Houve cinco anos lectivos em que foram abertos cursos da Acção Piloto de Formação de Jovens, tendo a Siderurgia Nacional participado em cada um desses anos. No quadro seguinte está resumido o que sucedeu aos alunos que passaram por esses cinco cursos (nalguns casos, à entrada para o 2º ano, ou para o 3º ano de um dos cursos, o número inicial de alunos foi aumentado ou reduzido devido a razões não escolares):
Desconheço o balanço que o Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho terão feito da generalidade desta Acção Piloto. Mas posso lembrar alguns factos.
Os jovens que se inscreveram nestes cursos, tanto na Siderurgia como nas outras empresas participantes, pertenciam ao largo grupo dos que, antes, se haviam sentido desconfortáveis no «ensino formal». Para podermos perceber o que aí se passava, a percentagem dos alunos que se haviam matriculado no 7º ano do Curso Unificado em 1977-78, em todo o país, e que três anos depois, portanto em 1980-81, tinham concluído o 9º ano, foi de 41,6 %. Portanto, quase 60 % destes alunos inscritos haviam sido retidos pelo menos uma vez ou haviam abandonado os estudos ao longo destes três anos.
É pois difícil aceitar que em centena e meia de jovens que passaram pelos cursos da Siderurgia, quase metade tenha voltado a não ter sucesso, desta vez duplamente: nem na componente «escolar», nem na «profissional».
Esta também parece ter sido a certeza das autoras de um estudo, feito em 1985 para o Instituto de Emprego e Formação Profissional, no qual se queixaram de os “métodos e conteúdos pedagógicos na Área Formativa Comum” da Acção Piloto, elaborados por “técnicos”, não diferirem dos da “escola tradicional”, pelo que, escreveram elas, “podemos considerar que traímos as expectativas dos jovens em relação a esta formação: a maioria deles decidem deixar a Escola porque não a aceitam e vêm encontrar aqui, uma outra, que é a mesma nos seus defeitos e limitações”. E, acrescentaram, “os professores da componente formativa comum”, colocados pelo Ministério da Educação, “não foram sensibilizados, por esta ou por qualquer outra entidade, para as características especiais desta formação e da população a que a mesma se dirige”.
Mas a estas queixas deverão ser acrescentadas outras. A componente «profissional» da Acção Piloto visava formar, na Siderurgia, electricistas, fresadores, serralheiros e torneiros. Mas no inquérito que dirigi aos meus 44 alunos de 1985-86, apenas 16 tinham como preferência a profissão que correspondia ao curso que frequentavam, estando na mente dos restantes 28 uma enorme variedade de alternativas. Adicionalmente, 31 destes alunos disseram que o curso deveria ser diferente: apesar de os seus principais argumentos focarem a falta de raparigas, as férias curtas e a impossibilidade de sair da empresa quando não havia aulas, estes aspectos também contam para o sucesso de um curso destinado a «jovens».
Comentários
Estes alunos ainda não eram adultos, pelo que não terá sido bom que cada um dos cursos em que eles foram envolvidos fosse dirigido a uma única profissão, num ambiente concentracionário de empresa, onde não havia contacto com outros jovens da mesma idade.
Quanto aos professores e aos programas, é de notar que quem tinha a formação escolar a seu cargo dispunha de uma redução do número de horas que leccionava, o que parece ter sido uma aposta na sua criatividade profissional; então, mais importante do que os programas deveria ser o modo como os professores os transformavam, à medida que conheciam os seus alunos e os cursos. Teria pois sido importante, dado o carácter experimental desta Acção Piloto, a existência de contactos regulares entre os professores envolvidos em empresas diferentes: o que parece não ter passado pela cabeça dos responsáveis por estes cursos …
O facto de não se ter pensado num contacto entre professores envolvidos em diferentes empresas, ou até entre os envolvidos, em anos diferentes, na mesma empresa, mostra como a ideia de que o professor trabalha isoladamente era então dominante …
Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Um (Doc. 03, Doc. 04, Doc. 06, Doc. 97, Doc. 98 e Doc. 120)
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