[008] No final dos anos 80: o problema das instalações escolares nos concelhos de Almada e do Seixal

Memórias

No dia 22 de Novembro de 1986 realizou-se, na Escola Secundária Emídio Navarro, um Encontro-Debate
sobre a situação do ensino nos concelhos de Almada e Seixal, organizado pelo Secretariado das Associações de Pais da Almada e Seixal, pelas duas Câmaras Municipais, pelo Sindicato de Professores da Grande Lisboa e pelo Secretariado de Inter-Conselhos Directivos de Almada e Seixal.

A capa do documento final, que registou as diversas intervenções, foi esta:
 

As preocupações expressas nesse Encontro dizem-nos muito sobre as dificuldades daquela época, mas também nos dizem que as escolas estavam atentas e procuravam participar na solução dos problemas que as afligiam. A primeira frase da apresentação deste documento esclarecia que, desde os anos anteriores, as escolas dos Concelhos de Almada e Seixal se defrontavam “com graves dificuldades, nomeadamente carências de instalações e equipamentos.” O que implicava atrasos “no início de sucessivos anos lectivos, com repercussões nas condições de trabalho e aprendizagem, com elevadas taxas de insucesso escolar.” No momento daquele Encontro, bem próximo do final de Novembro, ainda havia 2 500 alunos sem aulas em três das escolas destes dois concelhos.
As escolas estavam conscientes de si, mas também estavam conscientes para além de si: sabiam (assim ficou registado) que o insucesso escolar era um problema grave no país - 24 % no 5º ano; 19 % no 6º ano; 36 % no 7º ano; 34 % no 8º ano; e 32 % no 9º ano – e sabiam que por detrás desse insucesso havia programas desarticulados uns em relação aos outros, desadequados face ao “interesse dos alunos” e à “realidade do mundo actual” e insuficientes, quer como resposta às necessidades de “formação do aluno como pessoa e cidadão interessado, crítico e participativo”, quer como espaço para a manifestação da “individualidade de cada um”.
Ninguém havia decretado que era necessário realizar este Encontro, mas as escolas acharam que era necessário fazê-lo.

Entre os anexos que este documento juntou figuravam várias fotografias que mostravam a degradação a que chegaram as instalações de algumas escolas, como as da Escola Preparatória Vale de Romeira nº 1 (actual Escola Básica 2+3 António Augusto Louro), que viriam a ser incluídas, em 1987-88, nas da Escola Secundária do Seixal (e onde eu iria dar muitas das minhas aulas).
Eis três dessas fotografias, com as legendas originais:




Comentários

Nestes anos havia contactos entre os Conselhos Directivos dos concelhos de Almada e do Seixal, para definição de objectivos comuns e coordenação de esforços. A certa altura o Ministério da Educação fez-se convidar para as reuniões dessa estrutura informal e acabou por criar, inspirado nela, as «Áreas Pedagógicas». As escolas de Almada e Seixal foram agrupadas na Área Pedagógica 12, conhecida por AP12.

Quer o Conselho Directivo, quer a Associação de Pais da Escola Secundária do Seixal estiveram representados no Encontro Debate. No entanto, foi apenas nos finais de Abril de 1987 que eu encontrei na escola, em cima de uma cadeira, como se aí tivessem ficado esquecidos, vários exemplares do «documento final»; achei-o importante e guardei um dos exemplares.

É bem possível que as fotografias das salas degradadas da Escola Preparatória sejam únicas. Existem outras fotografias posteriores do respectivo pavilhão, quando ele já fazia parte da Escola Secundária do Seixal: serão divulgadas mais tarde.

Fonte: Câmara Municipal de Almada, Câmara Municipal do Seixal, Secretariado das Associações de Pais de Almada e Seixal, Secretariado dos Inter-Conselhos Directivos de Almada e Seixal e Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, 1987. Encontro Debate / Situação do ensino em Almada-Seixal / Documento final (citei acima as intervenções de Luísa Beato, Óscar Soares e Rosa Oliveira)

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