[055] O primeiro ano do Projecto MATlab

Memórias

A intuição de que os chamados «materiais manipuláveis» poderiam ser importantes recursos no ensino e aprendizagem da Matemática, e que eles deveriam ser utilizados também em circunstâncias extracurriculares, era comum, desde o princípio, a vários dos animadores do Núcleo Regional da A. P. M.. Foi essa a base que conduziu, em 1990-91, à candidatura do Projecto MATlab ») aos apoios do Instituto de Inovação Educacional / I. I. E. (testemunho «049.
Foi uma aposta ganha: dos 400 projectos que se candidataram, cerca de um terço foram financeiramente apoiados, tendo o MATlab sido aquele que teve o maior apoio: 700 contos! A seguir houve um projecto apoiado com 550 contos, seguido por dois com 500 contos (um deles era o AlterMATivas!).
O I. I. E. colocou o AlterMATivas e o MATlab entre os 26 «Projectos de Rede de Escolas».
Um dos argumentos destas duas equipas (que diferiam em poucos nomes) foi a anexação de bastante «material» já produzido à ficha de candidatura (de facto, tínhamos começado a trabalhar bem antes de pensarmos em procurar apoios financeiros). E o I. I. E. foi sensível a esse facto, pois, na apresentação destes dois projectos (editou um livro em que refere todos os que foram apoiados em 1991-92), mostrou alguns desses materiais.
Eis como:




Embora a equipa inicial do MATlab dissesse apenas respeito a 6 escolas, com o tempo esse número foi-se alargando, dado o interesse de muitos outros professores.
Na reunião realizada no dia 20 de Setembro de 1991 foi feito um primeiro levantamento dos apoios dado em cada uma das 6 escolas inicialmente envolvidas neste projecto:


As reuniões da equipa sucederam-se, aproximadamente, ao ritmo de uma por mês.
Na reunião realizada no dia 9 de Abril de 1992 soube-se que tinha sido fechado o espaço na Emídio Navarro, que tinha sido aberto um numa nova escola, a Básica de Corroios (dinamizado por 7 professores!) e que se estava a preparar a abertura em duas outras novas escolas, a Secundária da Cova da Piedade (actual António Gedeão) e a Secundária Nº 1 de Corroios (actual João de Barros):
Nessa reunião foram ainda colocadas algumas “questões de fundo”:

deveríamos utilizar estes espaços de modo “aberto” (tipo Ludoteca), ou de modo “fechado” (tipo Clube)?

deveríamos proporcionar neles somente actividades de “iniciação”, ou acrescentar-lhes actividades que “levem mais longe”?

e cada escola deveria preocupar-se apenas consigo, ou também com iniciativas inter-escolas?

É claro que estas questões, inicialmente, podiam ser respondidas de ambos os modos; mas, com o tempo, seria natural que apenas a primeira questão assim se mantivesse, enquanto as outras duas tenderiam a ser respondidas do modo mais exigente.
Para ilustrar como os primeiros passos deste projecto ainda nos deixavam muitas hesitações, nesta reunião nada se decidiu sobre quando começar a concretizar a ideia central do MATlab, o Laboratório de Matemática (de que falarei num próximo testemunho): o José Tomás dava-lhe prioridade imediata e a Rita Vieira achava que podíamos esperar pelo próximo ano lectivo.

No final do 1º ano deste projecto o Relatório enviado para o I. I. E. incluiu algumas observações interessantes:

os alunos “mais velhos” pouco se interessaram pelas actividades promovidas nas suas escolas, contrariamente aos mais novos (sobretudo os das turmas dos professores envolvidos no projecto, chegando ao ponto de fazer “propostas de actividades” (darei exemplos, num dos próximos testemunhos);

foram elaboradas os primeiros materiais destinados aos Laboratórios de Matemática, com a intenção de poderem servir de apoio às actividades curriculares;

e, resumindo bem o que fora este primeiro ano: “É fácil pôr os jovens a jogar, torna-se mais difícil criar situações em que não é só o «jogo pelo jogo» (onde se percebe como se joga e porquê, etc.); mas, mais difícil é aprender fazendo e experimentando, formular hipóteses, testá-las e depois tirar conclusões.

Foram muitos os materiais produzidos ou adquiridos neste primeiro ano (Textos; Desafios; Quebra-cabeças; Jogos; etc.), mas, de um modo quase geral, de uma forma um tanto dispersa.
O único material que ficou definitivamente pronto foi um conjunto de várias dezenas de Labirintos, provenientes de vários autores, quase todos disponibilizados pela Rita. Foram deles feitas cópias para todas as escolas; e aí fotocopiados e distribuídos aos alunos interessados nos espaços.

Comentários

Sentiu-se a dada altura do MATlab a necessidade de definir um logótipo que figurasse nas fichas que iam sendo elaboradas. Numa das reuniões apresentei diversas possibilidades:



Foi escolhido o símbolo situado mais baixo, à esquerda.

À medida que voltei a folhear os documentos a que tenho acesso relativos a 1991-92, com a finalidade de produzir este testemunho, fui aí deparando com muitas lacunas nos registos que tinha previsto fazer (por comparação, por exemplo, com o que fizera em 1990-91), o que me impossibilitou de perceber como tinham sido produzidos muitos dos materiais do MATlab (e do AlterMATivas), e até de ter um registo completo do que foi feito, quer no projecto, quer na Sala de Dinamização Cultural da minha escola (de que eu era responsável).
Este «choque» chamou-me a atenção para um fenómeno que eu memorizara com tendo ocorrido somente uns anos mais tarde, quando os «projectos inter-escolas» envolvendo professores do Núcleo Regional da A. P. M. já tinham terminado: percebi que a «falta de tempo» para fazer as coisas «com tempo» começou logo no segundo ano lectivo em que estes projectos foram implementados (devido a acumularmos, quase nas mesmas pessoas, dois projectos interescolas!).
A nossa generosidade seria muito, mas não as nossas capacidades. Isto viria a ter fortes impactos no futuro do nosso trabalho em conjunto.

O conceito de Laboratório de Matemática (que abordarei noutro testemunho) foi surgindo na equipa do MATlab à medida que começámos a imaginar como a Matemática pode ser aprendida de um modo parcialmente experimental. O José Tomás sugeriu o nome (que já fora usado e depois desaparecera) e alguns de nós começaram a juntar material que já haviam produzido de modo a transformá-lo em material do projecto comum. Um deles, sobre o «Cálculo de Π», foi usado durante este ano nas aulas de alguns dos que leccionavam o 8º ano.
Repito, mais uma vez: as actividades extracurriculares estabeleciam pontes com as actividades curriculares.

Fontes:
Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Quatro (Doc.s 160, 171 e 175)
Instituto de Inovação Educacional / Livro (1995)

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