do professor; do quadro e do suporte para o giz e o apagador; da lâmpada que iluminava o trabalho do professor; dos estores, alguns bem desarranjados; e do Sol que, a dada hora, aparecia a Poente (eu tinha aulas à tarde).
Acho que, inconscientemente, me representei como o aluno que acaba de lançar pelos ares um avião de papel: estaria a convencer-me a mim próprio de que os professores nunca devem deixar de procurar perceber o que se passa na cabeça dos seus alunos?
Nunca foi resolvido o problema da atribuição de um espaço de trabalho próprio a cada grupo disciplinar, embora alguns sempre tenham usufruído de um. E no entanto, para se constituírem comunidades (em função do trabalho cooperativo), esses espaços são decisivos.
O encontro sobre «História da Matemática» decorreu de 8 a 11 de Novembro, organizado pela Sociedade Portuguesa de Matemática. E as conversas sobre «A reforma curricular em acção» decorreram já em 1989, organizadas por um grupo de sócios da recentemente criada Associação de Professores de Matemática.
Antes do fim de Julho, o Plano de Trabalho para 1989-90 já estava pronto para ser debatido em Setembro. Nele já não refiro a Escola Secundária do Seixal, mas sim a Escola Secundária do Seixal, nº 1.
Tal como nos anos anteriores, em relação ao Conselho Directivo, este primeiro ano como delegado do grupo de Matemática não foi «concludente» …
Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 94 e 104)
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