Memórias
Desde o meu primeiro ano como professor estive em contacto com o imenso mundo que se actua nos bastidores das escolas.Em 1979-80, quando começara a leccionar no Liceu Nacional de Almada (actual Escola Secundária Fernão Mendes Pinto), participei, durante duas semanas, em São Pedro do Muel, num encontro de preparação do lançamento da Educação Recorrente em Portugal. Tinham-me proposto vir a ser um dos professores experimentadores, pelo que, ao longo dos três anos lectivos seguintes (1980-83), leccionei o 2º Ciclo a adultos na Empresa Pública das Águas de Lisboa (EPAL). E, paralelamente, estive fui mantendo o contacto com as estruturas que coordenavam esta experiência, tanto na Direcção-Geral da Educação de Adultos como na própria EPAL.
A posterior passagem pelos Cursos de Formação de Jovens na Siderurgia Nacional, em 1985-87, assemelhou-se, na forma de trabalhar, ao que se passara na EPAL [testemunhos «001» a «005», «007», «011» e «012»]; mas o contacto com a respectiva coordenação foi muito diferente, pois esteve a cargo de gente da empresa que vinha falar directamente com os professores e os alunos. Senti-me muito mais livre para trabalhar deste modo.
O meu gradual envolvimento na Associação de Professores de Matemática (APM) iniciou-se através da participação num ou dois encontros organizados pelo seu Núcleo de Lisboa, ainda antes de, em Almada e Seixal, se ter fundado o respectivo Núcleo [ver testemunho «040»].
Um dos resultados desse contacto surgiu pouco tempo depois (em 1989): o José Paulo Viana, a Odete Bernardes, a Paula Teixeira e eu publicámos, através da APM, um livrinho que intitulámos «mais JOGOS, mais ENIGMAS, mais PROBLEMAS».
Não me recordo das circunstâncias que levaram o José Paulo e eu a fazer parte da redacção da revista da APM, a Educação e Matemática. Era então coordenada pela Leonor Moreira, e dela também faziam parte o António Bernardes, o Eduardo Veloso, o Henrique Guimarães e o Paulo Abrantes.
Estive lá cerca de um ano, aproximadamente coincidente com o ano lectivo de 1989-90.
Foi durante esse tempo que o Henrique e eu escrevemos (para o Nº 24, publicado com a data de Março de 1990) um artigo intitulado: «Que papel para os manuais de Matemática? Uma sondagem junto dos autores.»
Em 1990-91 a minha escola, a Secundária do Seixal, achou que eu aí deveria vir a ser o coordenador do Projecto Vida, que estava a ser preparado, a nível nacional, pela Catalina Pestana. Tinha como finalidade a prevenção em relação as comportamentos de risco dos alunos, como o consumo de droga. O método usado para preparar os coordenadores escolares foi, mais uma vez, um «retiro», desta vez mais curto: três dias (19 a 21 de Março) no Vimeiro, para ouvir preleções sapientes.
Mas não gostei do que ouvi, pelo que, ao regressar, pedi à escola que me substituísse.
Em 1992-93, não me recordo novamente em que circunstâncias, fui desafiado a integrar um Grupo de Trabalho que tinha por objectivo criar o Centro de Formação da APM. Lembro-me de também lá estarem o Albano Silva, a Cristina Loureiro, a Graciosa Veloso e o Paulo Abrantes.
Depois de um processo que passou pela Direcção e pelo Conselho Nacional da associação, o Centro de Formação foi criado, no final do ano lectivo, tendo sido criada uma Comissão Pedagógica onde estavam os membros do Grupo de Trabalho mais a Helena Correia, a Margarida Goulão e a Maria José Oliveira.
Os sócios ficaram a saber da novidade através do boletim «APMinformação» (nº 16, Julho de 1993), onde, por um lado, se fazia uma queixa sobre a “relação estabelecida [na lei] entre formação contínua e progressão na carreira docente” e, por outro, se resumia a aposta feita pela APM como uma ”simbiose entre projectos e formação”.
E, de facto, o Plano de Formação anexo a este boletim reconhecia que “Praticamente toda a actividade da Associação, desde o seu nascimento, tem uma componente de formação (nalguns casos mais informal, noutros mais explícita e organizada)”, pelo que propunha que os seus objectivos fossem os da “formação centrada em projectos”, considerando que um “projecto” tanto seria o “contexto geral no qual se desenvolve uma grande variedade de processos e formas de trabalho” como “uma acção ou intervenção pedagógica, na sala de aula ou na escola, com objectivos definidos, que é planeada, desenvolvida e avaliada de modo cooperativo por um grupo de professores, e na qual eles se envolvem de uma forma interessada e empenhada”, ou seja, não se destina a formandos que sejam «consumidores passivos» nem «correias de transmissão».
A primeira página (de quatro) do Plano de Formação |
Acabei por ficar dois anos (1993-95) na Comissão Pedagógica do Centro de Formação; mas, de novo, não gostei do rumo tomado, e decidi sair.
Talvez por estarmos envolvidos na criação do Centro de Formação, o Albano Silva e eu fomos desafiados a animar sessões práticas para os sócios do Núcleo de Coimbra da APM. Fizemo-lo no dia 29 de Março de 1993. Mas não apreciei muito o trabalho que preparei.
Um mês e meio mais tarde, em 15 e 16 de Maio de 1993, foi realizado o 4º Interescolas de Xadrez do Seixal, organizado pelos mesmos professores que já o haviam feito nas anteriores edições (o Emílio Quaresma, o Francisco Caetano e eu). Desta vez, por proposta da Câmara Municipal, a iniciativa foi integrada nas Xas Seixalíadas Escolares.
Individualmente, o vencedor foi o Ricardo Sousa (ES da Amora), tendo as melhores equipas sido, em sub 20, a ES da Amora; em sub 16, a ES Nº 1 do Seixal; e em sub 12, a EP de Corroios.
Esta iniciativa não voltaria a ser realizada, tendo sido substituída pelos Interescolas de Jogos de Reflexão de Almada e Seixal [testemunho «065»].
Breve balanço destes quatro interescolas:
Comentários
Há várias razões para as escolas precisarem de parceiros educativos a actuar nos seus bastidores: eles organizam, coordenam, apoiam, investigam, constroem, divulgam, etc., etc.. No entanto, também é nos bastidores da Educação que se concentra o poder de decidir, o que os torna espaços particularmente problemáticos.
As minhas passagens por estes espaços, tal como pelos órgãos de administração e gestão da Escola Nº 1 do Seixal (actual José Afonso) foram, por isso, sempre conflituosas. Aprendi aí o que só passando por lá se pode aprender. Mas também discordei, frequentemente, do modo como aí se actuava, em particular devido ao autoconvencimento e aos jogos de poder.
Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico APM Três (Doc. 123) / Arquivador analógico ESJA Cinco (Doc.s 122 e 132)