Reflexão
Retomando a inquietação subjacente ao testemunho «021»: valerá a pena voltar a recordar as mesmas coisas, a pensá-las, a falar sobre elas?Estou certo que sim: na permanente dialéctica entre o agir e o reflectir, a que ninguém escapa, há alturas em que sentimos não ser suficiente a «reflexão» que se sucede à «acção» e que antecede uma nova «acção»; então, se dispomos de tempo e de condições para o fazer, procedemos àquilo a que podemos chamar, com toda a propriedade, uma «investigação».
É o que tento mostrar através do seguinte esquema, no qual se deve ter em conta que o «tempo» corre da esquerda para a direita:
Como traduzirei eu este esquema para o caso deste blogue, o «Aprendizagens»?
O «blogue», tal como o «livro» e a «tese» que refiro na mensagem «050», referem-se a um mesmo percurso profissional, que associou a passagem por diversas escolas e pelo Núcleo Regional da Associação de Professores de Matemática; e a posterior escrita do «livro» teve como contexto, e a do «blogue» ainda tem, o projecto «Pontes na Educação» (este teve o seu próprio blogue, agora inactivo, visitável em https://pontesnossabanda.blogspot.com/ ).
A investigação da qual resultou a tese de mestrado foi impulsionada pela minha vontade de compreender o que o grupo de professores de Matemática reunido em torno do Núcleo Regional conseguira fazer (em 1989-96), tendo sido concretizada numa altura em que o Núcleo ainda estava activo (só deixou de o estar em 2003). As reflexões individuais e colectivas de que dispunha não eram sentidas como suficientes, foi necessário pesquisar mais profundamente.
Por outro lado, o livro não se restringe nem àquele período, nem ao Núcleo, mas resultou da mesma vontade de compreender: não sendo uma «investigação», é, di-lo-ia assim, uma «reflexão de longo prazo».
E este blogue?
A motivação continua a ser a mesma: compreender. A maior parte dos testemunhos publicados é constituída pela apresentação de «memórias», umas pessoais, outras documentais, sendo reservado alguma espaço para «comentários» que, por vezes, são novas reflexões.
O que se me está a tornar evidente após 50 testemunhos publicados no primeiro ano é o seguinte: há temas já abordados com potencial para aprofundar o que foi escrito tanto na minha tese como no meu livro, ou que não foram aí referidos, e que agora recordo, penso e descrevo com dados mais detalhados - os documentais.
Então, pergunto, poderá este blogue ser a matriz de mini «estudos de caso» (uma metodologia usada na investigação), não se limitando à divulgação e a umas tantas reflexões?
Penso que sim. E dou alguns exemplos, sugeridos pelos primeiros 50 testemunhos:
u o caso das turmas da Siderurgia Nacional em 1985-87;
u a evolução do sucesso escolar nas turmas do 3º Ciclo que conheci;
u o papel dos percursos iniciais de alguns professores ligados ao Núcleo Regional;
u os Concursos de Problemas de Matemática na Escola Secundária José Afonso;
u as iniciativas e os projectos do Núcleo Regional da APM;
u os Inter-escolas de Jogos em Almada e Seixal;
Então, o papel deste blogue será o de divulgar memórias e de reflectir um pouco sobre elas, podendo, de vez em quando, para alguns temas, proceder a um mini-estudo de caso:
Uma questão que se me coloca há muito tempo e que é importante para qualquer grupo (ou profissão): quando é que uma investigação se torna «de um grupo» (ou «de uma profissão»), em vez de ser «sobre um grupo» (ou «sobre uma profissão»)?
Responderia, para já, com cinco pistas (a ir aprofundando):
u o «investigador» deve fazer parte do grupo;
u o «objectivo» da investigação deve algo relacionado com o próprio grupo;
u as «questões» colocadas devem surgir do próprio grupo;
u as «referências» teóricas devem tender para ser as do grupo ou as de grupos semelhantes;
u das «metodologias», que são mais ou menos universais, apenas se podem esperar variantes típicas de cada grupo.
Fontes: Livros (Esteves, 1998; Esteves, 2023)
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