[049] Julho de 1991: o 1º Encontro Regional de Professores de Matemática

Memórias

Em 1990-91, a primeira actividade do Núcleo da APM em Almada e Seixal cuja data identifiquei foi a Assembleia Geral, ocorrida no dia 15 de Janeiro, na Escola Secundária Anselmo de Andrade.
Os sócios apreciaram o que foi feito em 1989-90; definiram o Plano de Actividades para 1990-91 e elegeram a primeira Comissão Coordenadora (para o biénio de 1990-92): a Ângela Queiroz, a Cristina Fonseca, o Manuel Ribeiro, o Pedro Esteves, a Rita Vieira e a Teresa Nascimento (um grupo com professores do 1º, 2º e 3º Ciclos e do Secundário)

É possível que duas ou três reuniões destinadas a fundamentar propostas de revisão dos Estatutos da APM tenham sido realizadas antes desta Assembleia, durante o 1º período lectivo.

Depois, no dia 17 de Abril, foi concretizada a IIª Final Regional das Pré-Olimpídas de Matemática, na Escola Secundária Emídio Navarro, tendo nela estado envolvidos 57 alunos de 7 Escolas Preparatórias e Secundárias dos dois concelhos.
Eis os problemas que lhes foram propostos:


Ainda em Abril, a equipa que candidatou o projecto AlterMATivas ao 3º Concurso Nacional de Projectos Educar Inovando / Inovar Educando, promovido pelo Instituto de Inovação Educacional [ver testemunho «045»], ampliada com a Teresa Nascimento (da Escola Básica da Cova da Piedade, actual Escola Básica Comandante Conceição e Silva), apresentou ao mesmo concurso um outro projecto, o MATlab – Laboratórios de Matemática: actividades / desafios / recursos.
Partindo da experiência que já tinham, consideraram que o “processo de ensino-aprendizagem da Matemática sofre diversos bloqueamentos”, atribuíveis, entre outras origens, “ao seu encerramento na escola, à rigidez do espaço-tempo a ele dedicado (a aula), e à dificuldade de aproveitamento das explorações espontâneas realizadas pelos alunos.” E era sua convicção a possibilidade de “criar espaços exteriores às aulas, dentro da Escola, capazes de gerar interesse e iniciativa dos jovens em relação à Matemática”, os quais poderiam “favorecer o desenvolvimento de capacidades como a cooperação, o sentido de risco, a elaboração de projectos e estratégias e a definição de valores”, além de contribuir “para o melhoramento da Matemática feita na Escola”.
Com estas intenções, propuseram-se criar e institucionalizar em cada escola “um espaço, a ser utilizado livremente pelos alunos, com condições para a realização de actividades e para a exploração de desafios de carácter matemático (em sentido amplo)”, e que permitisse “a interacção com as actividades curriculares” e “a dinamização e integração de iniciativas a nível das comunidades” em que essas escolas se inseriam.
E, para “dar sentido mais profundo a cada uma das iniciativas tomada isoladamente”, propuseram o conceito de “Laboratório de Matemática, que deve ser aberto (as actividades), aprofundante (os desafios) e estruturante (os recursos).
Metodologicamente, defenderam a “iteratividade processual”, com “mobilização gradual das comunidades escolares e não escolares” e com “obtenção do apoio dos órgãos de gestão das Escolas”, considerando-o um caso de “investigação-acção.
Esperavam os autores, “sobretudo: o enraizamento das práticas de pesquisa matemática em cada Escola; o aligeiramento das fronteiras entre o curricular e o não-curricular; a dinamização das permutas da Escola com o meio circundante; e, finalmente, a institucionalização dos espaços físicos suporte das iniciativas realizadas e dos recursos (humanos e financeiros) nelas investido, de modo a que, globalmente, se desencadeie um processo irreversível.

O Iº Encontro Regional de Professores de Matemática dos concelhos de Almada e Seixal, realizado nos dias 15, 16 e 17 de Julho, em três Escolas Secundárias, respectivamente Nº 1 do Seixal, Anselmo de Andrade e Nº 1 do Laranjeiro, foi organizado pela Filomena Teles e pelo Sérgio Valente, com o apoio dos membros da Comissão Coordenadora.
E foi constituído por cinco Sessões Práticas (quatro relacionadas com projectos que tinham sido implementados durante o ano lectivo e uma sobre o “valor educativo do problema em Matemática”) e ainda permitiu a apresentação do Projecto AlterMATivas. Nenhuma destas sessões se sobrepôs a qualquer outra, pelo que todos puderam participar em todas.
Dois dos projectos apresentados tinham carácter interdisciplinar, um ligando a Física e a Matemática, a propósito dos «movimentos dos corpos» (foi animado pela Cremilde Ribeiro e pela Margarida Junqueira) e o outro ligando a Geografia e a Matemática, dado se referir aos contributos de Eratóstenes e de Pedro Nunes (foi animado por três estagiárias de Matemática, orientadas pela Filomena Teles, a Ana Cristina Neto, a Joana Guerreiro e a Patrícia Cascais).
Um terceiro projecto (a cargo do Sérgio Valente), explorou as novas tecnologias no ensino da Matemática,
E o quarto projecto apresentou os resultados de uma experiência feita com três turmas do 7º ano, de modo a permitir a rotatividade dos alunos entre elas (foram responsáveis por esta apresentação, sendo só uma delas professora de Matemática, a Ana Paula Aguilar, a Palmira Barros e a Rosário Figueiredo).
A Sessão Prática esteve a cargo de dois professores na Faculdade de Ciências e Tecnologia, a Ana Boavida e o José Manuel Matos.
Todas estas sessões dispuseram de tempo para debate, mas as actas não registaram um resumo de todos os debates havidos.
Foram ainda divulgados os espaços extracurriculares da Escola Secundária Anselmo de Andrade e da Escola Secundária Nº 1 do Seixal.
Do «Debate Final» destaco a ideia de nem se poder «exigir militância reformista» a nenhum professor, nem se dever «impedir a militância reformista» dos que a desejarem ter.

Eis uma fotografia que ilustra a apresentação (na Escola Secundária Nº 1 do Seixal) do primeiro dos referidos projectos interdisciplinares:


Da esquerda para a direita, a Cremilde, a Margarida, o Sérgio, o Pampulim e a Filomena


E eis a capa que reuniu os contributos digitalizados deste Iº Encontro Regional (penso que as cópias impressas foram feitas e oferecidas pela Câmara Municipal de Almada):


Alguns tópicos sobre três dos projectos apresentados neste Encontro (retirados destas Actas):

O Sérgio Valente, com o objectivo de produzir software (programas Microcalc e Logo), tinha implementado nas suas turmas do 11º ano (Escola Secundária Anselmo de Andrade) o projecto Novas Tecnologias no Ensino da Matemática, a dois níveis: a) com os alunos, nas aulas; b) com o Pólo do Projecto Minerva da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT). As turmas tinham sido constituídas normalmente e tinham cerca de 30 alunos. A metodologia baseou-se no trabalho de grupo.
No debate que se seguiu à apresentação deste projecto, o Sérgio disse que depois do trabalho no computador fazia sempre um feed-back e que houve professores que pegaram nas suas fichas e as reformularam, o que achou positivo. Lançou ainda a questão sobre se é preferível utilizar apenas um computador na aula, com o professor centrando em si a discussão, mais ou menos aberta, ou se será melhor, havendo mais do que um computador na Sala, deixar mais margem para a experimentação pelos alunos.

A Cristina Neto, a Joana Guerreiro e a Patrícia Cascais (Escola Secundária Anselmo de Andrade) desenvolveram ao longo de 1990-91 um projecto, fora do espaço aula, com os alunos do 8º ano, intitulado A Viagem num Mundo em Transformação (de Eratóstenes a Pedro Nunes).
Não se preocuparam com os conteúdos programáticos, apenas com as “noções” necessárias para a realização do trabalho (“ângulos, triângulos, polígonos, quadriláteros, proporções, semelhança de triângulos, Teorema de Thales”).
No debate que se seguiu à apresentação deste projecto, a Patrícia reconheceu que “foi complicado e levou muito tempo, fins-de-semana, noites, etc.”, apesar de o seu trabalho como professoras ter decorrido “em condições especiais”, “em grupo, com menos turmas”.

Um grupo de 6 professores de Matemática, Português e Francês” (Ana Aguilar, Francisca Angelino, Maria Gardete, Rosário Figueiredo, Palmira Barroso e Regina Caeiro), tendo como “preocupação comum (…) agrupar os alunos e envolvê-los em actividades diversificadas de modo a possibilitar-lhes um acompanhamento mais individualizado, consoante as dificuldades e respeitando os seus ritmos de trabalho” promoveu o projecto Mais uma Proposta para o Sucesso em 3 turmas do 7º ano da Escola Secundária Nº 1 do Laranjeiro (actual Rui Luís Gomes), tendo para tal horários coincidentes naquelas disciplinas, o que lhes permitiu a “rotatividade dos alunos ao longo do ano”.
No debate que se seguiu à apresentação deste projecto, as autoras consideraram que ele “Foi uma aposta contra o cepticismo reinante”, pois pensam que “é necessário inventar, recriar sempre algo de diferente para os nossos alunos.”

E ainda mais algumas notas sobre outros projectos desenvolvidos ao longo deste ano lectivo, também divulgados no Encontro (mas não nas suas Actas):

A Ana Paula Natal (Escola Secundária Anselmo de Andrade) realizou com as suas 2 turmas do 7º ano uma experiência de produção de materiais para o ensino e aprendizagem da Geometria.

A Ana Paula Natal e a Lídia Lourenço criaram o Clube da Matemática na Escola Secundária Anselmo de Andrade, “tendo cada uma 2 horas semanais extra horário lectivo”. Nele foram “construídos materiais de suporte a jogos e puzzles.” Um das horas da Lídia foi “dedicada à resolução de problemas.” E uma das suas alunas, frequentadora do Clube, a Joana, ganhou as Olimpíadas de Matemática, por “mérito da aluna”, mas tendo o Clube “uma importância enorme” na sua “motivação e desenvolvimento do raciocínio matemático”.

Numa reunião dos professores do 1º grupo da Escola Secundária Nº 1 de Corroios (actual Básica de Corroios) foram analisadas as “causas” do “insucesso escolar” em Matemática.
Apontou-se para estarem entre essas causas: o «mito» associado a esta disciplina; as reprovações consecutivas; o excessivo número de alunos por turma; a heterogeneidade de conhecimentos presente na mesma turma; a falta de hábitos de trabalho; a inadaptação dos programas; o não cumprimento destes nos anos anteriores; a falta de tempo para os professores trabalharem em conjunto; e a indisciplina dos alunos.
Foi sugerido, como “estratégias”, o trabalho de motivação, o trabalho de grupo, as aulas de compensação, as verbas para materiais, as turmas mais pequenas e as turmas com alunos com o mesmo nível de conhecimento.
Como consequência, duas professoras redigigiram, no final do ano lectivo, o Projecto da Matemática da Escola Secundária Nº 1 de Corroios, que procura responder àquela análise. Propuzeram-se, nos três anos seguintes, utilizar trabalho de projecto, de pesquisa e de grupo, visitas de estudo, comunicações orais e exposições, jogos educativos, materiais manipuláveis, máquinas de calcular e computadores com alunos, acompanhando-os ao longo do 3º Ciclo de escolaridade, separando para tal os “alunos com sucesso em Matemática” dos “alunos desde sempre desmotivados na Matemática (com repetências sucessivas na disciplina)”, para se poderem concentrar nestes últimos. Visavam desenvolver as suas “capacidades e atitudes”, de modo a que sejam eles a construir o “seu próprio saber”, ao seu “ritmo pessoal” e com “maior confiança em si próprios”.

Foram produzidos diversos tipos de certificados de participação para os 56 participantes neste Encontro (4 eram provenientes dos concelhos da Amadora, Cascais, Oeiras e Sintra; e cerca de um terço animaram sessões de trabalho). Eis um desses certificados, produzido pelo Sérgio Valente:

De notar que a cercadura é constituída pelos primeiros N algarismos do Π

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A distribuição, por escola, dos professores participantes neste Encontro foi a seguinte: 5 professores de 3 Escolas Preparatórias (actualmente Básicas), 46 professores de 15 Escolas Secundárias (com 3º Ciclo e Secundário) e 4 professores da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Dezanove escolas no total!

Fontes:
Pedro Esteves / Álbum de fotografias analógicas 1º Encontro do Núcleo da APM (F102: 13) / Arquivador analógico Núcleo APM Um (Doc.s 4 e 11) / Arquivador digital Tese de mestrado (4EXPR1, 4EXPR7 e 4EXPR16)
Documentos analógicos (1º Encontro Regional da APM)

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