[044] Os 10 anos do jornal «Nova Maré»

Memórias

Em 1990-91 o Nova Maré, jornal editado na Escola Secundária do Seixal / José Afonso, atingiu a sua primeira década de vida. Eis uma imagem eloquente do modo como esse aniversário foi recordado no seu Nº 27, saído no final do ano lectivo:


Recordava-se, aqui, vários dos seus momentos mais interessantes do passado, onde se mostra focado na escola, na comunidade envolvente da escola, nos problemas dos jovens e navida nacional, em particular a vida artística.
Pelo trabalho já acumulado, o «Nova Maré» estava de parabéns.

Comentários

Passados tantos anos, é interessante olhar para a aventura deste jornal e, sem lhe tirar o mérito do que conseguiu, lhe colocar algumas questões – até porque elas devem ser postas a propósito de todos os projectos que ocorreram e ocorrem nesta e noutras escolas: se não as colocarmos, corremos o risco de mitificar o passado e de o tentar repetir, mitificado, no futuro.

Uma dessas questões resulta da observação do ritmo de publicação do jornal.
Nos quatro primeiros anos do Nova Maré (1981-85), sendo director o António Matos, foram publicados 23 números. Como só disponho de 3 desses números, apenas posso fazer algumas conjecturas sobre o seu ritmo de publicação.
Ele parece ter sido muito forte no início e radicalmente retraído nos últimos anos deste período: o Nº 18 foi publicado no início de 1983-84 e o Nº 21 no final desse mesmo ano. E só disponho do Nº 23 para o ano de 1984-85, pois o Nº 24 já foi publicado no início de 1986-87, tendo já como directora a Alice Santos (que manteve este papel até ao encerramento do jornal, em 2004-05).
Então, nos seus primeiros dois anos (1981-83) terão sido publicados, no máximo, 17 números; no terceiro ano terão sido publicados, no mínimo, 4 ou 5 números; no quarto ano ou foi publicado 1 ou foram publicados 2 números; e no quinto ano (1985-86) nenhum.
Nas duas décadas seguintes (1986-2005) foram publicados mais 20 números (média de «1 jornal por ano»), havendo anos com mais de um jornal (2 números em 1993-94, 1994-95 e 2000-01; e 3 números, em 1991-92) e anos sem qualquer jornal (1997-98, 2002-02 e 2003-04).
O que se deve perguntar, tal como para tantos outros projectos que começam fortes, depois estabilizam durante anos e a dada altura desaparecem, é o que se pretende com eles (se a intensidade, se a calma) e as condições de que precisam para se manter como desejam e são desejados.

Outra das questões resulta das observações que o João Louro fizera sobre este jornal: não seria mais interessando termos um «jornal de escola», reflexo de «todos os seus projectos», em vez de um jornal de apenas algumas turmas?
Ao reler, agora, alguns dos textos publicados no «Nova Maré» deparei, no editorial do Nº 24, com uma frase que muito me agradou e que me pareceu pretender traduzir o espírito subjacente à actividade dos colaboradores no jornal:

Nós não queremos ficar aqui fechados dentro destes muros.
Não queremos só aprender e ensinar o b-á-bá das ciências e das letras e das artes.
Tudo isso tem que ser transformado, actualizado, posto em prática no confronto com o quotidiano que se desenrola lá fora.


Esta era uma afirmação axial, característica de uma pedagogia aberta, que também podia ser afirmada pela própria escola, não apenas pelo jornal, embora fosse mais difícil que uma escola, com a variedade de docentes que tem, a adoptasse em uníssono.
Mas também era uma afirmação que se podia encaixar, sem qualquer atrito, nas orientações que sucessivas equipas no Ministério da Educação havia enviado para as escolas, sob a designação, entre outras que foram experimentadas, de «ligação ao Meio».
No entanto, tendo este jornal deixado de ser «de escola», por opção (ver testemunho «030»), e não tendo a escola uma filosofia pedagógica comum, a pedagogia aberta em que o Nova Maré se pretendeu fundamentar passou a dizer exclusivamente respeito à sua equipa de redactores, podendo também dizê-lo a outros membros da comunidade escolar, se lhes fosse favorável o vai-e-vem entre o que se «faz», o que se «divulga» o que se «publica».
Sem uma análise da circulação de conteúdos publicados, e sobretudo sem uma análise das dinâmicas da escola, não é possível responder à questão colocada pelo João Louro. Mas, antes de voltar a ela em testemunho futuro, acrescento a quantificação do total publicado até ao final de 1990-91: o «volume» publicado por cada número do jornal nos seus primeiros anos (medido pelo seu número de páginas, e tendo em conta que as folhas sempre foram da mesma dimensão) não variou muito, uma média de 14 páginas nos 3 números mais antigos que possuo e de 17,5 páginas nos 4 números mais recentes.

Fontes: Pedro Esteves / jornal Nova Maré (Nº 24 e 27)

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