[018] Desafios à auto-organização na Escola Secundária do Seixal

Memórias

Em 1987-88 o Conselho Directivo reuniu por 36 vezes, a primeira em 7 de Setembro, a última em 5 de Julho. O alargamento das instalações da escola foi a principal origem para as dores de cabeça sentidas nessas reuniões, e na escola (ver testemunho «014»). Mas houve outras, como as trazidas pelos alunos com sinais de consumo de álcool ou de droga ou pela tensão permanente na relação com a Associação de Estudantes.

O Plano Anual de Actividades, cuja elaboração era da responsabilidade do Conselho Pedagógico, só foi aprovado perto do final de Novembro, com esta capa:


Neste ano, as actividades extracurriculares eram animadas, pelo menos, pela Associação de Estudantes, pelo Nova Maré, pelo Núcleo das Ciências Sociais, pelo Núcleo de Fotografia, pelo Núcleo de Teatro e pelo Projecto Minerva. Nas suas reuniões de 3 de Novembro e de 19 de Abril, o Conselho Directivo (CD) reconheceu haver iniciativas “surgindo por todos os lados, que são beneficiadoras e transformantes da Escola”, mas também notou que elas “levantam problemas de organização grandes, que precisam ter respostas, mesmo se provisórias”, como os problemas da “multiplicidade dos centros de decisão” e da “distribuição das verbas disponíveis”. Ficou no ar a ideia de estas iniciativas precisarem de ser coordenadas, por exemplo “através de uma Assembleia de Representantes e de um Secretariado”. Já a caminho do fim do ano, na reunião de 26 de Abril, surgiu outra ideia: integrar as actividades extracurriculares na Escola Cultural, que se iria iniciar em 1988-89.

Na Secretaria, a possibilidade de digitalização dos registos biográficos dos alunos, que os computadores do Projecto Minerva possibilitava, exigiu que o CD escolhesse uma prioridade, pois, só até aquele ano, a escola já teria tido cerca de 10 000 alunos e em 1987-88 tinha, aproximadamente, 1 700 alunos de dia mais 800 a 900 à noite. E a escolha do Conselho Directivo foi começar pelos 7ºs anos, deixando os outros anos para quando sobrasse tempo.

Numa das últimas reuniões do CD, em 31 de Maio, quando o ano lectivo estava prestes a terminar, foram expressas queixas sobre o “grande engarrafamento” que os professores que estavam em formação inicial com as suas iniciativas: elas estavam a provocar a falta de espaços e de expositores, uma informação caótica e uma coordenação muito deficiente. Procurando identificar outros problemas deste modelo de formação, coordenado pelas Escolas Superiores de Educação (ESEs), foi ainda afirmado que: “os formandos elaboram planos de investigação”, entregam-nos às ESEs, mas depois “não os concretizam”; “os custos diários das actividades dos formandos são suportados pelas Escolas” (em 1987-88, todo o dinheiro das actividades culturais desta escola tinham ido para esse fim); e no entanto as ESEs “receberam um orçamento para formação em serviço que, provavelmente, investiram em equipamentos; as Escolas Preparatórias e Secundárias não podem ser o local de todas as experiências sem que lhes sejam dadas condições e sem que lhes sejam dadas oportunidades de determinar o seu destino.”

Nas reuniões de 31 de Maio e de 21 de Junho, o Conselho Directivo lançou, pela primeira vez, a Escola Aberta, destinada aos alunos que pretendessem vir à escola durante o Verão. As actividades previstas eram o Ping Pong, diversos jogos desportivos, o Xadrez, os desafios do Projecto Minerva, do Núcleo de Fotografia e da Biblioteca e as visitas de estudo). Eis o respectivo cartaz:


Comentários

Falar em «auto-organização» significa pensar a organização, na própria escola, a partir dos problemas concretos, e não a partir da legislação, nem por gente estranha à escola.

A decisão sobre a prioridade de digitalização dos «registos biográficos dos alunos» contou com a opinião das funcionárias administrativas que tinham começado a concretizá-la.

Nos dois desenhos, de que fui autor, há uma tentativa de incorporar sinais «patrimoniais» patentes nas proximidades da escola, além de sinais «identitários» da própria escola. Eu tinha acabado de chegar a este concelho há pouco mais de dois anos, pelo que esta escolha foi ingénua (ainda não me tinha apercebido de quão esta escola se estava a fechar sobre si – assunto para futuros testemunhos).

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc. 06, Doc. 24 e Doc. 25); os desenhos eram meus

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