[058] Projectos ligados à Matemática nas escolas de Almada e Seixal (balanço em 1991-92)

Memórias

O grupo de professores estudado na minha tese de mestrado tinha como um dos seus contextos de acção as escolas dos concelhos de Almada e Seixal. Por isso procedi, entre outras recolhas, ao levantamento dos projectos ligados ao ensino e aprendizagem da Matemática (a disciplina em causa) que aí estavam em curso.
As iniciativas que identifiquei estão a seguir ordenadas alfabeticamente por escolas (e, dentro destas, por ano lectivo).


Escola Preparatória da Amora (actual Escola Básica Pedro Eanes Lobato)

1991-92

A Celeste Ganço e a Maria José Marques criam, na Biblioteca da escola, um espaço tipo Ludoteca, onde os alunos dispõem de jogos e de desafios.


Escola Preparatória de Corroios
(actual Escola Básica de Corroios)

1991-92

É criado um Clube de Jogos Matemáticos, “numa perspectiva do complemento curricular e a título experimental”. Funciona com o apoio de sete professores, que garantem uma hora semanal para cada um dos 5 grupos de alunos do 6º ano inscritos; os alunos preferem utilizar os “materiais manuseáveis” (quebra-cabeças com fósforos, Tangram) aos passatempos com “o lápis e o papel”. Foram organizados campeonatos de jogos de reflexão. E o Clube editou, com o apoio da Associação de Pais, uma colecção de cartas com «Quebra-cabeças com Fósforos», que pensam vender como forma de auto-financiamento.

As regras, o primeiro e o último quebra-cabeças desta colecção

Segundo uma das professoras, a Fernanda Coelho, “Acreditamos que os passatempos, problemas e quebra-cabeças seleccionados são motivantes para os alunos e lhes permitem desenvolver capacidades contempladas nos currículos de Matemática, embora por caminhos diferentes”; para a Escola, “esta experiência poderá vir a ter reflexos na própria área curricular, não só pela relação criada com os alunos como pelo aproveitamento de estratégias e materiais utilizados no clube”; “A natureza e a classificação dos jogos, a sua relação com a Matemática, o interesse da sua integração nas aulas, a comunicação de estratégias e de soluções, são algumas questões que se levantaram ao longo deste trabalho”, sendo também de destacar o “interesse que os jogos podem suscitar em professores de outras disciplinas ...


Escola Preparatória da Cova da Piedade
(actual Escola Básica Comandante Conceição e Silva)

1991-92

Por decisão dos professores de Matemática é criada uma Janela da Matemática, com os objectivos de motivar os alunos para a Matemática, sob aspectos diferentes do habitual, e de a mostrar à Escola. O recurso a um expositor resultou de não haver na escola “condições físicas e humanas” para “assegurar o funcionamento de uma sala” para actividades extracurriculares; o conteúdo afixado no expositor é renovado de mês a mês e inclui “Matemáticos portugueses célebres, História do mês, Curiosidades e Problemas”; os alunos também participam, “inclusivamente recolhendo e levando para a Escola problemas”, bem como os professores de Educação Visual e de Trabalhos Manuais.

No Nº 1 do «Boletim Informativo» do Núcleo Regional da APM
esta «Janela» aparece desenhada assim (já que não havia uma fotografia)


A Teresa Nascimento, uma das promotoras desta «Janela», foi uma das autoras do MATlab interescolas.


Escola Preparatória Elias Garcia (actual Escola Básica Elias Garcia)

1991-92

É criado um expositor e organizado um armário com materiais dedicados à Matemática.


Escola Primária Nº 2 do Laranjeiro (actual Escola Básica Nº 2 do Laranjeiro)

1988-92

Integrada numa larga rede de Escolas Primárias, cada uma com um ou dois Professores, a Nº 2 do Laranjeiro está envolvida no projecto Ensinar a Investigar.
Os seus principais dinamizadores utilizam o método global / natural (oposto ao mais comum analítico / sintético) e têm apoio do Ministério da Educação (os novos currículos do 1º Ciclo, acabados de ser generalizados ao 1º ano de escolaridade, inspiraram-se nesta experiência).


Escola Secundária Anselmo de Andrade

1990-91

A professora Ana Paula Natal faz uma experiência de produção de materiais para o ensino e aprendizagem da Geometria do 7º ano, e de utilização nas suas aulas, designando-a por Materiais na Geometria do 7º ano.

O projecto Novas Tecnologias no Ensino da Matemática, da responsabilidade do Sérgio Valente, foi implementado a “dois níveis: a) com os alunos (utilização do computador na sala de aula e em propostas de trabalho de grupo); b) concepção, em colaboração com o Pólo do Projecto Minerva da Faculdade de Ciências e Tecnologia, de software específico para esta disciplina”.
São usados os programas Microcalc e Logo, em turmas normais do 11º ano, com 30 Alunos e metodologia de trabalho de grupo. No debate que se seguiu à apresentação deste trabalho no 1º Encontro de Professores de Matemática, organizado pelo Núcleo A. P. M. de Almada e Seixal, o Sérgio disse que “depois do trabalho no computador fazia sempre o feed-back e que este ano houve pessoas que pegaram nas fichas deles e as reformularam o que acha positivo”; depois, lançou a questão sobre se é preferível utilizar apenas um computador na sala de aula, com o Professor centrando em si a discussão, mais ou menos aberta, ou se seria melhor, havendo mais do que um computador na Sala, deixar os Alunos experimentarem os programas.

O projecto A viagem num mundo em transformação (de Eratóstenes a Pedro Nunes), das estagiárias Cristina Neto, Joana Guerreiro e Patrícia Cascais, apoiadas pela sua orientadora, a Filomena Teles, desenvolveu-se com os alunos do 8º ano, fora do espaço aula, não tendo havido preocupação com os conteúdos programáticos, apenas com as “noções” necessárias para a realização do trabalho (“ângulos, triângulos, polígonos, quadriláteros, proporções, semelhança de triângulos, Teorema de Thales”). No debate que se seguiu à apresentação deste trabalho no 1º Encontro de Professores de Matemática organizado pelo Núcleo A. P. M. de Almada e Seixal, a Patrícia reconheceu que “foi complicado e levou muito tempo, fins de semana, noites, etc.”, apesar de, como estagiárias, terem trabalhado “em condições especiais”, “em grupo, com menos turmas”.

É criado o Clube da Matemática, no qual colaboram a Ana Paula Natal e a Lídia Lourenço, tendo cada uma 2 horas semanais extra correspondente a horário lectivo. “Nesse espaço são construídos materiais de suporte a jogos e puzzles.” Um das horas da Lídia “é dedicada à resolução de problemas.” Uma das suas alunas, que frequentava este Clube, a Joana, ganhou as Olimpíadas de Matemática, por “mérito da aluna”, mas tendo o Clube “uma importância enorme na motivação e desenvolvimento do raciocínio matemático na resolução de problemas.”

1991-92

É realizada, com “resultados animadores”, Uma experiência interdisciplinar (Física-Matemática), “com alunos” de uma turma do 12º ano comum à Luísa Lopes e ao Sérgio Valente.
No 2º Encontro de Professores de Matemática organizado pelo Núcleo da A. P. M. de Almada e Seixal os autores afirmaram: “Pensamos que se deve dar aos alunos pelo menos uma oportunidade de contactarem com uma situação deste género. Para além do carácter interdisciplinar da experiência, é uma visão da matemática e da ciência em geral que está em jogo.”

É aberta uma Sala, designada Projecto MATlab, a utilizar “livremente pelos alunos”, para “a realização de actividades e para a exploração de desafios de carácter matemático (em sentido amplo)”. Começou a ser apetrechada com materiais, com o apoio financeiro do MATlab inter-escolas, de que a sua coordenadora, a Filomena Teles, é uma das autoras.
É aí realizada uma final interna das Olimpíadas da Matemática.


Escola Secundária da Cova da Piedade (actual Escola Secundária António Gedeão)

Antes de 1991-92

O grupo de Matemática organiza Concursos Inter-turmas, com questões de cultura geral e, também, de Matemática.

1991-92

Ao comemorar o “Dia da Matemática” no dia 9 de Abril, o Cantinho da Matemática foi inaugurado numa sala que, no ano seguinte, viria a ser reservada para este projecto. Nela se disponbilizavam jogos (alguém afirmou que esta Sala «até parece um casino») e materiais ligados à Matemática.
Os autores deste projecto começam a participar nas reuniões do MATlab interescolas (oficiosamente, pois não tinham sido dele autores).


Escola Secundária Emídio Navarro

Desde 1983 (ou 1985) até 1991-92

A Rita Vieira criou a Sala de Tempos Livres. Esta sala teve o apoio de uma funcionária e ajudou a completar o horário a professores de outras disciplinas, ao abrigo do artigo 20.
A Rita não se lembra de ter aberto esta Sala com intenção de a ligar às aulas, pretendendo, possivelmente e apenas, ocupar os miúdos, dar-lhes algo interessante para fazer; essencialmente, tratava-se de uma Ludoteca, que apoiou “O Problema da Semana”, o “Dia da Matemática”, a intervenção da Matemática na “Semana da Escola”; e que, durante alguns anos, albergou os TIMEX´s para uso dos alunos, e também uma mini-Biblioteca e o Clube de Filatelia, mantendo ligações transversais, através da sua coordenadora, ao Projecto Minerva, ao concurso “Problemas Via Telemática” e ao Laboratório de Meteorologia da Escola; foi ainda base de apoio para intervenções de divulgação noutras Escolas.
A Rita Vieira foi uma das autoras do MATlab interescolas.

1988-89

O Projecto GEODA foi uma experiência de ensino da Geometria em turmas do 7º ano, que envolveu o Ludgero Leote e a Rita Vieira, que utilizou o programa “Autosketch” e que esteve ligada ao Projecto Minerva, sendo inspiração para os projectos posteriores ligados ao Núcleo A. P. M. em Almada e Seixal.


Escola Secundária Nº 1 de Corroios (actual Escola Secundária João de Barros)

1991-92

Em 1990-91, numa reunião dos professores de Matemática destinada a analisar o insucesso escolar na sua disciplina, foi considerado que as “causas” deste se encontravam no «mito» associado à Matemática, nas reprovações consecutivas, no excessivo número de alunos por turma, na heterogeneidade de conhecimentos presente na mesma turma, na falta de hábitos de trabalho, na inadaptação dos programas, no não cumprimento destes nos anos anteriores, na falta de tempo para os professores trabalharem em conjunto e na indisciplina dos alunos.
Como consequência, no fim desse ano lectivo a Doroteia Costa e a Mirita Sousa redigem o Projecto da Matemática da Escola Secundária Nº1 de Corroios, pensado para três anos, ao longo do 3º Ciclo de escolaridade, para que os alunos desmotivados em relação à Matemática (nomeadamente por terem repetências sucessivas nesta disciplina) desenvolvam as suas capacidades e atitudes (construindo o “seu próprio saber”, com o seu “ritmo pessoal” e ganhando “maior confiança em si próprios”). Propõem que se utilize o trabalho de pesquisa, de grupo e de projecto, as visitas de estudo e a exposições, a comunicação oral, os jogos educativos, os materiais manipuláveis, as máquinas de calcular e os computadores.
E propõem a separação dos “alunos com sucesso em Matemática” dos “alunos desde sempre desmotivados na Matemática (com repetências sucessivas na disciplina)”, para se concentrarem nestes últimos, de acordo com “um programa no sentido do desenvolvimento das suas capacidades e atitudes”, de modo a eles construam o “seu próprio saber”, ao seu “ritmo pessoal” e ganhando “maior confiança em si próprios”.
No balanço feito no fim do primeiro deste projecto, durante o 2º Encontro de Professores de Matemática organizado pelo Núcleo da A. P. M. de Almada e Seixal, as autoras referem que os alunos com menor dificuldade nesta disciplina trabalharam com o “currículo normal” e “um pouco ao nível da investigação, circunscrita aos temas História da Matemática, Geometria e Pavimentações, enquanto que os alunos com mais dificuldades puderam, frequentemente, “escolher o tema e o material para trabalharem”, usaram, “exaustivamente […] os computadores e os materiais manipuláveis”, foram particularmente acompanhados no que respeita à “organização dos cadernos diários”, tendo sido todos classificados com o nível “3”, apenas com diferenças qualitativas expressas numa “grelha de observação”.

Já tinha havido nesta escola o Clube de Matemática, mais tarde transformado em Clube de Ciência, que a seguir se dividiu de tal modo que os Professores de Matemática ficaram sozinhos, com a “sala de jogos”. A dada altura de 1991-92 esses professores começaram a participar oficiosamente nas reuniões do MATlab interescolas.


Escola Secundária Nº 1 do Laranjeiro (actual Escola Secundária Rui Luís Gomes)

1989-90

O
José Tomás (quando estava na Nº 2 do Laranjeiro) e a Palmira Barroso implementam uma experiência pedagógica no 7º ano, que designam por Geoplano. Constroem geoplanos, com a colaboração dos alunos, e produzem uma planificação geral e 14 fichas de trabalho.

Este foi um dos projectos que inspirou o AlterMATivas interescolas.

1990-91

A partir de uma preocupação comum de professores de Matemática, Português e Francês, a “necessidade de em determinados momentos da aprendizagem agrupar os alunos e envolvê-los em actividades diversificadas de modo a possibilitar-lhes um acompanhamento mais individualizado, consoante as dificuldades e respeitando os seus ritmos de trabalho”, é implementado o Projecto «Mais uma Proposta para o Sucesso» em 3 turmas do 7º ano com horários coincidentes naquelas disciplinas, permitindo a “rotatividade dos alunos ao longo do ano”.
Na opinião de 6 dos Professores envolvidos, apresentada no 1º Encontro de Professores de Matemática organizado pelo Núcleo da A. P. M. de Almada e Seixal, “Foi uma aposta contra o cepticismo reinante”, pois “é necessário inventar, recriar sempre algo de diferente para os nossos alunos”.

1991-92

É realizado um “projecto” intitulado Descobrir a Geometria com o CABRI-Géomètre, tendo como “dinamizadoras” a Ana Teresa Mateus e a Palmira Barroso, com o apoio da Margarida Junqueira, sendo concretizado com uma turma do 9º ano, da Ana Teresa, dividida em duas metades de 12 alunos, que alternam na utilização do programa CABRI e na resolução de outros problemas sobre o mesmo tema, com materiais tradicionais.

É inaugurado o Clube de Jogos, um espaço destinado a funcionar como sala de jogos, estando envolvidos nele 4 professores, um deles com 2 horas de redução de serviço lectivo para a dinamizar; alguns alunos ajudam no arranjo da sala e no arranque das actividades.
O José Tomás, coordenador deste espaço, e a Palmira Barroso foram dois dos autores do MATlab interescolas.


Escola Secundária Nº 2 do Laranjeiro (actual Escola Secundária Francisco Simões)

1991-92

Os professores de Matemática organizaram, durante a Semana da Escola (1 a 5 de Junho), uma sala onde os alunos puderam “«jogar», «pensar» e divertir-se com jogos, problemas, puzzles e labirintos”.


Escola Secundária Nº 1 do Seixal (actual Escola Secundária José Afonso)

1988-92

Em 1991-92 a Sala de Dinamização Cultural foi equipada pelo Pedro Esteves com jogos de reflexão, puzzles e desafios matemáticos; a primeira actividade pública, durante a recepção aos novos alunos da Escola, é uma exposição intitulada “A Outra Face da Matemática”; é comemorado o Dia Mundial do Xadrez, em 19 de Novembro (o que se repetirá nos anos seguintes), e realizado o 1º Campeonato de Xadrez da Escola; neste ano o Xadrez está associado ao Núcleo do Desporto Escolar e a escola é a principal organizadora e sede de realização do 1º Torneio de Xadrez Interescolas do Concelho do Seixal. Com uma funcionária própria, esta sala também teve, durante o 2º e o 3º períodos, a colaboração de mais dois professores de Matemática e, para a fabricação de vários jogos e quebra-cabeças, a de diversos alunos.
Em 1990-91 esta sala, além de ser uma Ludoteca, começa a integrar actividades de Laboratório de Matemática; é nela iniciada a produção sistemática de materiais de apoio (jogos, puzzles, problemas, labirintos, desafios matemáticos, ...) e a edição de um boletim informativo; e estabelece-se uma ligação ao Projecto Viva a Escola, e, em 1991-92, ao MATlab interescolas (de que o Pedro Esteves foi um dos autores) e ao Clube Recreativo e Desportivo das Cavaquinhas.

1989-90

Realizada uma experiência pedagógica, pelo Pedro Esteves, intitulada Projecto AlterMATivas (outro dos projectos que inspirou o AlterMATivas interescolas). Prevista inicialmente para 4 anos (primeiro ano, turmas do 7º ano deste professor; segundo ano, turmas do 8º e 10º; terceiro ano, turmas do 9º e 11º; quarto ano, turmas do 12º), o plano foi alterado com a integração no projecto comum com as outras escolas.
Tinha como “objectivos: inovação de metodologias, produção de materiais, animação do colectivo de professores de Matemática da Escola, divulgação para o exterior, reflexão, eventualmente investigação“; foram produzidas algumas fichas de trabalho para utilização pelos alunos das turmas do 7º ano.


Comentários

Todos os projectos destinados a fomentar actividades extracurriculares que foram acima descritos envolveram-se no Projecto MATlab (interescolas), ou oficialmente (através dos autores deste), ou oficiosamente (participando, a partir de dada altura, nas reuniões, que para o permitirem se tornaram abertas). O mesmo já não sucedeu com o Projecto AlterMATivas, que se manteve em exclusivo nas mãos dos seus autores, embora tenha sido pródigo em deixar pistas para que outros professores o pudessem diversificar.

No quadro seguinte, que agrupa esses projectos, se são patentes pequenas iniciativas pioneiras, é sobretudo evidente a explosão de iniciativas que se verificou após 1989-90, ano em que foi fundado o Núcleo da A. P. M. em Almada e Seixal. Terá pois sido o associativismo o factor decisivo na enorme expansão dos projectos relacionados com a Matemática nas escolas desta região:



Fontes: Pedro Esteves / Arquivador digital Tese de Mestrado (Doc. T005) / Caixa com materiais do Núcleo (QUEBRA-CABEÇAS COM FÓSFOROS)

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