Este foi o terceiro e último dos anos lectivos do projecto AlterMATivas [testemunho «063»]. Quer para o planeamento, quer para a sua avaliação e divulgação foram necessárias, apenas durante este ano, 58 horas de reunião, qualquer coisa parecida com 6 horas por mês.
Os professores envolvidos no AlterMATivas ainda tiveram um gesto de solidariedade para com os seus colegas com turmas do 5º e do 7º (a generalização da reforma curricular tinha aí chegado, e também ao 2º ano de escolaridade). Já com dois anos de experiência na implementação de mudanças curriculares, eles criaram um Grupo de Trabalho para o 5º e o 7º anos (houve algumas divergências internas sobre como o organizar) onde apresentaram ideias sobre a didáctica e sobre o uso das calculadoras (a sua utilização tinha começado a ser recomendada) e onde promoveram o debate sobre as experimentações que iam sendo feitas nas escolas dos participantes. Foram concretizadas 9 dessas sessões, com um total de 30 horas, tendo participado em pelo menos uma delas 76 professores de 25 escolas do 2º e do 3º Ciclos (25 estavam especialmente interessados no 5º ano, 44 no 7º e os restantes não estavam, nesse ano lectivo, ligados a estes níveis de ensino). O número médio de sessões em que estes professores participaram situou-se entre as 2 e as 3, não tendo ficado claro se eles se mobilizaram em função da sua adaptação à reforma curricular, se em função de aproveitarem a oportunidade proporcionada por ela para se desenvolverem pessoal e profissionalmente.
Na reunião de 8 de Outubro, na Escola Preparatória do Feijó, foi referido, durante a troca de impressões, que havia restrições orçamentais de todo o tipo nas escolas (por exemplo, faltava dinheiro para fotocópias) e que a participação dos alunos nas aulas tinha trazido novos desafios (como orientar a exuberância da sua participação? como trabalhar com os vários modelos de calculadoras trazidas pelos alunos?).
Sim, a palavra “exuberância” deve ter sido dita nessa reunião, ou fui eu que a usei para resumir o que ouvia, pois a escrevi nos meus apontamentos – os novos métodos de ensino-aprendizagem traziam, pelo menos onde eles eram bem usados, a “exuberância” da participação dos alunos!
À semelhança do feito por este Grupo de Trabalho, também alguns professores da Escola Secundária Anselmo de Andrade promoveram uma acção de formação sobre Estatística, em que participaram 20 professores de 15 Escolas Secundárias de Almada e Seixal.
Não faltaram gestos de solidariedade entre professores!
Paralelamente ao AlterMATivas, o projecto MATlab [testemunho «065»] alargou-se a 8 Escolas de Almada-Seixal (em cada uma tinha sido criado um espaço extracurricular associado à Matemática), estando nelas envolvidos, com alguma regularidade, 12 professores (alguns deles, os da Preparatória de Corroios e da Secundária Nº 1 de Corroios, tinham formalizado uma colaboração, designando-a por LudoMAT).
As reuniões (foram realizadas duas em cada período lectivo) serviram sobretudo para experimentar as situações laboratoriais que mais tarde seriam propostas aos alunos. Mas no final do ano lectivo serviram também para organizar o 1º Interescolas de Jogos de Reflexão, no qual, além dos 70 alunos [testemunho «065»], participaram mais de uma dúzia de professores (ou seja, mais do que os membros docentes do MATlab).
Foram também alguns destes professores que organizaram a visita a Almada e ao Seixal da exposição «A Aventura no País da Matemática», que esteve, de 11 a 16 de Janeiro, na Escola Secundária do Fogueteiro (actual Manuel Cargaleiro) e, de 18 a 28 de Janeiro, na Casa Municipal da Juventude de Almada (situada em Cacilhas), tendo recebido cerca de 1800 visitantes.
E foram também estes professores que, depois, organizaram um encontro sobre Jogos, também na Casa Municipal da Juventude de Almada, em que participaram 15 professores de 11 escolas:
Capa do folheto sobre a exposição, concebida e
elaborada por um grupo de professores das
Em Abril, houve ainda coragem, por
parte de um grupo de 22 professores de 13 escolas de Almada e Seixal, para redigirem
e candidatarem o projecto InterMAT aos concursos de projectos lançado anualmente
pelo Instituto de Inovação Educacional (o «Educar Inovando / Inovar Educando»).
Considerando, como problema de partida, existir um “contexto
local marcado por iniciativas inovadoras, no âmbito da Educação Matemática”,
com “um grau de organização” entre as escolas
envolvidas “já apreciável”, que começara, no
entanto, a sofrer a “pressão” dispersante da
formação contínua, estes professores perguntaram-se: “como
conciliar a necessidade de garantir meios e esforços de autonomia e
criatividade a cada um dos professores, com as vantagens do aprofundamento das
ligações, das realizações comuns e das estruturas de coordenação?”
E, para isso, propunham-se, criar “uma rede de apoios aos projectos e outras
intervenções nas escolas”, quer ao nível “lectivo dos anos da Reforma Curricular”, quer ao nível das “actividades extracurriculares”, procurando “alargar o número de escolas e professores envolvidos”,
nomeadamente através:
(1) da criação de “espaços”
em que se possa: debater os resultados das diversas “experiências”;
reflectir sobre o “trabalho realizado”; preparar
e “coordenar intervenções individuais e comuns”;
e enriquecer a “formação através de contribuições
internas e externas”;
(2) do apoio, “em ideias
e materiais, às iniciativas de professores em escolas que não tenham
meios para tal”;
(3) das “Realizações
comuns, destinadas a alunos ou a
professores, com o papel prático e simbólico de unificação de iniciativas
individuais e de alargamento a outros intervenientes”;
(4) da “Valorização, através de divulgação e publicação dos resultados de
cada um dos projectos e intervenções“;
(5) da “Distribuição
larga de responsabilidades das
anteriores iniciativas entre os autores do projecto.“
No resumo do projecto, os autores queixam-se dos “centros
de formação locais”, por não terem perspectivado “nenhum apoio imediato à formação baseada em projecto”
e por não terem incluído nos seus Planos de Formação nada “que diga respeito ao ensino da Matemática, mesmo que em
termos de cursos.”
Era um projecto muito ambicioso, mas tinha um horizonte curto: um só ano
(1993-94).
Eis as escolas que se envolveram (designadas tal como naquela época) e os
respectivos professores:
Escola C+S
da Costa da Caparica (Helena Mesquita)
Escola Preparatória de Corroios (Fernanda
Coelho; Gastão Cristelo)
Escola
Preparatória da Cova da Piedade (Teresa Nascimento)
Escola
Secundária Anselmo de Andrade (Ângela Queiroz; Cristina Fonseca; Filomena
Teles; Isabel Barrau; Lurdes Alves)
Escola
Secundária António Gedeão (José Camejo)
Escola
Secundária de Corroios Nº 1 (Mirita Sousa)
Escola
Secundária Emídio Navarro (Ana Mota; Rita Vieira)
Escola
Secundária Fernão Mendes Pinto (Isabel Amaro; Isabel Fernandes;
Paula Marques; Rosário Almeida)
Escola
Secundária do Laranjeiro Nº 1 (José Tomás Gomes)
Escola
Secundária do Laranjeiro Nº 2 (Patrícia Cascais)
Escola
Secundária do Monte da Caparica (Dora Almeida)
Escola
Secundária do Seixal Nº 1 (Pedro Esteves)
Faculdade de
Ciências e Tecnologia, Pólo Minerva (Margarida Junqueira)
O 3º Encontro
Regional de Professores de Matemática foi realizado durante 3 dias, em
Julho, na Escola Secundária Nº 2 do Laranjeiro (actual (Francisco Simões),
tendo a participação de 63 professores.
Foram 12 os responsáveis pelas intervenções (4 do
Ensino Superior), todos de Matemática.
O Encontro começou com um debate sobre o primeiro ano da reforma curricular no 2º Ciclo,
no 3º Ciclo e no Secundário. E, numa das sessões práticas, dinamizada pelos
autores do MATlab, intitulada “O jogo: que motivações?”, perguntou-se aos participantes
como encaravam a vocação dos novos espaços associados a este projecto: se
seriam para “O jogo pelo jogo”, se para “Clube de jogos” ou “Forum
de actividades”, se para “Grupos de
investigação”, ou se não seriam necessários, pois os jogos só deveriam
ser usados “na aula”.
Para apoiar toda esta actividade, a Comissão Coordenadora do Núcleo editou
quatro números do Boletim Informativo.
Comentários
O que mais me impressiona hoje ao relembrar a actividade desenvolvida em torno
do Núcleo da APM são as ligações entre as escolas. Estavam longe de abranger
«todos os professores de Matemática» dos concelhos de Almada e do Seixal», mas
abrangiam muitos. Trocavam-se ideias, materiais e comentários; faziam-se coisas
em comum (e o AlterMATivas, o MATlab e o InterMAT, mais os Encontros Anuais,
foram disso os exemplos maiores).
A pergunta sobre o que aconteceu depois (ou seja, porque desapareceu este
espírito de solidarieade?) tem de ser feita desde já. Que razões externas se
irão detectar? E que razões internas?
Posso começar por lançar um primeiro olhar às razões internas, através de uma
reapreciação do InterMAT.
A sua ambição tinha total fundamento: o projecto traduzia a experiência comum
de um pequeno grupo de professores que leccionava na mesma região, e que estava
a sentir que a recente obrigatoriedade da «formação contínua» podia dissolver
em individualismos a intervenção colectiva que já tinha sido conseguida. A
criação de Centros de Formação iria questionar a «formação» que acontecia
directamente durante a concretização dos diversos projectos, de escola ou
interescolas? Não iria a obrigatoriedade da «formação» separar esta da «acção»
e da «investigação»?
Esta dúvida era legítima, e quando escrevi as minhas impressões sobre o ProfMAT
de Viseu (testemunho «062») devo tê-lo sentido (a APM já tinha organizado a
«investigação», organizava agora a «formação», mas não pensara em organizar a
«acção» dos projectos; enquanto instituição, a APM não sentiu o surgimento
deste problema).
Eu fui um dos autores do InterMAT, pelo que qualquer observação crítica que
faça agora a este projecto é-me também dirigida.
Penso que um projecto destes deveria ter sido equacionada a médio prazo, e não
para um só ano lectivo. Penso também que ele deveria ter sido mais contido tanto
no que respeita aos professores e escolas a envolver (exagerou claramente nas
expectativas) como à metodologia de trabalho (deslizou, em vários pontos, para
previsões típicas da Engenharia). Faltou-lhe, certamente, uma compreensão mais
profunda do que era necessário consolidar (a cooperação entre alguns) e do que
era preciso precaver (o início do retrocesso da maioria) e porquê (as manobras
em larga escala vindas do topo do sistema educativo).
Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico Núcleo Um (Doc.s 19 e 21) / Arquivador
analógico ESJA Quatro (Doc. 1) / Arquivador analógico ESJA Cinco (Doc. 80 e 110)
/ Caixa com materiais do Núcleo Regional da APM (Actas do 3º Encontro)
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