[046] A Sala de Dinamização Cultural na Escola Secundária Nº 1 do Seixal, em 1990-91

Memórias

Quem entrasse na Sala de Dinamização Cultural durante este ano lectivo teria boas hipóteses de a ver tal como estas fotografias mostram (elas foram tiradas no dia 23 de Abril de 1991):

Vista geral

O Celestino Carmo e o Rui Oliveira jogando ao «Isola»

A Dona Mariana, responsável pela Sala

De certo modo, este foi um ano semelhante ao anterior, mas talvez mais intenso, e com mais ideias a surgirem.

Em 19 de Novembro, tal como em anos anteriores, foi comemorado o Dia Mundial do Xadrez:

As anunciadas «2 versões bizarras» eram o Mini-Xadrez e o Maxi-Xadrez

O 3º Torneio de Xadrez foi separado em três: o de sub-20 e sub-18, conjuntamente; o de sub-16; e o de sub-14. No final do 2º período os dois primeiros tinham terminados, destacando-se neles, só com vitórias, o Mário Barros e o José Carlos Lopes.
Eis os respectivos resultados:


O torneio sub-14 só foi concluído no 3º período, tendo o Rui Neves vencido todos os seus jogos (o José Manuel, que disputava o seu primeiro torneio, ficou em segundo, só tendo cedido um ponto frente ao vencedor do torneio):


Não tiveram grande êxito as tentativas de retomar a Oficina de Materiais com a participação dos alunos. Uma delas consistiu no seguinte folheto publicitário (os colegas de Mecanotecnia devem ter garantido previamente que arranjariam velhas peças para o efeito):


Mas, durante o ano, foi sendo equilibrada a relação entre os materiais produzidos e as respectivas fichas de apoio (ainda escritas à mão). A Sala passou a dispor de vários Quebra-cabeças (o Circuito Fechado, os Pentaminós, o Prisioneiro, o Seis Cores, o Soma-Cubo e o Tangram) e de ainda mais Jogos (a Batalha Naval, o Boxe, as Damas, o Isola, o Jogo de Black, o Jogo do L, o Policia e Ladrão, o Teeko, o Xadrez, o Maxi-Xadrez e o Mini-Xadrez).
Eis uma parte destes materiais, todos produzidos na escola (usando, sobretudo, placas de vinil), à excepto o quebra-cabeças Prisioneiro (que foi adquirido):


Quebra-cabeças

Jogos de reflexão

Alguns professores mostraram ter percebido a importância destes materiais: uma colega (teria sido a Dulce Oliveira?) pediu que lhe fossem dadas sugestões de «jogos» interessantes para os tempos livres da escola da sua filha; e o Armando Pina ofereceu à Sala um tabuleiro e peças de Xadrez executados em madeira e cortiça.

E um raro Jornal de Turma, o do 8º C, designado Expressivamente Escrevendo e coordenado por Arlinda, Ana Maria, Isabel Nunes e José Fanica, divulgou uma entrevista conduzida pelos alunos Hugo e Bruno que dá uma ideia sobre o que se fazia na Sala de Dinamização Cultural:


Comentários

Na página «Documentos» do blogue «Cosmovivências»  (https://cosmovivencias.blogspot.com/  ) estão acessíveis as regras de muitos dos quebra-cabeças e jogos referidos acima.

A Sala de Dinamização Cultural estava a desdobrar-se em várias frentes, sendo a mais visível a da Ludoteca. Também se realizavam nela eventos relacionados com a sua dimensão lúdica; e foi nela que se abrigou (por um ano) o Clube de Francês. Mas foi a acumulação que se começou a fazer nesta Sala dos materiais relacionados com a didáctica da Matemática que levou a que, durante este ano lectivo, surgisse a ideia de ainda aí incluir um Laboratório de Matemática.
A estratégia para tal seria interessante: realizava-se uma exposição no final do ano lectivo, integrando-a nas comemorações do 25º aniversário da escola, e o que para tal se produzisse seria o património com que o Laboratório depois arrancaria.
Segundo o plano que chegou a ser esboçado para essa exposição, esta seria do tipo «interactivo» (como hoje todos os museus de ciência fazem), aberta às comunidades escolar e educativa, e teria uma componente oficinal, onde seria possível produzir réplicas dos materiais que estivessem acessíveis aos visitantes, destinando-os a outras escolas. E o seu conceito educacional poderia ser traduzido deste modo (muito antes de os reformistas da educação começarem a falar em «flexibilidade curricular» 
e em «articulação do curricular com o extracurricular» …): “Como futuro Laboratório, é de realçar a filosofia pedagógica activa que se pretende concretizar: o espaço aula, em transformação, deve ser apoiado por outros espaços que tornem o processo de ensino-aprendizagem mais maleável aos ritmos e aos interesses de cada um.
Eis os conteúdos para essa exposição que este plano recenseou:



Houve, infelizmente, trabalho em demasia; pelo que esta exposição nunca foi realizada.


Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Três (Doc.s 106, 108, 111, 118, 119, 122, 130, 147 e 161) / Arquivador digital Tese de mestrado (4EXPR64) / Álbum de fotografias analógicas ESJA Três (F101: 11, 12, 33, 34 e 35)

[045] O 1º ano do Projecto AlterMATivas (1990-91)

Memórias

Entre Junho e Setembro de 1990, um grupo de professores de Matemática ligados ao Núcleo de Almada e Seixal da Associação de Professores de Matemática decidiu avançar com um projecto comum de leccionação, primeiro ao 7º ano, no ano seguinte, nas mesmas turmas, ao 8º ano, e por fim, ainda nas mesmas turmas, ao 9º ano.
Participaram na primeira reunião a Filomena Teles, o José Tomás, a Palmira Barroso, o Pedro Esteves e a Rita Vieira. Na segunda reunião juntaram-se a este grupo a Ana Paula Natal e a Lídia Lourenço. E em Setembro o grupo ficou completo com a Cristina Fonseca.
Em conjunto, estes oito professores iriam leccionar 15 turmas do 7º ano, em 6 escolas secundárias: Anselmo de Andrade; Cacilhas (actual Cacilhas-Tejo); Emídio Navarro; Nº 1 do Laranjeiro (actual Rui Luís Gomes); Nº 2 do Laranjeiro (actual Francisco Simões); e Nº 1 do Seixal (actual José Afonso).
No seu primeiro documento público, «Projecto de abordagem ao programa do 7º ano unificado» (elaborado pelo José Tomás), afirmaram pretender “estabelecer pontes com a reforma curricular”, que estava em vias de se generalizar, apoiando-se em “algumas experiências ultimamente levadas a cabo” (caso do projecto MAT
789) e nas “preocupações” recentemente expressas “no âmbito da matemática” e que se podem resumir na convicção de que “a aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento de atitudes, o desenvolvimento de capacidades, pressupõem uma atitude activa do aluno na construção do seu «saber», experimentando, conjecturando, formalizando, abordando os problemas sob diferentes pontos de vista.
Este projecto já tinha estado em gestação entre alguns destes professores, ao longo de 1989-90; e o renovado grupo dos seus autores decidiu designá-lo por AlterMATivas.

Enquanto se começava a trabalhar, o «Projecto de abordagem» foi enviado, em cada escola, ao Conselho Directivo e ao Delegado do Grupo de Matemática, sendo solicitado que fosse aprovado pelo Conselho Pedagógico.

Ao longo de 1990-91, em reuniões plenárias (aproximadamente uma por semana, quase sempre na Anselmo de Andrade, a seguir ao jantar), preparou-se a intervenção pedagógica e organizou-se a generalidade do trabalho.
O que mais ficou na memória foi a elaboração das «fichas» que iriam orientar o trabalho dos alunos. Elas eram propostas e discutidas numa reunião e, logo que estabilizadas, um dos membros da equipa ficava responsável pela elaboração das respectivas versões digitais (tudo era gravado em «disquete». Depois cada ficha voltava ao plenário, onde podia ser de novo modificada.

A primeira «ficha» a entrar numa sala de aula, elaborada pelo José Tomás e pela Rita Vieira, foi o «inquérito aos alunos». Depois seguiu-se uma ficha para iniciar o trabalho sobre «números», elaborada pela Rita:


Entre os alunos das minhas três turmas (ver testemunho «032»), a ficha que teve maior sucesso foi lançada logo a seguir, tendo sido inspirada nos mesmos autores da ficha elaborada pela Rita. Transcrevo o seu desafio:

Utilizando as quatro operações elementares e parêntesis, assim como quatro (e só quatro) vezes o algarismo 3, obtém expressões que representam cada um dos números naturais de 1 a 10, por exemplo:
3 x (3 + 3) -3 = 15.


Penso que usámos uma só aula para abordar este desafio, mas o principal trabalho acabou por ser feito, voluntariamente, em casa. Aí, quase todos os meus alunos participaram com novas soluções (há mais do que uma para cada número), tendo a Jeovata Dayves acrescentado, como graça, uma solução para o 0 (3 + 3 – 3 – 3).
Só que as coisas não ficaram pela primeira vaga de soluções caseiras: espontaneamente, alguns alunos decidiram generalizar o desafio, substituindo o 3, por, 1, por 2, por 4, etc., até 9. Não encontraram soluções para todos os casos, mas encontraram para muitos, começando mesmo a explorar os limites desta «brincadeira» (qual o número maior que é possível obter; quais os números que é sempre possível obter; etc.).
Registei quatro heroínas desta pesquisa: a Sílvia Medeiros, a Eunice Janeiro, a Natalina Veiga e a Sandra Silva, cada qual com dezenas de soluções!

Ao longo deste primeiro ano do AlterMATivas foram produzidas 32 fichas de trabalho para os alunos, sendo algumas actualizações de versões produzidas por um dos membros da equipa no ano anterior, como foi o caso da ficha sobre o «Hex da Multiplicação» (ver o testemunho «038»), um jogo destinado a estimular o uso do cálculo mental.

A Sala de Dinamização Cultural procurou apoiar este projecto, através dos materiais que lá foram disponibilizadoss (casos do «Hex da Multiplicação» e do «Hex da Divisão») e, por sugestão de alguns alunos (nomeadamente do Albano Serôdio), também através da afixação dos desafios mais interessantes, para que outros alunos pudessem participar (o sucesso não foi grande).

Em diferentes reuniões semanais foram abordadas outras questões, quer sobre o trabalho realizado com os alunos, quer sobre as ambições do projecto:
Como trabalhar ao longo do ano as capacidades dos alunos que exigem um desenvolvimento de longa duração?
Como fazer chegar as ideias do projecto aos grupos de Matemática de cada Escola envolvida? a outras Escolas da AP12? a outras Escolas, ou colegas, e à APM? e aos colegas de outras disciplinas, com quem deveremos mais frequentemente dialogar?
De que inspirações teóricas dispúnhamos? (foi elaborada uma lista!)

E, em Abril, a equipa decidiu concorrer ao 3º Concurso Nacional de Projectos Educar Inovando / Inovar Educando, promovido pelo Instituto de Inovação Educacional:
A designação do projecto foi alterada para AlterMATivas - Alternativas no ensino-aprendizagem da Matemática.
Explicou-se que o horizonte temporal era de dois anos, de modo a prosseguir, com as mesmas turmas, o trabalho já realizado no 7º ano.
Definiu-se, como problema de partida, a contradição entre a “rigidez” do espaço-aula e a necessidade que estes professores nela sentiam para corresponder a situações de aprendizagem muito variadas.
Estabeleceram-se três objectivos: (1º) a produção de “materiais estruturados” para o ensino-aprendizagem da Matemática no 3º Ciclo; (2º) a “maior iniciativa [dos professores em relação à] transformação da sua própria profissão”; e (3º) o desenvolvimento de “capacidades” e a criação de “motivação” nos alunos, como resultado de estes estarem no “centro de criação do saber”.
E a metodologia escolhida foi a da “investigação-acção, com mecanismos de correcção dos materiais experimentados numa primeira fase, com confronto entre experiências de diferentes professores e escolas, com mobilização faseada do respectivo grupo disciplinar, com questionamento progressivo das Escolas em relação à assumpção dos projectos que constituem os seus Planos de actividades, com solicitação de apoio dos seus orgãos de gestão e com gradual libertação dos alunos (em trabalho plurianual) para a redifinição das práticas que se desenvolvem no interior da aula.”
A formulação foi muito ousada!

Comentários

A Ana Paula Natal decidiu sair deste projecto no início do 2º período, por preferir trabalhar de acordo com as suas próprias opções.

É possível que a equipa do AlterMATivas tenha andado demasiado absorvida pelo intensíssimo desafio de preparar materiais didácticos, o que implicou ter descurado a apreciação das respostas ao inquérito dirigido aos alunos no início do ano (as escolas envolvidas no projecto eram muito diferentes, podendo os alunos precisar de formas de trabalhar bastante diferenciadas). E também é possível que, no final do ano lectivo, devido à preparação do 1º Encontro Regional de Professores de Matemática, tenha sido essa a razão pela qual a equipa não comparou os resultados escolares finais dos alunos nas diversas escolas (também pode ter havido algum pudor em querer olhar para os resultados do trabalho efectuado pelos colegas, uma forma de lhes dizermos que confiávamos neles).

Dispondo apenas dos resultados escolares das minhas três turmas, que posso hoje dizer sobre eles?

De todos os alunos matriculados nestas turmas, 62 alunos foram avaliados pelo menos uma vez, tendo 10 sido, algures no 2º ou no 3º período lectivo, excluídos por faltas, e os outros 52 terminado o ano escolar. A percentagem da «exclusão por faltas» entre estes 62 alunos foi um pouco superior a 16 %.
Dos 52 alunos que terminaram o ano lectivo e, portanto foram avaliados no final do 3º período, 11 foram reprovados; a percentagem de «reprovação» entre estes 52 foi um pouco superior a 21 %.
Assim, o «insucesso escolar» (igual à soma da «exclusão por faltas» mais a «reprovação», ou seja, 21 alunos em 62) foi quase igual a 34 %.

Houve ainda diversos outros alunos que se inscreveram e que nunca apareceram, ou que apareceram apenas numa ou noutra aula, tendo alguns deles, a dada altura, declarado «anular a matrícula»; e outros nem isso fizeram. Não se pode dizer que tiveram «insucesso escolar», pois o 3ª Ciclo ainda não era obrigatório em 1990-91.

O que aconteceu na disciplina de Matemática aos 52 alunos que terminaram o ano lectivo não foi brilhante: reprovaram 13 alunos, ou seja 25 %, acima dos 21 % de reprovações verificados nas três turmas.
Houve, além da Matemática, pelo menos mais duas disciplinas que contribuíram com um insucesso acima dos 21 %, as Ciências da Natureza e o Português. Entre os 11 alunos que reprovaram o ano, 7 reprovaram a Matemática, todos a Ciências e 8 reprovaram a Português.

A distribuição dos níveis finais atribuídos por estas três disciplinas proporciona uma ideia mais ampla acerca dos resultados do trabalho feito por estas três disciplinas:

Além de alguma perplexidade acerca do que se terá passado com a disciplina das Ciências, esta tabela mostra ter havido uma grande semelhança entre os resultados escolares a Matemática e a Português, com uma só diferença relevante: a distribuição dos níveis «3» e «4» foi mais generosa no caso da Matemática.

Estes dados sobre os resultados escolares no final do 1º ano do projecto AlterMATivas na minha escola antecipam o que viria a ser a conclusão tirada pelos professores que nele estiveram envolvidos nas várias escolas, após os três anos que ele durou: continuavam a existir bastantes «negativas», surgiam melhorias nos «níveis médios» e talvez não se sentissem melhorias nos «níveis mais elevados».

Mas porquê o sucesso tão limitado deste projecto, pergunto-me eu hoje?

A principal pista para responder a esta questão apoia-se na minha convicção de haver alunos que necessitam de conteúdos, de ambientes e de formas de trabalho muito diferentes para aprender. Como as turmas são constituídas por uma mistura dessas diferenças e como a escola se organiza por turmas, os alunos agrupados em cada turma são obrigados a aprender segundo um mesmo estilo pedagógico, pelo que haverá quase sempre alunos que não se sentem suficientemente motivados por ele.
Por exemplo, as fichas de trabalho que a equipa de projecto desenvolveu visavam a «experimentação matemática» dentro da sala de aula (ou em casa), por vezes com o auxílio de uma calculadora, sendo os resultados registados sempre numa folha de papel; isso pode ser adequado para alunos que gostam de um tipo de trabalho mais prático, e frequentemente divertido; em ambiente fechado; mas outros alunos podem precisar de ambientes mais abertos, onde o que se passa no mundo se mistura com aquilo que a escola lhes pretende trazer. A filosofia pedagógica do MUED, uma associação alemã de professores de Matemática, é essa: estabelecer ligações entre a Matemática e a Realidade através das implicações dos Alunos em relação a ambas, de modo a que a sua autonomia pessoal e a sua responsabilidade social se desenvolvam.

Parece admissível colocar a hipótese de a equipa do projecto AlterMATivas não ter arriscado o suficiente para além das ideias interessantes, mas demasiado fechadas na Matemática, que inspiraram uma boa parte da sua estratégia de trabalho com os alunos. Para ajudar a pensar nesta hipótese, pode ser inspirador pensar na seguinte afirmação do filósofo das ciências, Karl Popper: “a nossa pedagogia consiste em sobrecarregar as crianças com respostas, sem que elas tenham colocado questões, e às perguntas que fazem não se presta atenção”.



Fontes:
Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Três (Doc.s 1, 9, 11, 18, 99, 100 e 101) / Livro (2023; pp. 24 e 161-162)
Livro: Popper, em diálogo com Lorenz (1990)

[044] Os 10 anos do jornal «Nova Maré»

Memórias

Em 1990-91 o Nova Maré, jornal editado na Escola Secundária do Seixal / José Afonso, atingiu a sua primeira década de vida. Eis uma imagem eloquente do modo como esse aniversário foi recordado no seu Nº 27, saído no final do ano lectivo:


Recordava-se, aqui, vários dos seus momentos mais interessantes do passado, onde se mostra focado na escola, na comunidade envolvente da escola, nos problemas dos jovens e navida nacional, em particular a vida artística.
Pelo trabalho já acumulado, o «Nova Maré» estava de parabéns.

Comentários

Passados tantos anos, é interessante olhar para a aventura deste jornal e, sem lhe tirar o mérito do que conseguiu, lhe colocar algumas questões – até porque elas devem ser postas a propósito de todos os projectos que ocorreram e ocorrem nesta e noutras escolas: se não as colocarmos, corremos o risco de mitificar o passado e de o tentar repetir, mitificado, no futuro.

Uma dessas questões resulta da observação do ritmo de publicação do jornal.
Nos quatro primeiros anos do Nova Maré (1981-85), sendo director o António Matos, foram publicados 23 números. Como só disponho de 3 desses números, apenas posso fazer algumas conjecturas sobre o seu ritmo de publicação.
Ele parece ter sido muito forte no início e radicalmente retraído nos últimos anos deste período: o Nº 18 foi publicado no início de 1983-84 e o Nº 21 no final desse mesmo ano. E só disponho do Nº 23 para o ano de 1984-85, pois o Nº 24 já foi publicado no início de 1986-87, tendo já como directora a Alice Santos (que manteve este papel até ao encerramento do jornal, em 2004-05).
Então, nos seus primeiros dois anos (1981-83) terão sido publicados, no máximo, 17 números; no terceiro ano terão sido publicados, no mínimo, 4 ou 5 números; no quarto ano ou foi publicado 1 ou foram publicados 2 números; e no quinto ano (1985-86) nenhum.
Nas duas décadas seguintes (1986-2005) foram publicados mais 20 números (média de «1 jornal por ano»), havendo anos com mais de um jornal (2 números em 1993-94, 1994-95 e 2000-01; e 3 números, em 1991-92) e anos sem qualquer jornal (1997-98, 2002-02 e 2003-04).
O que se deve perguntar, tal como para tantos outros projectos que começam fortes, depois estabilizam durante anos e a dada altura desaparecem, é o que se pretende com eles (se a intensidade, se a calma) e as condições de que precisam para se manter como desejam e são desejados.

Outra das questões resulta das observações que o João Louro fizera sobre este jornal: não seria mais interessando termos um «jornal de escola», reflexo de «todos os seus projectos», em vez de um jornal de apenas algumas turmas?
Ao reler, agora, alguns dos textos publicados no «Nova Maré» deparei, no editorial do Nº 24, com uma frase que muito me agradou e que me pareceu pretender traduzir o espírito subjacente à actividade dos colaboradores no jornal:

Nós não queremos ficar aqui fechados dentro destes muros.
Não queremos só aprender e ensinar o b-á-bá das ciências e das letras e das artes.
Tudo isso tem que ser transformado, actualizado, posto em prática no confronto com o quotidiano que se desenrola lá fora.


Esta era uma afirmação axial, característica de uma pedagogia aberta, que também podia ser afirmada pela própria escola, não apenas pelo jornal, embora fosse mais difícil que uma escola, com a variedade de docentes que tem, a adoptasse em uníssono.
Mas também era uma afirmação que se podia encaixar, sem qualquer atrito, nas orientações que sucessivas equipas no Ministério da Educação havia enviado para as escolas, sob a designação, entre outras que foram experimentadas, de «ligação ao Meio».
No entanto, tendo este jornal deixado de ser «de escola», por opção (ver testemunho «030»), e não tendo a escola uma filosofia pedagógica comum, a pedagogia aberta em que o Nova Maré se pretendeu fundamentar passou a dizer exclusivamente respeito à sua equipa de redactores, podendo também dizê-lo a outros membros da comunidade escolar, se lhes fosse favorável o vai-e-vem entre o que se «faz», o que se «divulga» o que se «publica».
Sem uma análise da circulação de conteúdos publicados, e sobretudo sem uma análise das dinâmicas da escola, não é possível responder à questão colocada pelo João Louro. Mas, antes de voltar a ela em testemunho futuro, acrescento a quantificação do total publicado até ao final de 1990-91: o «volume» publicado por cada número do jornal nos seus primeiros anos (medido pelo seu número de páginas, e tendo em conta que as folhas sempre foram da mesma dimensão) não variou muito, uma média de 14 páginas nos 3 números mais antigos que possuo e de 17,5 páginas nos 4 números mais recentes.

Fontes: Pedro Esteves / jornal Nova Maré (Nº 24 e 27)