[038] A Escola Secundária Nº 1 do Seixal em 1989-90: alguns balanços

Memórias e Comentários

A colaboração entre várias disciplinas na Sala de Dinamização Cultural, tal como prevista no projecto de Clube Galileu de Ciências, não se concretizou. Mas duas das suas facetas começaram a articular-se, a de «Ludoteca» e a de «Laboratório de Matemática». Sob o ponto de vista da «articulação», pode ter sido pena que estas duas facetas se tenham fisicamente separado nos anos seguintes, pois cada uma passou a ter um «espaço» próprio.

Um exemplo de articulação, entre «Jogo» e «Matemática», é o da seguinte ficha de actividade para alunos, o HEX da MULTIPLICAÇÃO, fabricada durante este ano e disponível desde então nesta Sala (foram fabricadas outras e todas elas divulgados junto de colegas de Matemática da margem Sul e da margem Norte do Tejo):


E um outro exemplo, baseado na articulação de «Quebra-cabeças» e «Matemática», foi o do CIRCUITO FECHADO (de que falarei noutra ocasião), que teve um grande sucesso no 2º e 3º período deste ano. As soluções apresentadas pelos alunos eram afixadas num expositor da Sala. E o Nuno Palhinhas construiu um exemplar em cartolina e começou a fazer experiências em casa, para determinar o circuito mais longo (este era o «desafio» complementar do Circuito Fechado).

No final do ano lectivo elaborei uma estatística à prática do XADREZ, contando com «treinos» e campeonatos internos e inter-escolas. Ela dá uma ideia de quem e quão intensamente praticava esta modalidade (não estão aqui incluídas as inúmeras partidas jogadas nos intervalos e noutras ocasiões):


Não me recordo das razões pelas quais não se desenvolveu na Sala de Dinamização Cultural a colaboração com a Biologia, a Física-Química e a Geografia no âmbito do Clube Galileu de Ciência. Mas lembro-me que Francês (salvo erro) quis aí ter um armário, e ele lá esteve durante dois ou três anos. E lembro-me também de ter desafiado a equipa do jornal Nova Maré a partilhar a Sala e de nunca me ter sido respondido que «não queriam».
Pelo menos no ano lectivo anterior e neste ano eu tinha colaborado com o jornal da escola. Estive várias vezes em casa do Sérgio Contreiras e da Alice Santos, depois de jantar, onde pegava nas colunas com os diversos artigos já «batidos» (na máquina de escrever), as recortava, para experimentar diversas paginações, até que conseguia uma solução; que, depois de aceite, colava numa folha, com um spray (descobri mais tarde que aquilo me fazia cair as pestanas); e assim ficava pronta mais uma página do jornal.
Mas eu não sentia que o jornal fosse «da escola», sendo sim «do curso de jornalismo», pelo que acabei por me desinteressar desta colaboração (o João Louro, que, no âmbito da candidatura à Escola Cultural, propusera que o Nova Maré fosse o elo de ligação entre toda a actividade da escola, fez-me, um dia, um comentário lamentando que as coisas não tivessem seguido na direcção que ele imaginara).

Os tempos em que havia «colaboração» nesta escola, segundo o que ouvia dizer a alguns que nela trabalhavam há mais tempo do que eu, estavam mesmo a transformar-se em tempos de «individualização». Por quê?

Depois dos dois anos em que estive no Conselho Directivo, e de mais estes dois anos como delegado do Grupo de Matemática e como membro do Conselho Pedagógico, o meu interesse em experimentar as potencialidades transformadoras dos «cargos» tinha sido radicalmente reduzido. Aprendera imenso sobre a escola, propusera diversas intervenções «a partir de cima», mas muito pouco ou mesmo nada resultou desse esforço.

No caso do Grupo de Matemática, eu os meus colegas apenas tiveram tempo, no final do ano, para nos pronunciarmos sobre o cargo de delegado (deveria ser rotativo; e o Olímpio Pereira auto-propôs-se e foi aceite por unanimidade para os próximos dois anos); sobre as regras a ter em conta na elaboração dos horários dos docentes e na constituição de turmas (os alunos repetentes deveriam ser colocados em turmas de não repetentes, sem os tornar aí maioritários); e sobre a falta de uma sala de trabalho para o grupo. Não surgiram alternativas para o patrono da Escola; e não foi debatido o que poderia vir a ser o «projecto para o grupo».

No caso do Conselho Pedagógico, a síntese do ano lectivo feita na reunião de 20 de Junho da Secção Pedagógica foi: “Pedagogicamente este ano correu mal: a Escola não assumiu nenhuma iniciativa própria (nem sequer a nível embrionário) […]; o M.E. e a D.R.E.L. agravaram as condições do nosso trabalho.” Não me recordo se esta conclusão foi partilhada, se apenas foi a «minha síntese» (é a única frase que tenho escrita sobre esta reunião).

Na reunião plenária do Conselho Pedagógico, no dia 11 de Julho, os participantes foram informados de que o insucesso escolar em 1989-90 fora de 22,3 % no 7º ano; de 23,2 % no 8º ano; de 23,5 % no 9º ano. E o CD não apresentou o balanço orçamental que prometera (e que, no princípio do ano, um dos membros do Conselho Administrativo - e futuro presidente do Conselho Directivo - achara «evidente» dever ser apresentado).

Ao confrontar estas percentagens do insucesso escolar com as das minhas turmas concluí que o Conselho Directivo as calculara a partir dos alunos que haviam sido avaliados no final do 3º período, ou seja: os alunos que haviam abandonado a escola durante o ano, ou perdido o ano por faltas, não eram considerados como tendo insucesso.

Eis as contas que fiz às minhas três turmas do 7º ano: desde o início do ano tive 78 alunos que participaram em pelo menos uma aula e que depois não foram transferidos para outra turma ou outra escola (houve mais do que um nestas condições); desses 78 alunos, apenas 45 transitaram para o 8º ano; dos outros, 14 não obtiveram classificação suficiente para transitar e 19 abandonaram a escola (ou por faltas, ou anulando a matrícula).

Nestas minhas três turmas do 7º ano, a percentagem de «insucesso sem contar com os abandonos» é muito próxima da percentagem calculada pela escola, pelo que deve ter sido este o modo de cálculo usado.

Não é indiferente calcular o «insucesso» de um ou de outro modo. Num caso, chama-se a atenção para a importância dos «abandonos» e no outro estes são encarados como se a escola lhes fosse indiferente.
Segundo a Lei 46 / 86, a Lei de Bases do Sistema Educativo [testemunho «006»], os alunos que entraram no 1º ano em 1987-88 passaram a ter 9 anos de escolaridade obrigatória; mas os alunos que tinham estado este ano lectivo no 7º ano tinham entrado na escolaridade antes de 1987-88, estando obrigados apenas à escolaridade de 6 anos (os que estavam obrigados aos 9 anos só chegariam ao 7º ano em 1993-94).
Se uma escola com 3º Ciclo se baseasse apenas na «lei», não se sentiria obrigada a pensar nos alunos que a abandonavam. Mas muitas famílias estavam a interessar-se cada vez mais pelo prosseguimento da escolarização dos jovens, desde há pelo menos duas décadas, isto é, mais ou menos desde que esta escola havia sido fundada. No seguinte gráfico, que abrange 30 anos de acesso ao Pré-escolar, ao Básico e ao Secundário, é possível visualizar aquilo a que tecnicamente se chama taxa real de escolarização (escolhi os seus valores de 5 em 5 anos):





Olhando apenas para o 3º Ciclo e para o final da década de 1980 (colunas roxa mais à direita), conclui-se que mais de metade dos jovens que poderiam estar inscritos neste nível de escolaridade o estavam a fazer (apesar de a isso não serem obrigados); as escolas deveriam, pois, preocupar-se com o fenómeno do «abandono». E este Conselho Pedagógico não se preocupara com isso no final deste ano lectivo; e também não retirara qualquer ilação da alta taxa de insucesso que as turmas do 3º Ciclo tinham tido (cerca de 1 em cada 4 alunos «reprovara»).

Como teria sido encarado o «sucesso», nesta e noutras escolas, nos tempos em que o «acesso» à escolaridade começara a crescer?

Algures no final do ano lectivo foi eleito um novo Conselho Directivo, que entrou em funções no dia 15 de Julho. Tal como para o biénio anterior, não houve concorrência, a única lista era composta por: Luís Carlos Carvalho, Manuela Vieira, José Calqueiro, Ana Chorincas e Rosário Leocádio.

Fontes: Pedro Esteves / Arquivador analógico ESJA Dois (Doc.s 62, 71, 87 e 104); Livro (Esteves, 2023; p. 39)

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