Memórias
Um grupo de professores, entre os quais se incluíam o Alfredo Massapina, a Alice Santos,
a Fátima
Barata e o Sérgio Contreiras, convocou uma reunião destinada
a “discutir as próximas eleições para o C. D.” na Escola Secundária do Seixal,
bem como “o futuro da gestão democrática das escolas”.
A reunião ocorreu na manhã do dia 12 de Maio de 1988 e nela participaram cerca
de 25 professores, o que foi um bom sinal. Houve forte debate acerca das
questões ligadas à «informação», nomeadamente as relacionadas com o «orçamento»
e com o papel de um C. D., tendo eu defendido que não se devia esperar que os
Conselhos Directivos tomassem iniciativas culturais e pedagógicas, pois estas
deviam estar nas mãos da comunidade, e muito menos que preparassem
“a Escola para a mudança” (como foi defendido por um dos candidatos às
eleições locais), pois essa era uma visão muito
“paternalista”.
Na tarde do mesmo dia foi afixada na sala de Professores as seguintes
“propostas de consenso” saídas desta reunião:
“que toda a comunidade escolar participe num
Projecto de Escola”;
“que o futuro C. D. apresente o seu Projecto de
Gestão próprio”; e
“que o perfil dos responsáveis da Escola (C. D. e
outros) passe por:
bom senso;
predisposição;
empatia e capacidade de diálogo.”
Com data de 19 de Maio, o Plano de Acção da Lista A (que era, aliás, lista única) teve esta capa:
Este plano era composto por uma “Introdução” e por dois
capítulos, “A Gestão Democrática – a Reforma do Ensino” e “Aprofundar a vida
democrática na escola e na sua gestão”; foi neste segundo capítulo que estavam
concentrados os contributos relacionados com o quotidiano da escola.
Comentários
Nesta reunião, incentivada pelas eleições para o C. D., participaram
professores com diversas motivações. Além dos que estavam inseridos na lista de
candidatos, haveria quem estivesse preocupado com o aprofundamento da democracia
nas escolas, nomeadamente com a democracia nesta escola, mas também haveria
quem se procurasse perfilar como aliado do futuro poder local. Estava-se a
cavar, muito lentamente, a divisão entre os que pretendiam ser aliados do
«poder do topo» e os que pretendiam fortalecer o «poder da base».
“Gestão pressupõe: interesses (provavelmente diferentes) e recursos (possivelmente não suficientes para todos os interesses).
Mas tratando-se da Gestão de uma Escola, ainda se deve pressupor que as linhas estratégicas do trabalho a realizar sejam: educativas para todos (a linha mais conservadora) e irreverentes perante tudo (a linha mais inovadora).
Os grandes objectivos da Gestão: compatibilizar e optimizar.
A grande opção: esperar que aconteça coisas, para lhes responder, ou não esperar pelos acontecimentos, estimulando desenvolvimentos a partir de sinais favoráveis; organizar o que existe, ou relativizar e autocontrolar a organização que se vai construindo.”
No “Plano de Acção” referido, não há qualquer menção aos professores que se candidatavam como Lista A.
Os riscos verticais que figuram na imagem da capa deste Plano de Acção mostram as limitações técnicas das fotocopiadoras que usávamos naqueles anos.
Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc. 06 e Doc. 26)
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