[086] Uma aparente continuidade no dia-a-dia da José Afonso (1994-95)

Memórias

O ano lectivo de 1994-95 pareceu ser, na José Afonso, um ano de «continuidade».

Como consequência da reforma curricular, a primeira grande mobilização das atenções foi a concretização da  Área Escola. Os Conselhos de Turma reuniram nos primeiros dias de Outubro para recolher ideias e para tomar decisões. Uns tantos professores não se quiseram envolver, mas também não levantaram dificuldades; outros dispuseram-se a ajudar; e alguns procuraram levar o mais longe possível as ideias que foram surgindo.
Este não era apenas o panorama do apoio que a Área Escola estava a ter entre os professores, era também assim que as reformas estavam a ser por eles encaradas, atitude que se voltaria a repetir quase uma década depois, quando foi generalizada a reforma seguinte.

No testemunho «084» já referi algumas realizações que resultaram da mobilização dos alunos pela Área Escola. Houve uma outra, de que possuo algumas notas, que foi da iniciativa dos professores de Educação Física, a Marcha de Orientação.

Ela concretizou no dia 21 de Março, em terrenos não construídos situados a Poente do Fogueteiro. Coube-me acompanhar uma equipa do 9º D (terão sido constituídas várias equipas da mesma turma?). Duas das fotografias de que disponho (uma tirada por mim, outra pela Cecília Cumar) reconstituem quem fez parte dessa equipa:


Da esquerda para a direita:
Adilson Évora, Filipa Bento, Bruno Gonçalves, Cecília Cumar, Carlos Lopes e, de costas, Filipe Fernandes

Da esquerda para a direita:
atrás, Tiago Jorge, João Silva, Adilson Évora e Filipe Fernandes:
à frente, Carlos Lopes, Bruno Gonçalves, Vítor Évora, Pedro Esteves e Filipa Bento


Ainda no 1º período lectivo, em 24 de Outubro, antes que as condições meteorológicas se tornassem mais desfavoráveis, o Manuel Lima, professor na Escola Secundária de Corroios (hoje João de Barros), com o apoio organizativo do Ecomuseu Municipal do Seixal, orientou uma marcha pelas falésias da costa atlântica da Península de Setúbal, que designou por Da Praia da Foz ao Cabo Espichel.

Não se tratava de uma iniciativa da José Afonso, e incluía professores de várias escolas das proximidades; mas tinha algo de educacionalmente primaveril, ao não se subordinar ao formiguismo curricular e ao não se encerrar numa única comunidade escolar (participaram professore de várias escolas da região). Por isso, também esta iniciativa parecia evidenciar uma «continuidade» em relação ao espírito renovador que nascera em muitas escolas no ano de 1974.
O grupo de professores da José Afonso que quis respirar o ar fresco desta iniciativa está documentado nestas duas fotografias:

A meio da caminhada, um pequeno descanso
Da esquerda para a direita, Pedro Esteves, Luísa Gracioso, Fernanda Andrade,
Maria do Céu Vigário, João Fernandes e Alice Santos

Já perto do Cabo Espichel, o começo da observação das pegadas de Dinossauros

Os animadores dos projectos da escola parece não terem tido disponibilidade para encarar conjuntamente os seus desafios organizacionais logo no início do ano, pois apenas possuo notas ou documentos referentes a duas reuniões, uma no dia 11 de Janeiro e outra, na Ludoteca, no dia 28 de Abril. Deduzo desses apoios à minha memória que estariam em marcha, ou em gestação, os seguintes projectos:
* Área da Comunicação e Difusão (que incluía a criação de um Centro de Documentação e o prosseguimento do Jornal de Parede, do Jornal «Nova Maré», da Rádio «SOS» e da Televisão «TV3D»), a dinamizar ou já dinamizados pela Alice Santos, pela Célia Pereira, pela Luísa Gracioso e pelo Sérgio Contreiras.
* Clube de Ciências, dinamizado pela Elvira Calapés [este clube estava à procura de uma sala e, por isso, com dificuldade em iniciar trabalhos; e colocava a possibilidade de estabelecer interacções com outros projectos das áreas cirntíficas].
* Clube de Secretariado, dinamizado pelo José Calqueiro, pela Júlia Alagoa e pela Rosalina Severino [destinado ao apoio do tratamento gráfico dos trabalhos dos alunos].
* Desporto Escolar, coordenado pelo João Fernandes [projecto autónomo, com legislação e dinâmicas próprias].
* Grupo de Teatro, ainda a criar (a partir dos alunos que frequentavam um Curso de Expressão Dramática em Almada) e a dinamizar pela Ana Carla Ferreira.
* Intercultura, dinamizado pela Rosário Vilaça [e que previa o intercâmbio com escolas de outras regiões].
* Ludoteca, dinamizada pelo Pedro Esteves, este ano com a colaboração do José Calado e do Manuel Neto (e já referida no testemunho «085») [em contacto com cerca de 40 escolas do país com projectos semelhantes].
* Meteor, dinamizado pela Paula Viegas e pelo Vítor Campos [que colocaram a possibilidade de estabelecer interacções com o Clube de Ciências].
* Ocupação em Férias, dinamizado pela Augusta Cabral (assistente social), pela Fernanda Andrade (psicóloga) e pela Cristina Martins (professora de Educação Física) [o programa destas «férias», elaborado durante o 3º período, começava com um Pique-nique (no dia 10 de Julho), a que se seguiam um Acampamento na Quinta d`Aiana (durante três dias e, de 17 de Julho a 31 de Agosto) e vinte e quatro manhãs (ficando sempre de fora as Sextas-feiras e os fins-de-semana) preenchidas com Artesanato, Canoagem, Cinema, Desporto, Horticultura, Ludoteca e (por 10 vezes!) idas à Praia].
* Sala de Têxteis, dinamizada pela Maria do Céu Vigário [que se queixou de os alunos «difíceis», a que este espaço se destinava, não se mostrarem interessados nele].

A Semana da Escola, concretizada no final do ano lectivo, não deixou marcas nos meus registos, excepto a sessão sobre Magias com Matemática (já referida no testemunho «084»), que usufruiu do trabalho feito com as minhas turmas na Área Escola.


Comentários

As mudanças mais frequentes acontecem quase sem darmos conta do que esteve na sua origem: há pequenas alterações à nossa volta, que se vão juntando e alterando a organização das coisas e da nossa consciência. Por isso, anos depois, espantados, exclamamos: «Ah! Isto antes não era assim ...»

Tenho vindo a acompanhar as alterações que foram sendo provocadas pela reforma curricular da década de 90, conhecida por ser «do Roberto Carneiro». As que destaquei em testemunhos anteriores tinham a ver com a «formação contínua». Neste testemunho chamo a atenção para as consequências da Área Escola. Esta passou a exigir uma atenção muito forte (penso que a foi perdendo nos anos seguintes, ao se rotinizar), o que tanto pode ter sido positivo (mobilização, mais ou menos livre, de grupos de professores), como negativo (tendência para a indiferença, na medida em que exigia esforços de coordenação que nem sempre eram bem-vindos).
Mas o contexto profissional em que ocorreram estas alterações veio reforçar as suas potenciais consequências negativas, dado não ter havido um debate entre os professores acerca do que é a sua profissão nem sobre o tipo de relações que deveriam estabelecer com os seus parceiros educativos.
Este é um tema a desenvolver gradualmente.

Uma parte dos «projectos de escola» ainda estava a tentar encontrar condições para uma longa existência (dinamizadores, infraestruturas, apoios); e cada um deles expressava a iniciativa de um «grupo», ou até de «um só dinamizador»; definitivamente, já não existia (ou nunca existiu) o «ambiente de escola» de que ouvi falar quando cheguei à «Secundária do Seixal».
Este mistério também me levará a regressar a este tema.


Fontes: Pedro Esteves / Arquivador de documentos analógicos ESJA Seis (Doc.s 65, 81, 87 e 108) / Álbuns de fotografias analógicas ESJA Sete (foto de origem não identificada; e F112: 14) e Oito (F115: 4 e 12)

[085] A Ludoteca e o Laboratório de Matemática da José Afonso em 1994-95

Memórias

A separação entre a Ludoteca e o Laboratório de Matemática da José Afonso foi lenta. Durante anos foram uma só entidade situada no mesmo espaço, a Sala de Dinamização Cultural, no Pavilhão D. E em 1994-95 ainda era assim. Mas no final deste ano, quando o Conselho Directivo começou a preparar 1995-96 e me solicitou a apresentação de projectos de trabalho distintos para a «ludoteca» e para o «laboratório», deu-se um passo importante na direcção de cada um destes espaços seguir o seu caminho.
Encabeçando a respectiva folhinha A4 em que redigi cada um desses projectos encontrava-se o logotipo que antecipava essa separação:


A Ludoteca tivera em 1993-94 um ano difícil: a «Sala» foi parcialmente ocupada como Sala de Estudo (apesar do grande número de horas atribuído a professores para a animarem ela foi muito pouco frequentada) e dispôs durante muito pouco tempo do apoio de uma funcionária.
Em 1994-95 a localização da Sala de Estudos foi mudada para a área da Biblioteca e a Dona Emília, que estava na Papelaria, veio trabalhar em exclusivo para a Ludoteca. Tive  uma primeira conversa conversa com ela no dia 22 de Setembro, explicando-lhe como este espaço funcionava e quais as regras de alguns dos seus jogos e quebra-cabeças.

Houve ainda um outro tipo de apoio para a Ludoteca durante este ano. Como havia professores com horas lectivas não atribuídas, dois deles, da disciplina de Educação Tecnológica, por gosto próprio (e com o aval do Conselho Directivo), vieram dar uma ajuda a este espaço. Um deles foi o José Calado. Conversei com ele no dia 28 de Setembro; duas das horas não lectivas que lhe lhe tinham sido atribuídas foram localizadas na 4ª feira à tarde, pensando no apoio à realização dos campeonatos, e outras duas horas foram destinadas à produção de novos materiais, de acordo com o projecto que ele formulasse.

Na primeira tarde de Quarta-feira em que trabalhei na Ludoteca estive por lá durante 4 horas. Durante as três primeiras houve alunos a jogar e comecei a inscrevê-los para os Campeonatos de Escola. Um deles, o José Manuel Silvestre, que participara nas actividades do Verão anterior, solicitou alguns dos jogos que conhecera naquela altura (a Batalha Naval, o Dara, o Scrabble) e ainda experimentou outros.

A partir do dia 12 de Outubro passou a estar afixada, à entrada da Sala de Dinamização Cultural, sob a original identificação desta, uma tira de cartolina com  a palavra «LUDOTECA».
E, pouco a pouco os expositores de cortiça da sala foram organizados e identificados conforme aquilo q ue se destinavam: «JOGOS», «PUZZLES», «NOTÍCIAS e CAMPEONATOS» e «DESTAQUE DA SEMANA». E sobre uma das mesas, à semelhança do que a minha colega Ana Chorincas fizera na Sala de Estudo, foram colocados, à disposição de quem os quisesse consultar, dossiês com informações sobre jogos e quebra-cabeças.

As actividades específicas começaram depois.
A comemoração do Dia Mundial do Xadrez decorreu no dia 21 de Novembro (deveria ser no dia 19, mas, por razão que não registei, foi adiada, talvez por se tratar de um fim-de-semana,). Das 10h30 às 12h30 a Sala esteve bastante animada. Estiveram disponíveis o Maxi e o Minixadrez e eu andei envolvido numa simultânea contra uns 10 a 15 alunos, alguns dos quais por 2 ou 3 vezes; apenas perdi, como era de esperar, contra o José Carlos Lopes.

Os Campeontos de Escola iniciaram-se no dia 30 de Novembro. 56 dos 95 alunos que se haviam inscrito participaram nesta primeira sessão. A Sala esteve cheia, com 20 tabuleiros distribuídos pelas mesas: 6 para Xadrez, 4 para Damas, 4 para Abalone, 4 para Quatro em Linha e 1 para Othelo.
E assim prosseguiram, ao longo do resto do 1º e do 2º período. Os resultados finais foram os seguintes:



No dia  26 de Abril ainda foram realizadas «finalíssimas» (não me recordo da razão pela qual o foram - talvez a intenção tivesse sido a preparação para o Interescolas), sem distinção de escalões. Em Xadrez (8 participantes, todos contra todos, a uma volta), os três primeiros classificados foram o Olavo Sousa, o Anselmo Lourenço e o Peter Sousa. Em Damas (6 participantes, todos contra todos, a duas voltas), o pódio foi constituído por José Silvestre, Pedro Gonçalves e Peter Sousa. E em Quatro em Linha (6 participantes, todos contra todos, a duas voltas), destacaram-se o Emanuel Pedrosa, o João Cabral e o Peter Sousa.

O outro professor de Educação Tecnológica que veio dar apoio à Ludoteca foi o Manuel Neto, penso que com duas horas não lectivas atribuídas. Conversámos no dia 5 de Dezembro.
Se o Calado deu um grande impulso à produção de novos materiais (Soma Cubo, Torre de Hanói, Solitário, Pentaminós; e ainda três magníficos tabuleiros, dois para o Ouri e um para as Damas Chinesas), o Neto deu- em relação à manutenção (envernizamentos) e à recuperação (bases para os tabuleiros de Quatro em Linha) dos materiais existentes e que começavam a precisar de cuidados.

Para a festa de Natal da escola, o Conselho Directivo solicitou o empréstimo de tabuleiros de Quatro em Linha e de Damas e ainda de 2 Soma-Cubo. Penso que se destinaram a entreter os filhos e as filhas dos funcionários e dos professores que participaram no evento.

Para a fabricação de pelo menos um dos tabuleiros de Ouri, o Calado teve a ajuda do aluno Pedro Manuel Gonçalves, do 8º H. O destino inicial deste tabuleiro foi a Sala de Professores, onde ele esteve durrante uma semana, só então seguindo para a Ludoteca.
Aliás, pela Sala de Professores passaram, ao longo do ano, pelo menos o Ouri, o Soma-Cubo, o Solitário, o Isola, o Leopardos e Vacas, a Torre de Hanói e o Abalone.

No ano seguinte, 1995-96, estiveram lá em permanência um tabuleiro de Abalone, um de Damas, um de Quatro em Linha e outro de Xadrez. Alguns professores revelam-se jogadores incondicionais.
Tenho pena de não me recordar do ambiente que esta exuberância de meios lúdicos provocou ...

Talvez devido aos novos exemplares fabricados, os puzzles estiveram em alta na Ludoteca, tendo sido entregues soluções para vários deles, até para o Solitário (tinham sido fabricadas folhas próprias de registo para cada um deles).

Depois de o responsável pela Ludoteca ter perdido o seu primeiro jogo de Abalone contra um dos seus alunos, o Ricardo Barros, este o seu colega de turma Peter Sousa explicaram-me um pouco em que bases assentavam a sua estratégia para jogar este jogo; apenas registei que procuravam construir com as suas bolas uma figura, a que chamavam «rosa», cujos alinhamentos para resistir aos ataques das bolas contrárias só apresentava vulnerabilidades (menos de 3 bolas alinhadas) em dois dos seus extremos:

A «rosa»


Registei as suas explicações, mas nunca tive tempo para discutir com eles outras possíveis soluções, em função da articulação das dinâmicas de «ataque» e «defesa» (deveria se também essa a minha função como coordenador da Ludoteca).
Este património reflexivo era, aliás, extensível a quase todos os outros jogos. Por exemplo, no Quatro em Linha os alunos que eram bons jogadores ganhavam facilmente aos professores inexperientes, pois tinham apurado esquemas mentais de jogo que esses professores não tinham.

A Celeste Ganço, professora na Escola preparatória da Amora, solicitou à Ludoteca da José Afonso (talvez no início do 2º período) o empréstimo de tabuleiros para os seus Campeonatos de Escola: 4 Quatro em Linha, 4 Abalone e 6 Damas.

Algures durante o ano as turmas de Comunicação, no âmbito das suas actividades curriculares, iniciaram a publicitação da Ludoteca (através de um jornal de parede e do jornal «Nova Maré»), prosseguindo-o durante este ano e ainda em 1995-96.

Mas nem tudo correu bem ao longo do ano: a seguir ao Carnaval, a Sala de Dinamização Cultural esteve fechada durante algumas semanas, por falta de funcionários no Pavilhão D, só reabrindo no dia 15 de Maio, após ser colocada uma nova funcionária neste pavilhão (permitindo o regresso da Dª Emília à Ludoteca). A Dª Emília, entrevistada pelo Nova Maré, refere este encerramento como único problema da Ludoteca ao longo deste ano (mas também acrescentou que desejaria ver por lá ainda mais alunos ...)

O Laboratório de Matemática foi crescendo discretamente à sombra da Ludoteca. Aliás, uma parte das actividades desta poderia ser encarada como tendo características laboratoriais (tanto nos jogos como nos quebra-cabeças), como já ficou sugerido acima a propósito do jogo do Abalone.

Este ano a componente laboratorial da Sala de Dinamização Cultural continuou a ser a de «fornecer materiais» a quem deles necessitasse. Foi o caso da Ana Almeida e do João Rodrigues, professores de Matemática na José Afonso, que de vez em quando solicitaram materiais do Laboratório: geoplanos, calculadoras, pavimentações. Foram ainda os casos de outros professores ou professoras que solicitaram materiais para fins privados (mas louvavelmente didácticos): o Soma-Cubo para, durante as férias do Natal, «desenvolver» cognitivamente um filho; alguns sólidos geométricos para, num fim de semana, esclarecer com a filha o que é uma «face», uma «aresta» e um «vértice».

Mas também foram realizadas algumas actividades «laboratoriais» na própria Sala: os alunos de uma Escola Primária, colegas da filha de uma docente da José Afonso, vieram com a sua professora participar numa pequena demonstração de Magias com Matemática, feitas pelo responsável pela Sala (os materiais usados por este foram os produzidos para a apresentação referida no testemunho anterior); e as 100tésimas aulas da Ana Almeida com as suas turmas foram passadas na Sala de Dinamização Cultural.

No final deste ano lectivo, ficou-se a saber que, em 1995-96, a Ana Almeida e a Clorinda Agostinho iriam ter, cada uma, 2 horas não lectivas semanais para trabalharem no Laboratório. Ficaram no ar algumas ideias: o apoio à concretização dos currículos e à Área Escola, os concurso de problemas e a criação de um Clube de Matemática.


Comentários

No blogue «Cosmovivências» (https://cosmovivencias.blogspot.com/ ) já foram publicadas algumas mensagens que ajudam a perceber a ligação entre os jogos e os quebra-cabeças com a experimentação matemática, e portanto com o conceito de Laboratório (pesquisar as etiquetas «jogo» e «quebra-cabeças»).

Em 1994-95 a Sala de Dinamização Cultural da José Afonso talvez tenha atingido o seu grau mais elevado de inclusão na vida da escola (pela diversidade dos apoios que teve; pela variedade dos interessados no que ela proporcionava).
Seria importante estudar estes processos de interligação (que envolvem pessoas, espaços e projectos), para entender o que eles conseguem, e porquê, e o que eles começam a perder, e porquê. Terão de ser os próprios professores a fazer um tal estudo. Por isso me preocupo com estas descrições, por vezes um tanto pormenorizadas (e podê-lo-iam ser ainda mais), por isso continuarei a descrever o que se passou com a «Ludoteca» e o «Laboratório» da José Afonso.


Fontes: Pedro Esteves / Arquivador de documentos analógicos ESJA Seis (Doc.s 65, 66, 76, 98 e 101) / Arquivador digital Tese de Mestrado (ficheiro 4EXPR64) / Pasta do jornal analógico «Nova Maré» (Nº 35)

[084] Um mini-teste, um poema, uma sessão de magias e os comentários finais dos alunos

Memórias e Comentários

Além de diversas observações que ía fazendo ao longo do ano lectivo, destinadas à avaliação dos alunos, também lhes marcava testes regulares e, por vezes, mini-testes, assim designados por serem mais curtos e por apenas focarem aspectos essenciais. Eis um desses mini-testes:


Em baixo, cortado ao ser fotocopiado, estaria «Bom teste!», seguido da minha rubrica

A primeira questão visava o domínio da máquina de calcular e o modo de lidar com as aproximações numéricas.
A segunda juntava dois aspectos da Geometria, a área do círculo e as transformações geométricas.
A terceira apelava à compreensão básica do que é um sistema de equações, ou seja, como determinar o valor de uma incógnita conhecido o valor da outra.
E a quarta questão, sendo também simples, era a menos técnica, pois pretendia resolver um problema que não anda longe daqueles com que, por vezes, tropeçamos no dia-a-dia.

O papel que foi utilizado para imprimir este teste era reciclado, como se vê pela sua cor. É possível que a nova equipa directiva estivesse a tentar poupar algum dinheiro com as fotocópias (não me recordo de ter sido feita outra tentativa semelhante).


Provavelmente como trabalho na disciplina de Português, os alunos do 9º G elaboraram este poema colectivo (não me recordo se foram eles que me deram uma cópia):


Além da técnica de escrita poética, esta malta estava a começar a expressar as suas auto- e hetero-observações. E fazê-lo em conjunto parece-me ter sido uma forma de facilitar que todos se aventurassem a fazê-lo (o número de versos corresponde mais ou menos à dimensão da turma).


Não estou certo de apenas este ano ter começado a trabalhar as Magias com Matemática com as minhas turmas, no âmbito da Área Escola. Mas foi mesmo no final de 1994-95 que foi feita uma apresentação mais ou menos formalizada do que aprendêramos. Devemos ter começado a preparar tudo no 1º período, pois em Fevereiro, na Ludoteca, os «mágicos» começaram os seus treinos.
Além destes, foram ainda criadas «equipas especiais», só com gente do 9º D: a Rita seria a apresentadora; o Diogo, o Pedro e dois dos Ricardos (Borges e Robim) tratariam das luzes e dos sons; a Cecília e a Filipa (Bento) fotografariam; e a publicidade estaria a cargo do Ricardo Borges, da Maria José e da Zélia.
Quanto aos «mágicos», vieram das três turmas, sendo os truques divididos em três grandes sectores: com cartas, com números e com topologia.
O convite dirigido aos professores mostra como essa divisão foi feita:


Segundo as notas que tomei, verificaram-se algumas alterações ao previsto (feitas à última hora?): foram o João Álvaro e o Zenildo quem apresentou o «espectáculo» e dois dos «truques» (o 5º e o 8º da lista acima) foram cancelados.
Couberam-me apresentar duas explicações iniciais: muitos dos «truques» (nomeadamente os que envolviam cartas) provieram do conhecimento que os alunos já tinham deles (ou o das suas famílias); e a ideia de explorar estas «habilidades» resultou mais da intenção de ter o prazer de elas funcionarem e menos da obsessão com as suas ligações à disciplina da Matemática.

Para quem estiver interessado, pode encontrar uma descrição e uma fundamentação de alguns destes truques no blogue Cosmovivências ( https://cosmovivencias.blogspot.com/ ), clicando na coluna da direita, na etiqueta «Magia»


Como estávamos a terminar um ciclo de três anos, decidi  colocar, numa das últimas aulas, um pequeno inquêrito a responder anonimamente. A pergunta que aí fazia era única (embora subdividida em três):
Ao longo do trabalho em comum em Matemática, o teu gosto por esta disciplina alterou-se?
Para melhor, ou para pior?
Porquê?

Só guardei dez das respostas que me deram. Relendo-as, arriscaria dizer que quem as deu (talvez a maioria tivesse tido um passado não muito agradável com esta disciplina) apreciou a insistência do professor para que todos os alunos aprendessem e, sobretudo, o ambiente descontraído / divertido das aulas.



No final do ano lectivo, o 9º C, autodesigando-se “A turma mais «santinha» da escola”, outorgou-me (foi este o verbo que usaram) um diploma de “homenagem” pela “coragem” que tive por os “aturar” e para os “ensinar ao longo deste ano”. Quase trinta anos depois, já tive a oportunidade de dizer a alguns destes alunos que, apesar de terem sido três anos, não foi precisa muita paciência ...


Fontes: Arquivador de documentos analógicos ESJA Seis (Doc.s 22, 25, 26, 27a e 27b)
 

[083] Três turmas vindas do 7º ano e chegadas ao 9º em 1994-95

Memórias

Cada uma das três turmas que acompanhei desde o 7º ano manteve a sua «letra», o «C», o «D» e o «G», embora a sua composição tivesse tido inevitáveis variações.

Eis quem nelas estava no início do ano lectivo de 1994-95:





O meu horário de trabalho continuou a ser-me bastante favorável: tinha reduções para o Laboratório de Matemática e a Ludoteca, na escola, e para o Centro de Formação na minha associação, a APM. E era um horário muito bem arrumadinho.

Eis a sua versão escolar e a correspondente versão familiar ...



Comentário

É raro, no 3º Ciclo, haver turmas com continuidade absoluta de alunos. Em grande parte isso resulta dos alunos que não transitam de ano, o que leva à inevitável recomposição de várias turmas. Mas também acontecem mudanças de alunos que talvez sejam evitáveis. Ao longo do percurso destas três turmas fui deixando de contar com uns alunos e passando a contar com outros, lamentando sempre a perda dos primeiros e fazendo o possível por integrar os segundos num modo de trabalhar a que aqueles que não mudaram já estavam habituados.


Fontes: Arquivador de documentos analógicos ESJA Seis (Doc.s 14, 15, 16a, 16b, 16c)