Memórias
A comemoração dos 25 anos da Escola das Cavaquinhas ocorreu durante o 1º período de 1990-91.Não tenho memória pessoal da festa que foi organizada, pois não ter participado nela. Mas, perto do final do ano lectivo, fiquei com uma ideia, através do novo número do Nova Maré (o jornal do Curso de Jornalismo e Turismo), onde a comemoração era noticiada.
A imagem seguinte mostra parte de duas das páginas do jornal, sendo reconhecíveis na fotografia, da esquerda para a direita, a Ana Chorincas, a Manuela Vieira e o José Calqueiro (membros do Conselho Directivo), o Joaquim Barbosa (primeiro director da escola), o Luís Carlos Carvalho (presidente do CD) e a Madalena Silva:
Este número do Nova Maré contava algumas histórias sobre os primeiros anos da escola e publicava entrevistas a membros da comunidade escolar em diversas alturas da sua existência.
Além do aniversário, um outro aspecto simbólico da escola esteve, durante este ano lectivo, em evidência: o da sua designação oficial. O Ministério da Educação decidira que cada escola tivesse um patrono, cujo nome seria integrado na designação da escola; no caso desta, após algumas hesitações, o patrono proposto foi o José Afonso; a aprovação só viria a acontecer dois anos depois de a proposta ser enviada, mas a escola, futura Secundária José Afonso, como forma de mostrar a sua convicção no patrono que escolhera, decidiu criar o logótipo que iria acompanhar a sua nova designação – e isso foi feito durante este ano lectivo, 1990-91.
Naturalmente, coube ao novo Conselho Directivo coordenar estes processos. Na seguinte fotografia, tirada por mim no dia 23 de Abril de 1991, figuram, da esquerda para a direita, sentados nas suas secretárias, o José Calqueiro, o Luís Carlos Carvalho e a Manuela Vieira (não estou certo sobre a identidade da quarta pessoa fotografada: a Célia Pereira?). Do CD, faltam na fotografia a Ana Chorincas e a Rosário Leocádio:
Comentários
Por volta do 25 de Abril, esta escola era designada por «Comercial e Industrial», correspondendo-lhe um logótipo (desenhado, no início dos anos 70, por um aluno cujo nome não foi registado) que o traduzia bem: havia, inicialmente, cursos de Comércio, Electricidade e Mecânica, depois surgiram os de Administração, Contabilidade, Jornalismo e Turismo, assinalando a deslocação do «industrial» para os «serviços» (o curso de Produção Aquática, por exemplo, não vingou).
A mudança do nome para «Secundária do Seixal» (primeiro sem e depois com o «Nº 1», para a distinguir da vizinha «Nº 2», situada no Cavadas) parece ter sido ditada por uma uniformização administrativa, conveniente numa altura em que, para responder ao enorme aumento da procura, se multiplicavam os estabelecimentos escolares. Mas durante o tempo em que duraram estas designações, o logótipo da escola não mudou.
Desta vez, à inclusão de um patrono (José Afonso) no nome da escola correspondeu um novo logótipo (desenhado por outro aluno, Luís Rosa), que, necessariamente, teria de procurar uma nova interpretação do que a escola propunha aos seus alunos.
Eis os logótipos, o primeiro da Escola Técnica e Comercial (Escola Secundária do Seixal) e o segundo da Escola Secundária José Afonso:
Os dois logótipos têm em comum a utilização de uma esquadria e a figuração de uma ondulação.
Do primeiro para o segundo, a «esquadria» arredonda-se, mas não desaparece (como sucede em muitos logótipos mais recentes). Sinal de uma escola protectora?
A «ondulação» é uma invariância transversal à vida desta escola, não deixando esquecer a permanência visual da baía e do vai-e-vem das suas marés; mas, do primeiro para o segundo logótipo, ela estiliza-se mais radicalmente. Se procurarmos possíveis simbolismos, ela pode aludir a um outro vai-e-vem, o das gerações de alunos.
Nos seus outros componentes, os dois logótipos divergem.
O logótipo do início dos anos 70 é a preto e branco e quadrado, símbolos de tempos menos complexos. Evoca a navegação (ainda activa na baía) e dois grandes ramos de profissões que marcavam o concelho e que eram leccionados, desde há muito tempo, na escola. Eis a inspiração para o «I» da «indústria» que nele figura:
O logótipo do início dos anos 90 surgiu quando as mudanças
em curso não estavam ainda claras. È a cores e rectangular, símbolos de um
tempo em que as diversidades se começavam a manifestar mais fortemente.
Trata de um logótipo interessante esteticamente mas arriscado simbolicamente:
deixa no ar uma vela sem barco (como recordação de uma navegação que já não se
fazia?), sugere o patrono através da viola e arrisca uma interpretação escrita
(impressa?) da escola, não podendo adivinhar o que ainda estava longe de se vir
a afirmar e a consolidar.
Dispondo agora de um logótipo belo, mas simbolicamente circunstancial, a escola
é mais fortemente representada pelo seu patrono, músico e poeta da emancipação,
tendo assim de decidir se o segue, no que ele inspirou, ou se apenas o usa,
através daquilo que os tempos actuais facilmente permitem.
Definitivamente infeliz, na designação da escola, foi a inclusão do «Dr.» antes
do nome do seu patrono.
O cosmopolitismo que se espera de um patrono (alguém local ou não local que se
elevou para além de qualquer local) é uma oportunidade para as escolas actuais
saírem do isolamento que, paradoxalmente, mais hoje do que ontem, lhes tem sido
imposto, em nome da concorrência. Mas quantos patronos correspondem a esse
cosmopolitismo e quantas escolas exploram as oportunidades que eles lhes
proporcionam?
As escolas, antes de se guindarem à representação simbólica, deveriam procurar
entender-se sob diversas perspectivas.
Em primeiro lugar, quem são os seus alunos e as suas famílias, quais as suas
heranças culturais (o que trazem nas «mochilas» com que entram na escola) e as
suas expectativas sociais?
Depois, quem são os seus funcionários e os seus professores e com que
ferramentas encaram eles a educação, nos contextos em que estão?
Por fim, sobretudo nos tempos de hoje, quais são os sinais que vêm de mais
longe, e como querem as comunidades escolar e educativa interpretá-los e com
eles dialogar?
Fontes:
Contreiras, Ferreira, Santos e Santos (livro, 2017; pp. 122-124 e 219-220)
Pedro Esteves / Álbum de fotografias analógicas ESJA Três (F101: 28) / jornal
Nova Maré (Nº 27)
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