[003] As aulas na Siderurgia Nacional

Memórias


As aulas do Curso de Formação de Jovens eram leccionadas no Centro de Formação da Siderurgia Nacional. Este situava-se por detrás do Pavilhão da Siderurgia (primeira fotografia), mas já lá não pode ser visto, pois foi demolido, restando dele apenas as suas fundações (imagem aérea do Google) e o portão de entrada (segunda fotografia):




As disciplinas leccionadas eram as seguintes (os anos do Curso correspondiam, escolarmente, ao 7º, ao 8º e ao 9º):


Apenas me recordo de alguns dos professores que leccionavam as turmas do 2º ano e do 3º ano em 1985-86: o José Augusto (História), o Vítor Campos (Física-Química), o engenheiro Santos Jorge (que talvez tivesse a seu cargo a Tecnologia) e, claro, eu próprio (Matemática).
Todos contávamos, ainda, com o senhor Campos, funcionário da Siderurgia, que cuidava de tudo quanto houvesse a cuidar para que alunos e professores fizessem bem o seu trabalho.

O currículo da Matemática não era muito diferente do escolar. A principal alteração seria a da Trigonometria, antecipada para o 2º ano, devido às aplicações que dela eram feitas na Tecnologia, o que percebi quando, logo no início do ano, o professor desta disciplina me solicitou que a Trigonometria fosse abordada o mais cedo possível. Pelo que este foi o primeiro tema que abordei com as turmas do 2º ano.

Para este tema, tal como para os outros, elaborei uma ficha com informações e problemas, tentando mostrar como a Matemática estava ligada ao quotidiano e às profissões. Mas, para além desta recolha, os alunos, durante as aulas, foram trazendo mais ideias. Eis as notas que tomei sobre a Trigonometria:


Quando abordámos as Homotetias (2º ano), o Fernando Rosa trouxe para a aula um Pantógrafo, um aparelho destinado a fazer ampliações e reduções de figuras. Apesar de incompleto, foi possível utilizá-lo como uma ilustração manipulável do tema em estudo.
Alguns alunos do 3º ano, ao trabalharmos as Potências, exemplificaram-nas com o Número de Avogadro (aproximadamente igual a 6,023 x 1023), que haviam estudado na Física. E, a propósito da Circunferência, lembraram-se do torno, da roda dentada, da secção dos fios eléctricos, da geração de corrente eléctrica por um motor rotativo e do traçado da sinusóide com o apoio de um círculo trigonométrico.

Os testes que me ajudaram a avaliar a aprendizagem destes temas foram «com consulta» (isto é, os alunos podiam consultar as fichas de apoio e os apontamentos que tinham tirado durante as aulas). Parecia-me ser mais importante os alunos saberem «o que fazer» com as informações de que dispunham do que terem-nas na «memória».

Dei 80 aulas às turmas do 2º ano (6 faltas) e 76 às do 3º ano (7 faltas).
As faltas resultaram de uma reunião do Grupo de Matemática, da realização de eleições autárquicas, de uma «ponte» concedida pela Siderurgia, de uma greve da Transtejo, tendo as restantes tido origem na minha utilização do «artigo 4º» (por doença, ou algo semelhante).

Comentários

A localização do Centro de Formação contou com a memória e a fotografia do Jorge Sezinando. E a identificação dos professores contou com a memória do Vítor Campos.
Quem teria leccionado Português? E Inglês? Terá o José Augusto acumulado História e Português?

As fichas temáticas que produzi eram fotocopiadas pela Siderurgia e procuravam compensar a ausência de um livro escolar (para o meu planeamento usei, como apoio, o «M8» e o «M9», da Texto Editora).
Talvez tenha sido na Siderurgia que me comecei a habituar a «criar o meu próprio livro escolar». E também a «recolher e registar ideias», com a intenção de as desenvolver e usar nos anos seguintes.

Na página «Documentos» deste blogue (e, aí, na pasta: «Didáctica da Matemática») coloquei uma versão em PDF da ficha que produzi para o tema «Potências». Será interessante analisar, ao longo de vários anos, os recursos que cada professor mobiliza para implementar o seu estilo de ensino, sobretudo numa época em que esses recursos ainda eram muito escassos.

Na década de 80 e durante parte da década de 90 manuscrevi as minhas fichas e os meus testes, o que, comparativamente a tê-lo feito recorrendo a uma máquina de escrever, me facilitava muito a paginação, nomeadamente para a introdução de tabelas, figuras e desenhos.

Foi pena só ter conhecido alguns anos mais tarde alguns dos professores de Matemática que se tinham envolvido nestes cursos, noutras empresas. Se tivéssemos conversado enquanto estes cursos duraram, teríamos elaborado um currículo menos «escolarizado» do que aquele que o Ministério da Educação nos tinha colocado nas mãos.

A minha dificuldade inicial para localizar o Centro de Formação da Siderurgia, o apoio dado pela memória do Jorge Sezinando e pelas imagens do Google Maps e a descoberta de que, afinal, o Centro havia sido demolido, restando dele apenas as fundações, são uma interessante analogia para o que é «reconstituir o passado»: apesar da articulação de diferentes contributos, grande parte do que «as coisas eram» e do que «aconteceu» já não pode ser recordado.

Fontes: para as «memórias», Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Um (Doc. 4, Doc. 18, Doc. 21, Doc. 41, Doc. 51 e Doc. 68), sendo as duas fotografias de 2021; para os «documentos», Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Um (Doc. 111)

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